segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Nausicaa

Anteriormente eu havia dito que o 13° capítulo de Ulisses, de James Joyce, começava de maneira bastante sedutora. A tarde de verão começara a envolver o mundo num misterioso abraço. E de fato este é talvez o capítulo mais belo e gostoso de ler do Ulisses. Nesta passagem, James Joyce apresenta o flerte entre Gerty MacDowell e Leopold Bloom em plena tarde na encantadora praia de Sandymount. O capítulo se inicia a partir do ponto de vista de Gerty, que contempla um misterioso homem, para depois ser elaborado na perspectiva de quem mais tarde descobrimos que é nosso protagonista Leopold Bloom.

Nas passagens narradas a partir do ponto de vista de Gerty MacDowell, James Joyce adota um estilo que parodia os romances folhetinescos. E o romantismo, mesmo que clicheroso, de Gety é simplesmente encantador. Já a linguagem de Leopold Bloom é bastante sexualizada, e, enquanto Gerty tem devaneios românticos sobre quem seria o misterioso homem, Bloom discretamente masturba-se na praia olhando para ela.

Gerty MacDowell vai à praia acompanhada por duas amigas, Cissy Caffrey e Edy Boardman, que trazem consigo dois pequeninos gêmeos, Tommy e Jack Caffrey, e um bebê. Os dois gêmeos tem um breve desentendimento porque Tommy havia implicado que o castelo de areia de Jack estava mal construído e, por fim, dirimi-o, para raiva de Jack.

E então James Joyce introduz os clichês românticos de folhetim na descrição da aparência de Gerty e de seus pensamentos. Gerty era aquela típica leitora de literatura romântica, uma espécie de Madame Bovary, atraída por poesias como És real, meu Ideal? A palidez do seu rosto era quase espiritual em sua pureza ebúrnea embora sua boca como um botão de rosa fosse um genuíno arco de cupido, de perfeição grega. (...) Talvez fosse isso, o amor que podia ter sido, que conferia por vezes aos traços suaves de sua face uma expressão, tensa de sentido reprimido, que emprestava aos seus belos olhos uma propensão a um estranho enternecimento, um fascínio ao qual poucos poderiam resistir. Por que as mulheres tem olhos tão feiticeiros?

Em dado momento, Cissy, Edy e as crianças saem para ver os fogos que estouram no céu, deixando Gerty e Leopold Bloom a sós, numa paquera à distância, quando Leopold Bloom se masturba. Por um momento ela olhou para ele, encontrando o seu olhar, e uma luz a invadiu. Havia uma paixão ardente naquele rosto, paixão silenciosa como um túmulo, e fez com que ela se tornasse dele. (...) As mãos dele e o rosto se moviam e um tremor a percorreu toda.

Após se masturbar contemplando Gerty MacDowell, Leopold Bloom, ao vê-la se levantar para ir embora, percebe que ela é coxa, assim como ocorre em Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Botas apertadas? Não. Ela é aleijada! Ó! O Sr.Bloom a observa enquanto ela partia mancando. Pobre moça! Esta era a razão pela qual era deixada de lado enquanto as outras corriam a toda velocidade. Achei que alguma coisa estava errada por uma mulher. Mas as torna educadas. Contente por não o saber enquanto ela estava se mostrando. Diabinha fogosa no entanto. Eu não me importaria.

3 comentários:

Gomorra disse...

ESTA CENA DE MASTURBAÇÃO ME MOTIVA HÁ DECÊNIOS...

WPC>

tatiana hora disse...

é óootimo =)

Boca da Noite disse...

Lendo a descrição me ponho no lugar de Gerty... sei tenho um pouco de Gerty.