domingo, janeiro 30, 2011

Ver, sentir


Ao assistir hoje a Síndromes e um século (2006), de Apichatpong Weerasethakul (vulgo Joe), eu fiquei emocionada em três sentidos. Primeiro quanto às suas elocubrações a respeito da transmigração das almas, ou mesmo de um eterno retorno, que surgem como questões que perpassam dilemas de seus personagens, e jamais se configuram como respostas fáceis a dilemas sobre o mundo. Tocou-me o relato que o monge faz sobre um sonho em que finda se transformando numa galinha, como também fiquei impressionada com a cena em que um médico diz que um monge parece deveras com seu falecido irmão, que morreu após ele obrigá-lo a ter coragem de subir numa árvore, e revela ao monge que chega a achar que ele seria a reencarnação do irmão. A identificação foi certa pelo fato de até hoje eu ter experiências muito intensas com o sobrenatural em sonhos, bem como por ter ouvido na adolescência sons que aparentemente eram produzidos por fantasmas. Em outro sentido, eu não sei lidar com a morte - e quem sabe? Chocou-me a cena em que uma mulher afirma que os obstetras lidam com a vida, os oncologistas com a morte, e os hematologistas com a dor. O câncer é uma doença que me assusta e muito - não sem motivo, perdi dois parentes queridos, e me assombra também a possibilidade de ter tal doença um dia. E não sei porque eu me lembrei de Hiroshima mon amour (1959), Alain Resnais, na cena em que uma mulher pede ao seu amante para que se transfira para outra unidade médica, que ela considera mais "moderna". E enxerguei nas fotos do hospital em construção lembranças dos escombros de Hiroshima que aparecem nas imagens de Hiroshima mon amour... Acho que esse filme mexeu muito mais com meu lado irracional do que com o que há de racional em mim! Mas a imagem que me marcou mesmo deste filme foi a do eclipse... Lembrei que certa vez vi um filme que se passa na Idade Média, em que um homem iria provar que tinha poderes sobrenaturais afirmando que taparia o sol - mas ele já sabia que naquela data haveria o eclipse. Não lembro qual é o filme, não tenho sequer uma imagem marcante desse filme, mas o rememorei lá no fundo da lembrança numa centelha de imagem fugaz...

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