terça-feira, janeiro 04, 2011

Palavras esdrúxulas

Pode não ter sido uma carta de amor, muito mais um desabafo tempos depois, de dizer o que eu um dia quis dizer e calei, mas não deixou de ser ridículo. E é nessa hora que o heterônimo Álvaro de Campos, minha alma gêmea, fala por mim:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

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