terça-feira, novembro 21, 2017

The fall



Um homem bonito, inteligente, sedutor, psicólogo, pai de família e... serial killer que mata mulheres com um mesmo perfil: elas têm cerca de 30 anos e apresentam uma boa carreira profissional. Comecei hoje a ver The fall hoje. Assisti a três episódios e gostei muito. Algumas cenas me chamaram a atenção: a montagem entre as imagens de Paul (o assassino) observando uma vítima dormindo, então ouve-se um grito que conduz a outra cena - é a filha dele tendo mais um de seus episódios de terror noturno. A associação inusitada entre a figura do psicopata e a do pai de família se dá através da intuição da criança e é fabricada pela montagem, como na cena em que Paul lava com afeto os cabelos da filha e, paralelamente, surgem imagens do cadáver de uma vítima que está sendo examinado - a vitima de quem ele havia retirado alguns fios de cabelo como lembrança do crime. Paul tem o costume de entrar na casa de suas vítimas e deixar índices de sua passagem para elas, índices que aparecem para as personagens como sinais sombrios. Ele cria a sua narrativa que se repete e também a sua encenação feita para que ele seja um espectador de si mesmo. Numa cena, ele se posiciona pouco atrás de outra vitima que está próxima ao espelho e se regozija vendo a própria silhueta refletida, aterrorizante. Depois vai embora, pensando em retornar outro dia. O gozo do serial killer é o voyeurismo, o poder, a imagem. Como diz a detetive Stella Gibson no momento em que cria o perfil do assassino junto com sua equipe: "ele criou a sua própria pornografia".

quarta-feira, novembro 08, 2017

O pássaro das plumas de cristal (1970), Dario Argento


Um serial killer (um homem? Uma mulher? apenas uma pessoa?) mata mulheres com golpes de faca e canivete. A sua primeira vítima teria sido atacada logo após vender um quadro que representava um homem vestindo uma capa preta e esfaqueando uma mulher numa praça. Essa imagem é a obsessão do assassino. E se torna também a obsessão de um jornalista americano, Sam Dalmas, que, numa viagem à Itália, acaba sendo surpreendido ao ver um homem vestindo capa preta golpear uma mulher numa galeria – o cenário é composto por esculturas monstruosas, a trilha apresenta uivos de lobos, variações do ponto de escuta entre o interior da galeria e o exterior, onde Sam observa tudo através do vidro e preso entre dois portões, tornam a cena angustiante. No decorrer da investigação, o inspetor pede para que Sam rememore a cena. Ele diz que não consegue se lembrar de mais nada. No entanto, a cena se repete em vários momentos do filme sob o ponto de vista de Sam, trazendo novos enquadramentos, zooms, congelamento da imagem, como se as imagens fossem a expressão do inconsciente de Sam (agora consciente), como se fossem o exercício da busca por um inconsciente óptico do narrador numa temporalidade da cena estendida (quem sabe infinita). O pássaro das plumas de cristal (1970), de Dario Argento – que tem esse nome numa alusão ao ruído das plumas de cristal de um pássaro típico da Sibéria que aparecia nas gravações com ameaças às vítimas- joga com a identificação com a vítima e o algoz de modo bastante ambíguo, e transforma a imagem da cena do trauma que se repete infinitamente no próprio centro da narrativa e do estilo.