quarta-feira, fevereiro 23, 2011

O gado do sol

O décimo quarto capítulo de Ulisses, de James Joyce, denominado O gado do sol, traz uma ode ao parto, utilizando-se para tal da metáfora do gado, símbolo da fertilidade em A Odisséia, de Homero. Tal capítulo se passa numa maternidade, onde jovens estudantes de Medicina fazem bagunça enquanto mulheres sofrem com as dores de dar a luz, tendo o públicitário Leopold Bloom, ao contrário, uma conduta bastante respeitosa com aquele momento pelo qual tais mulheres passavam.

A maternidade era gerida por A. Horne, e contava com setenta leitos, vigiados por duas freiras insones. Na maternidade, encontrava-se uma antiga vizinha de Leopold Bloom, Sra. Purefoy, que sofria em trabalho de parto já há três difíceis dias. Joyce não introduz logo o nome de Bloom, apresentando-o primeiro como um misterioso viajante que durate tanto tempo por terras e mares vagou, fazendo uma brincadeira com o fato de ele ser judeu, o povo da terra prometida. Ao ver Leopold Bloom adentrar o quarto vestido de preto (ele havia antes ido ao enterro de seu amigo Paddy Dignam), a Sra. Purefoy em trabalho de parto teme que ocorra uma desgraça, mas ele logo lhe esclarece o motivo de estar vestido de preto. Viúva, a Sra. Purefoy conta que seu marido havia morrido de câncer no estômago há três anos.

Joyce utiliza elementos fantásticos para descrever a maternidade, tomando-a como um castelo

E no castelo estava posta uma mesa que era de madeira de vidoeiro da Finlândia e era sustentada por quatro anões daquele país, mas eles não ousava se mexer mais por encantamento. E sobre esta mesa estavam espadas e facas assustadoras feitas numa grande caverna por demônios trabalhadores saídos de chamas brancas que eles fincam nos chifres de búfalos e cervos que ali existem maravilhosamente em abundância.

Diante dos jovens estudantes que fazem bagunça na maternidade, a irmã enfermeira pede para que eles respeitem as mulheres que se encontram em intenso trabalho de parto enquanto eles se embebedavam. Era eles Dixon, chamado júnior de Santa Misericórdia, Crothers de Alba Longa; Lynch e Madden, os estudantes de medicina, o liberal Lenehan e o jovem poeta Stephen Dedalus.

Numa discussão sobre nascimento e justiça, o jovem Madden afirmou que seria mais penosa a morte da mulher, e o jovem Madden, já que a mulheria dava à luz sentindo dor, seria difícil deixá-la morrer, sendo assim mais justo escolher a mãe ao bebê. Os gritos das mães em trabalho de parto prosseguem, e Leopold Bloom se recorda mais uma vez do seu pequenino Rudy.

Mas sir Leopold estava muito circunspecto apesar de suas palavras porque ele ainda estava com pena da gritaria aterrorizante das mulheres estridentes em seu trabalho de parto como ele se lembrava de sua boa dama Marion que tinha parido para ele um único filho-homem o qual no décimo primeiro dia de vida tinha morrido e arte alguma de homem pudera salvar tão sombrio é o destino.

E, enquanto os jovens se envolviam com a bebedeira e a gritaria, Leopold defendia que aquele era um momento sagrado e que deveria ser respeitado, e na casa de Horne devia o repouso reinar. Na reunião com os amigos, Stephen Dedalus fala sobre o problema da febre aftosa, doença que havia contaminado o gado na Irlanda e que havia sido tema de um artigo do seu chefe, o Sr. Deasy. Ao adentrar no tema, James Joyce cria personagens-monstros, que assumem características de touro durante a discussão, utilizando expressões como "ele tinha chifres em abundância" ou "olhardetouro".

Já o estudante de Medicina Malachi Mulligan afirmava que havia imprimido diversos cartões com o anúncio de Lambay Island, um projeto seu de fertilizar mulheres com um fertilizante chamado Omphalos. E então os jovens recebem a notícia de que a mulher que a Sra. Purefoy finalmente havia tido o seu herdeiro, após três dias sofrendo para dar à luz.

O capítulo finaliza com uma rodada de bebedeira dos estudantes, que brindam enquanto discutem sobre a vida, as mães, os bebês, o leite materno, a morte, debate esse que Joyce apresenta sem travessões e sem indicar qual o interlocutor da fala.

Um comentário:

Jorge Ramiro disse...

Também estudei filosofia quando eu era jovem, mas depois que eu trabalhei em outra coisa. Agora eu sou um distribuidor de Labyes e eu também sou veterinário porque eu amo os animais.