quinta-feira, dezembro 30, 2010

Crítica da internet - parte 2

Em tempos de muita exposição, é possível observar que existe de um modo geral um excessivo culto à felicidade, como também à sua outra face: a tristeza. De um lado, há internautas que afirmam estar constantemente muito tristes, e do outro pessoas que querem aparentar ter uma vida perfeita.

Já vi um blog em que uma garota colocou uma foto de uma mulher com os pulsos cortados num post em que dizia que iria se suicidar muito em breve. A garota curtia Doom metal, modalidade do metal que mescla o canto lírico ao vocal gutural entoando canções depressivas e que envolvem temas etéreos. Era possível notar um forte instinto de morte, masoquismo e certo repúdio pela vida.

Enquanto pessoas como essa garota tecem um elogio à tristeza, há também aqueles que vivem a postar fotos em que estão sentados na beira da praia, ou imagens de uma família feliz, insistem em colocar sempre fotografias em que estão rodeados de dezenas de amigos para simular uma popularidade, e juntam a isso dizeres clichê com definições sobre o que é ser feliz e lá lá lá. Vendo assim, até parece que essas pessoas nunca tiveram problemas, nunca ficam tristes, mas na real isso me parece uma big big farsa.

Mas afinal, o que querem aqueles que acreditam que a vida é feita de extremos: ou se é super hiper feliz ou se afunda na depressão? O que existe são valores totalmente adversos situados numa mesma sociedade que prega que temos que ter o corpo perfeito, o marido (ou esposa) perfeito (a), enfim, a família perfeita, uma carreira promissora e, o mais importante: muito dinheiro no bolso.

Uns aderem a esses valores e querem mostrar a todo custo que estão bem inseridos na sociedade. Outros vêem no culto à tristeza uma forma de rebeldia diante de uma sociedade consumista e moralista. Mas, no fim das contas, para ambos os lados o capitalismo produz os seus produtos: seja a música emo, seja o revéillon em Miami. Também existe a versão alternativa dos pseudo-felizes, que andam saltitantes com suas roupas hippies compradas no shopping e adoram dizer que amam todo mundo, insistindo em colocar fotos da sua felicidade no orkut com legendas contendo letras de Novos Baianos (e não, eles nunca, em nenhum momento, dizem estar tristes).

No meio desse bolo todo, eu, como voyeur, admiro mais as pessoas que parecem de carne e osso. Que às vezes estão felizes, às vezes tristes. Mas eu ainda acho que a tristeza tenha que ficar mais bem guardada: e a felicidade também. Todavia eu, assim como todos eles (os "alegres o tempo inteiro", os suicidas, os "meio termo"), não sei esconder certos sentimentos. Talvez, igualmente como todos eles, eu fantasie minha alegria e minha tristeza. Ao extremo.

5 comentários:

Pseudokane3 disse...

Eu, definitivamente, faço par com a guria que pôs a tal foto e disse que pensava em se matar... Em época de Natal, meu 'blog' fica igualzinho... Sou um produto nojoso deste tempo moderno, querida amiga. Desculpa...

Este bendito vício midiático em tristeza acaba comigo, mas, ao mesmo tempo, é minha principal fonte de inspiração (hehehehehehhe)

mas é tristeza sincera, visse? É que, como tu, eu disfarço bem!

WPC>

tatiana hora disse...

nossa, eu acho você BEM diferente dela o.O

Pseudokane3 disse...

Com esta postagem, eu peço desculpas, portanto:

http://gomorra69.blogspot.com/2009/11/quando-nao-da-vontade-de-fazer-uma.html

(risos)

te amo, visse?

WPC>

tatiana hora disse...

velho, que postagem sinistra hauhauahaua
olhe...
acho que todos nós temos um jeito meio tosco de lidar com a tristeza.eu não sou nada digna de julgar quem coloca foto de pulsos cortados num blog e avisa que vai se matar.
acho que devo respeitar essa pessoa. ela tem o jeito dela de lidar com a dor e também de chamar a atenção (às vezes quando a gente está sofrendo muito pede ajuda de um jeito escandaloso e estranho - eu sei muito bem o que é isso, não num blog, mas sei).
na verdade as pessoas que eu menos compreendo são as pseudo-felizes e acabo julgando-as com muito mais severidade. mas parei pra pensar, como disse na minha conclusão: e se eu também fantasio minha tristeza e minha alegria?
tudo na verdade é meio fantasia.
po, e se aquela pessoa que eu acho irritante por ser feliz o tempo inteiro na internet também tiver o direito dela de inventar aquele mundo feliz pra ela pra fugir de uma realidade muito dura?
é muito complicado. no meio disso tudo, me parece que as pessoas discretas são as mais espertas, guardando sua felicidade e sua tristeza num cantinho não-publicizado.
mas acho que nem eu, nem você, nem ninguém que tenha blog, fotolog, etc, pertence a esse grupo. todos nós, se nos metermos a falar da nossa vida, acabamos revelando demais, fantasiando demais, enfim, uma loucura.
eu queria ser discreta. mas não sou, infelizmente.

Pseudokane3 disse...

Eu muito menos.
Indiscrição é meu maior dom e maior pecado.
Mas sobrevivemos bem assim, e fazemos bem a outrem da mesma forma.
E tu me fazes bem, mesmo distante, mesmo virtualmente. Muito, juro!

Cheio sincero, cheiro de homem vivo numa mulher viva!

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