Bom, recentemente eu obtive uma grande conquista. E, assim que consegui o que queria, senti-me uma espécie de Daniel Sam, aquele guri que ninguém dá nada por ele, e que de repente, assim de joelhos fudidos, dá um golpe manco e corre pro abraço da vitória.
Nessa hora, eu me lembrei de diversas humilhações pelas quais passei. Portas na cara, "não entre aqui", "caia fora", "você é incompetente" ditos com teores por vezes mais, por vezes menos cruéis. E lembrei que essa gente não era tão inteligente assim para eu dar algum valor ao que disseram.
Agora eu continuo encontrando pessoas que falam como se eu não fosse conseguir. São semideuses: pessoas que não erram, que conseguiram tudo estendendo as mãos para o céu que lhes oferecia as coisas de mão beijada. Diante do sofrimento alheio, respondem com arrogância, pisam mesmo nas fraquezas de outrem como uma forma de sentir superiores. Ou se acaso não conseguiram o que você conseguiu comportam-se como se você não fosse digna de tal.
À merda todos os semideuses. Eu continuo seguindo em frente sentindo essa dor, essa alegria, buscando alguma força, vestida com as armas de Jorge, mas sempre humana, demasiadamente humana.
quinta-feira, outubro 28, 2010
quinta-feira, outubro 14, 2010
Boa viagem
Escrevo a poucas horas de pegar o avião para ir a Belo Horizonte. Neste momento, acabei de assistir a Náufrago (2001), Robert Zemeckis, pela segunda vez - a primeira foi no cinema. No começo do filme, pensei "que droga!", não é uma boa ideia ver um filme em que um cara sofre um acidente de avião e vai parar numa ilha assim pouco tempo antes de eu viajar... Até que o filme terminou com uma espécie de sinal. Chuck, o homem solitário que tinha como seu único amigo a bola de vôlei Wilson até finalmente retornar ao mundo e reencontrar seu grande amor, Kelly, diz algo assim ao narrar sua história:
- Eu havia colocado uma corda lá em cima. Depois de testar com um boneco de madeira, vi que a corda não resistiu. Eu não tinha controle sobre nada. Nem podia morrer do jeito que queria. Naquele instante, algo me disse que eu precisava continuar respirando, eu devia continuar vivo. Então a maré me trouxe uma vela. Até que eu decidi arriscar tudo com uma jangada, e usei também essa e outras cordas para amarrar a madeira, e a vela sobre ela. Foi assim que eu encontrei o navio. Quando eu voltei, Kelly havia seguido com a vida dela sem mim. Mas mesmo assim eu sabia que eu devia prosseguir respirando e seguir vivendo. Afinal, nunca se sabe o que a maré irá trazer.
quarta-feira, outubro 13, 2010
A cegueira da visão
No livro Paisagens urbanas, Nelson Brissac Peixoto cita um fotógrafo esloveno, Evgen Bavcar. O que me chamou a atenção foi o fato de Evgen Bavcar ser um fotógrafo cego - perdeu a visão aos 12 anos, após sofrer dois acidentes. Bavcar faz suas fotografias numa posição contra o vento, e assim o vento desenha os contornos das coisas tateando o seu corpo. Ao que Nelson Brissac, um daqueles raros acadêmicos que escrevem poeticamente para nos seduzir, afirma:
Vidente é aquele que enxerga no visível sinais invisíveis aos nossos olhos profanos. O cego recorre à lembrança, à sensibilidade, a várias descrições. Um modo polifônico de ver, composição de todos esses olhares. Dá voz a todos eles. Desloca o olhar retiniano da sua centralidade convencional, multiplicando os pontos de vista. Passa do olhar à visão.
Lembrei-me de Alfredo Bosi. Citando Santo Agostinho, Bosi mostra que o santo afirmara que a visão é o mais espiritual dos sentidos. Como se houvesse algo de muito profano no tato, no paladar, até mesmo na audição. E Bosi declara em O ser e o tempo da poesia:
A experiência da imagem, anterior à da palavra, vem enraizada no corpo. A imagem é afim à sensação visual.(...) A imagem é um modo de presença que tende a suprir o contato direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós.
Bavcar descobre no corpo a luz, na luz a lembrança, na lembrança a obra de arte. O seu modo ver é o da poesia, assim como a figura de linguagem da sinestesia, essa metáfora que expande os sentidos - o significado e os sentidos.
Mas como poderemos saber se o dispositivo representa a sua imagem interior? Ora, mas tantas vezes nossas fotografias de pessoas que enxergam não são tão distintas daquelas que imaginamos, não são uma surpresa para nós, ou o que Walter Benjamin chamou de inconsciente óptico em Pequena história da fotografia?
Esta imagem de Bavcar logo acima traz o sacro e o profano contidos num instante. E não são tantas as religiões dedicadas ao culto à imagem? Culto esse tantas vezes visto como o pecado de não adorar o verdadeiro deus.
E não estamos repletos de deuses nas nossas memórias? Disse Alfredo Bosi:
A imagem amada, a temida, tende a perpetuar-se: vira ídolo ou tabu. E a sua forma nos ronda como doce ou pungente obsessão.
segunda-feira, outubro 11, 2010
Meus musos - parte 2
Quando eu descobri Gael, eu estava vendo Má educação, de um dos meus cineastas favoritos, Pedro Almodóvar. Apaixonei-me por ele quando observei seus dotes contidos numa cueca branca, e ainda mais quando ele mergulhou na piscina, até encontrar o gozo quando ele fazia flexões com gestos deveras sexuais.
Como se não bastasse ele interpretou o ídolo da minha adolescência utópica no cinema: Che Guevara. Emocionante a cena em que ele atravessa o rio para cuidar de pessoas enfermas. Até porque eu sempre tive uma paixão imensa por pessoas utópicas: seja um santo como São Francisco de Assis (meu favorito), Jesus Cristo (hoje perambulo entre ateísmo e cristianismo) e o próprio Che. Essas pessoas tem algo de muito encantador que não consigo carregar comigo...
Além disso, em suas entrevistas Gael demonstra ser um homem inteligente... Inclusive fala cinco línguas, e admiro também que versa em vários idiomas.
Mas enfim, ora francamente, nada como aquela cena em que ele canta Quizás, quizás, quizás vestido de travesti em Má educação.
domingo, outubro 10, 2010
Dilma Kill Bill
Em dado momento do debate dos presidenciáveis na Band, a Ivana Bentes comentou no twitter que a Dilma estava preparada numa versão Kill Bill para este debate. Com treinamento do Pai Mei, espada Hattori Hanzo e tudo!
Pois bem. Eis que devido ao rumo hipócrita, conservador, reacionário da pior espécie que o debate sobre a descriminalização do aborto tomou, eu estava muito P da vida com a falta de comprometimento de um partido como o PT com as pautas dos movimentos sociais. Dilma estava na defensiva, ouviu seus marketeiros, deu uma de religiosa e começou com papinho de direito à vida no horário eleitoral.
E eis que me surge uma outra Dilma. Uma Dilma que tem muito mais a ver com aquela que lutou contra a ditadura militar. Uma mulher guerreira, de pulso forte, que não se deixa dominar.
Dilma simplesmente colocou em pauta o tema do aborto, e disse que sim, o aborto, um problema de saúde pública, não devia ser tratado como caso de polícia. Que havia mulheres morrendo por não encontrarem amparo do Estado. E que o próprio Serra regulamentou o aborto no SUS para casos de estupro.
Mas Dilma não parou por aí. Na abordagem dos mais diversos temas, ela se posicionou nas trincheiras e colocou em pauta temas como privatizações e programas sociais buscando estabelecer uma distinção ideológico-política muito clara entre os dois programas. E isso enriqueceu muito o debate.
Claro que o governo Lula apresenta seus traços neoliberais e Serra soube contra-argumentar nesse sentido. Mas Dilma não poupou afirmações como a de que o governo FHC estava nas mãos dos banqueiros internacionais, contribuindo para uma dívida alarmante com o FMI.
E era justamente isso que eu esperava para esse debate. Sem mais trolólós, termo que ela mesma usou no debate, é preciso levar a sério reivindicações dos movimentos sociais sem ceder a obscurantismos religiosos. E colocar o PSDB no lugar dele: na oposição. Porque Lula aparecer no horário eleitoral do Serra é uma palhaçada.
Meus musos - parte 1
Gente, como não tenho o que fazer neste feriado (na verdade tenho, mas não estou fazendo o que deveria), tive a BRILHANTE ideia de fazer uma série de posts sobre os meus musos - os homens que considero mais lindos, gostosos, tesudos, enfim, tudo de bom. Sei que muitos me acharão assanhadinha, mas eu sou assanhadinha mesmo hahahaha.
Bem, primeiramente gostaria de ressaltar que os homens que mais me atraem na face da terra não são apenas um pão, um colírio, uma coisa bonita assim de se ver sabe... Eles são também inteligentes, charmosos, sedutores... Enfim, tudo de bom!
O primeiro homenageado da série, como vocês podem perceber, é Tom Cruise. Gostaria de ressaltar que esse belíssimo ator que com o passar do tempo só foi ficando mais gato foi o meu ídolo de infância - ou seja, ele está indiretamente envolvido com a descoberta da minha sexualidade. Afinal, quando eu era pequena sonhava em casar um dia com ele. Como gosto de pensar em tudo, perguntava-me já naquela época se ele não estaria velho demais quando finalmente eu fosse mulher. Minha resposta agora como mulher: não, meu bem, ele tá ma-ra-vi-lho-so!
Pra entender o Erê
Sem motivo facilmente detectável, como de costume, hoje eu estava deveras TENSA. E nada, nada parecia resolver. Estava quase indo numa igreja só para sentir a presença das pessoas conquistando uma etérea evasão, para ver se me contaminava com isso, até que, assim de repente, a tensão passou. Sabe como? Do nada surgiu na minha cabeça essa música:
Pra entender o Erê
tem que tá moleque
tem que conquistar a voz
e a consciência leve.
E eu achava que cantava assim, mas pesquisando a letra na internet é desse jeito:
Prá entender o Erê
Tem que tá moleque
Uh! Erê, Erê!
Tem que conquistar alguém
Que a consciência leve...
Gostei mais da primeira versão, formulada pelo meu inconsciente. Serviu de auto-ajuda bobinha. Na hora do desespero serve.
Pra entender o Erê
tem que tá moleque
tem que conquistar a voz
e a consciência leve.
E eu achava que cantava assim, mas pesquisando a letra na internet é desse jeito:
Prá entender o Erê
Tem que tá moleque
Uh! Erê, Erê!
Tem que conquistar alguém
Que a consciência leve...
Gostei mais da primeira versão, formulada pelo meu inconsciente. Serviu de auto-ajuda bobinha. Na hora do desespero serve.
sábado, outubro 09, 2010
Love is the answer
Hoje o meu querido John Lennon estaria fazendo 70 anos. Não quero lembrar das histórias tristes envolvendo sua morte, só desejo ouvir as suas músicas tão maravilhosas que ele fez enquanto integrante dos Beatles e na carreira solo. Faz tempo que não ouvia o Lennon, e hoje é um dia de matar a saudade das suas músicas e ficar imaginando um mundo mais assim: all the people living for today. Graças a ele, estou até me sentindo um pouco mais sonhadora do que o normal!
What in the world you thinking of?
laughing in the face of love..
what on earth you trying to do?
It's up to you
yeah, you!
Traz um Scorsese!
Quando soube que estava passando uma série com histórias de gângsters no tempo da Lei Seca dirigida por ninguém menos que Martin Scorsese, eu pensei logo: merda não ter HBO, mas God save the net e eu baixei dois episódios. Vi o primeiro episódio de Boardwalk Empire hoje, que é um verdadeiro longa-metragem, não só pela duração (70 e poucos minutos), mas porque tem cara de cinema e não de série televisiva.
O Scorsese caiu de cabeça no cinema noir na série: as noites de penumbra, os malabarismos na steady cam percorrendo Atlantic City no mais puro estilo A marca da maldade (Orson Welles), a montagem que justapõe planos de um espetáculo de teatro com uma sequência de assassinatos que deve muito a O poderoso chefão (Francis Ford Coppola), o sarcasmo em torno da hipocrisia do moralismo anti-drogas também presente em Os intocáveis (Brian de Palma)... Enfim, uma maravilha de série para quem, assim como eu, ADORA filme de gangstêrs!
Porque há algo de encantador no submundo do poder e do crime, nos heróis tão vilões capazes dos atos mais vis, porém às vezes tão afetuosos.
E o escárnio que o Scorsese faz quanto à modernidade americana do início do século passado é genial. Assim como em Gangues de Nova York, Scorsese demonstra ver a história de seu país intrinsecamente vinculada à corrupção e à violência. Impagável a cena em que Enoch Thompson, o tesoureiro de Atlantic City cúmplice do tráfico de álcool, faz um discurso sobre seu passado de filho de álcoolatra que emociona senhoras conservadoras, e finaliza afirmando: "com fé em Deus a democracia americana contará agora com o voto das mulheres". E o personagem de Jimmy, um garoto que abandonou a faculdade para "lutar pelo seu país" na Segunda Guerra Mundial e retorna violento e frustrado, é muito bem elaborado e interpretado.
Que venham mais episódios dessa série que tem a genialidade do cinema americano e um sarcasmo delicioso sobre a sua sociedade.
sexta-feira, outubro 08, 2010
A porta
Vi uma pessoa citando na internet uma frase de Chico Buarque do livro Estorvo. Agora quero ler o livro! A frase foi muito reveladora para mim...
E ele me conhece o suficiente para saber que eu poderia até receber um estranho, mas nunca abriria a porta para alguém que de fato quisesse entrar.
E ele me conhece o suficiente para saber que eu poderia até receber um estranho, mas nunca abriria a porta para alguém que de fato quisesse entrar.
And so it is...
Hoje assisti ao final de Closer - perto demais, que estava passando na TV a cabo. Havia visto esse filme há alguns anos no cinema. Tinha achado um bom filme, continuo achando, porém o considero muito forçado em certas falas dos personagens, certos gestos, enfim. Só que... houve uma cena em especial que me chamou a atenção. É quando o personagem de Jude Law, Dan Woolf, vai ao escritório do marido de Anna, a mulher com quem ele havia tido um caso, com o objetivo de pedir perdão e implorar para que o esposo a deixe partir. Dan Woolf, um jornalista que tenta lançar um livro e se considera muito mais sensível e profundo do que Larry, o marido de Anna, em dado momento se vangloria da nobreza de seu coração. Ao que ele ouve esta frase de Larry:
- Você sabe o que é o coração humano? O coração humano mais parece uma mão fechada repleta de sangue!
E assim Larry fala de amor, indo de encontro ao lirismo e ao idealismo de Dan. Acho que enjoei de Dan. Talvez eu esteja um pouco Larry.
Questão de pontuação
Todo mundo aceita que ao homem
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.
João Cabral de Melo Neto
cabe pontuar a própria vida:
que viva em ponto de exclamação
(dizem: tem alma dionisíaca);
viva em ponto de interrogação
(foi filosofia, ora é poesia);
viva equilibrando-se entre vírgulas
e sem pontuação (na política):
o homem só não aceita do homem
que use a só pontuação fatal:
que use, na frase que ele vive
o inevitável ponto final.
João Cabral de Melo Neto
quinta-feira, outubro 07, 2010
Na vida...
Na vida, pessoas vem e vão. Para uma pessoa que vai, uma outra aparece. E essa que aparece, depois vai. Mas, o mais engraçado de tudo, eu nunca apareço. Estou sempre aqui no meu cantinho. Elas que aparecem pra mim.
A liberdade de empresa mostra a cara
Eu havia criticado anteriormente as reclamações por parte de determinados setores da imprensa quanto a um suposto autoritarismo do governo Lula. Agora a tal liberdade de imprensa revela o que de fato é: liberdade de empresa. Após publicar este artigo, a Maria Rita Kehl foi demitida do jornal O Estado de São Paulo por "delito de opinião".
Só que agora o Estadão vai se arrepender eternamente. A demissão da Maria Rita está repercutindo e MUITO nas mídias sociais.
É como eu disse: fale o que o seu patrão não quer, e "a porta da rua é a serventia da casa". Isso é democracia.
O segundo turno e o direito à vida
Assim que acordei, quando cheguei à sala, encontrei meu irmão vendo um video sobre a Dilma. Ele, que é evangélico, disse que estava procurando onde estava o bendito vídeo em que ela afirma que nem Deus tiraria a presidência das mãos dela, e não achou em lugar nenhum, encontrando apenas vídeos manipuladores. Ele colocou as mãos na cabeça e afirmou: "Meu Deus, às vezes tenho vergonha de ser evangélico!".
Quando eu estava na fila para votar, uma senhora logo na minha frente comentou que ia votar na Dilma, mas depois decidiu optar pela Marina Silva porque tinha ouvido falar da tal declaração que meu irmão estava procurando.
Com a chegada do segundo turno, uma onda de acusações é feita contra a candidata à presidência. Dizem até que ela tem pacto com o demônio. São muitos pastores pedindo para não votar na Dilma, e um padre chegou ao cúmulo de afirmar na Canção Nova que os fiéis deviam escolher o Serra.
Resultado: entre os principais pontos do programa de Dilma no segundo turno está o "direito à vida". Um militante do PT chegou ao cúmulo de afirmar no twitter que a culpa de Dilma ter ido ao segundo turno era das feministas do PT, que incluíram a descriminalização do aborto como pauta a ser debatida pelo partido enquanto governo.
Não pude deixar de me lembrar do filme do Kiarostami, ABC África. A religião católica insiste em demonizar o uso da camisinha, e o diretor mostra uma cena em que um pequenino corpo é enrolado num lençol. Depois o pai parte numa bicicleta com a caixa contendo o cadáver de uma criança que tinha AIDS.
É aí que eu me pergunto: o que é direito à vida? Direito à vida devia ser acesso universal a um serviço de saúde pública DE QUALIDADE. Direito à vida devia ser ninguém passar meses esperando por uma consulta. Direito à vida devia ser ninguém ser morto na banalidade da violência urbana. Direito à vida devia ser ninguém mais perder a vida trabalhando em troca de migalhas.
E tantos deixam a discussão sobre as mazelas sociais de lado porque preferem votar no candidato que acredita em Deus (no deus deles) e falam no direito à vida como um dom divino imaculado. Enquanto isso, acontece o massacre em tantas guerras dissipadas em tantos lugares do mundo.
*Imagem do filme ABC África.
terça-feira, outubro 05, 2010
Pássaros
Um passarinho costuma entrar no apertamento, para chateação de um dos meus irmãos, pois ele tem mania de defecar nas roupas que ele estende no varal. Gostava do tal passarinho. Ficava observando-o até a hora de ele partir. Até que um belo dia, ao vê-lo voando em alta velocidade e se batendo nas paredes da área de serviço do apartamento, eu senti pavor dele.
Desde então se vejo passarinhos voando alopradamente ou se acaso me deparo com muitos pássaros aglomerados numa avenida, eu experimento um leve pânico. Não sabia a causa desse estranho medo, até que BINGO! É tudo culpa do Hitchcock!
Sim, pois criei esse estranho medo depois de assistir a Os pássaros. Hoje em dia eu considero esses animais um tanto ameaçadores. Quem sabe eles revelem algo que esteja dentro de mim, como a minha própria irracionalidade. E talvez, por agora ter consciência da origem do medo (o filme), eu deixe de tê-lo.
Afinal, não sou mais criança! Lembro de que quando criança eu tinha medo de dormir e sonhar com o Freddy Krueger... E minha imaginação, excessivamente real, fazia-me vê-lo logo embaixo da minha cama...
segunda-feira, outubro 04, 2010
Você me apagaria da sua memória?
Um dos meus filmes favoritos é Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do Michel Gondry. Posso dizer que o filme conseguiu me arrancar lágrimas desde o começo - já naquela cena em que Joey está dirigindo o carro em prantos atravessando uma noite chuvosa enquanto toca Change your heart...look around you... change your heart and will stound you... I need your lovin' like the sunshine... Everybody's gotta learn sometimes.
Na minha opinião, esse filme não é só um filme pimba-indie-meloso, mas traz uma reflexão interessantíssima sobre as relações que as pessoas desenvolvem com as coisas, os sentimentos, os relacionamentos, tratando afetos como se fossem tão descartáveis quanto os produtos efêmeros que consomem - relação possibilitada pela tecnologia, que através de um "delete" promete nos livrar daquilo que nos machuca, das "fraquezas" da nossa condição humana, demasiadamente humana.
Mas eu não quero entrar nessa discussão aqui. O que me fez lembrar hoje desse filme é eu ter percebido que tantas e tantas vezes eu me livro de memórias com o mesmo descaso de uma Clementine, a personagem principal de Brilho eterno, que vai a uma clínica e elimina as recordações do seu envolvimento com Joey, e logo depois sequer o reconhece num supermercado.
A questão é: vivo intensamente determinadas emoções, só que o problema é que just 'cause you feel it, doesn't mean its there. Aí mais cedo ou mais tarde o mundo real vem bater na minha porta. E eu me decepciono profundamente por certas pessoas, passando da adoração ao ódio e em seguida à indiferença num passe de mágica.
De uma memória poética repleta de significados ternos, passo a alguns fatos desconexos e sem sentido. Como se houvesse uma caixa de sapatos que eu havia usado para guardar objetos de importante valor emocional, e de repente essas coisas sumissem e eu só encontrasse um par de tênis qualquer.
Há quem não se importe nem um pouco. Mas houve gente que me pediu tanto, "pelo amor de deus, como você só lembra disso? E isso, e isso, e aquilo, como esqueceu?". No entanto, é algo que de certa forma independe da minha escolha. Talvez não seja a única!
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