segunda-feira, outubro 04, 2010

Você me apagaria da sua memória?


Um dos meus filmes favoritos é Brilho eterno de uma mente sem lembranças, do Michel Gondry. Posso dizer que o filme conseguiu me arrancar lágrimas desde o começo - já naquela cena em que Joey está dirigindo o carro em prantos atravessando uma noite chuvosa enquanto toca Change your heart...look around you... change your heart and will stound you... I need your lovin' like the sunshine... Everybody's gotta learn sometimes.

Na minha opinião, esse filme não é só um filme pimba-indie-meloso, mas traz uma reflexão interessantíssima sobre as relações que as pessoas desenvolvem com as coisas, os sentimentos, os relacionamentos, tratando afetos como se fossem tão descartáveis quanto os produtos efêmeros que consomem - relação possibilitada pela tecnologia, que através de um "delete" promete nos livrar daquilo que nos machuca, das "fraquezas" da nossa condição humana, demasiadamente humana.

Mas eu não quero entrar nessa discussão aqui. O que me fez lembrar hoje desse filme é eu ter percebido que tantas e tantas vezes eu me livro de memórias com o mesmo descaso de uma Clementine, a personagem principal de Brilho eterno, que vai a uma clínica e elimina as recordações do seu envolvimento com Joey, e logo depois sequer o reconhece num supermercado.

A questão é: vivo intensamente determinadas emoções, só que o problema é que just 'cause you feel it, doesn't mean its there. Aí mais cedo ou mais tarde o mundo real vem bater na minha porta. E eu me decepciono profundamente por certas pessoas, passando da adoração ao ódio e em seguida à indiferença num passe de mágica.

De uma memória poética repleta de significados ternos, passo a alguns fatos desconexos e sem sentido. Como se houvesse uma caixa de sapatos que eu havia usado para guardar objetos de importante valor emocional, e de repente essas coisas sumissem e eu só encontrasse um par de tênis qualquer.

Há quem não se importe nem um pouco. Mas houve gente que me pediu tanto, "pelo amor de deus, como você só lembra disso? E isso, e isso, e aquilo, como esqueceu?". No entanto, é algo que de certa forma independe da minha escolha. Talvez não seja a única!

4 comentários:

. disse...

Eu simplesmente AMO esse filme. Choro mesmo e fico molinha e quero pintar meu cabelo de laranja. rs
Eu já fui assim como você se descreve e o estranho é constatar hoje o quanto me importo com as pessoas, o quanto não quero deixa-las irem, quero guardar tudinho até um chocolate que alguém me deu num dia de chuva(não falo de relacionamentos, fala em geral). E é estranho porque me magoou muito mais agora. Fico frágil e acho que antes tinha essa capa de proteção. Eu perdia algumas coisas mais ao menos não me machucava tanto. Ou fingia não me machucar né?Não sei.
;*

Vai de Táxi! disse...

:D

é um filme Sensacional...

tatiana hora disse...

Ayalla, eu acho que você, assim como eu, tem um Q de Clementine (uma pessoa intensa que vive mudando a cor do cabelo hauauaha).

e você, Guga, tem cara de Joey.

Pseudokane3 disse...

De fato, não és a única.
Este filme me desconstrói!
Vi duas vezes no cinema.
E baixei tudo do Beck.
E amo!
E não, jamais apagaria ninguém!
Muito menos, a maravilhosa Kate Winslet!
Ou a precipitada Clementine.

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