terça-feira, julho 18, 2006

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...


Uma religião pela qual tenho me interessado é o budismo. A busca pelo equilíbrio através do fim do desejo. Além disso, é uma religião em que não há deus. O próprio Sidarta negou a existência de um espírito universal.

Já fui católica apostólica romana. E já fui também daquelas pessoas que dizem que acreditam num Deus diferente do da Igreja. Continua sendo um deus, não adianta. Passei a me questionar sobre nós termos que adorar algo, e comecei a negar as divindades. Um deus que diz para ser adorado acima de todas as coisas é, no mínimo, muito vaidoso. E parecido com o homem.

Os deuses e paraísos são criados por culturas. Eles nada têm de sobrenatural, nós os fizemos à nossa imagem e semelhança. Os deuses gregos eram humanos, o paraíso dos homens do Oriente Médio tinha abundância e mulheres virgens, quando eles andavam num mundo de seca e burcas.

Por negar a superioridade, não adoro nenhum deus. No budismo, o interessante é que você não ora para adorar um deus, mas medita para encontrar a paz em contato com o universo.

Já pensei em ser espírita. Mas a idéia de que existe uma escala de evolução a partir dos seres brutos, depois os animais irracionais, então o homem, e finalmente Deus, incomodou-me bastante.

Os budistas não comem carne porque acreditam que os animais irracionais também teriam a mesma substância que nós, ocidentais, chamamos de alma. Para eles, nós não somos superiores aos animais irracionais. Concordo que não devíamos comer carne não porque os animais irracionais têm uma "alma", mas porque nós, seres humanos, nos colocamos acima da cadeia. Nós não estamos no meio do mato, mas em super-mercados onde a carne é disposta como se fosse diferente daquilo que veio.

Apesar da extrema perspicácia de Sidarta em alguns pontos, ele não deixou de sofrer influências da cultura em que vivia. O budismo exige uma série de rituais de submissão da mulher, apesar de não a considerá-la inferior ao homem.

Um ensinamento budista que me interessou muito foi a negação do desejo. Quanto mais queremos, mais nos frustramos. Num mundo repleto de pseudonecessidades, nossas angústias também são criadas. Negar o desejo, mas não se subtraindo do mundo.

Muito pelo contrário. Nós temos uma integração holística com o universo. Para os budistas, não existe alma, mas um impulso kármico, por isso eles falam em renascimento ao invés de reencarnação. Esse impulso kármico é algo como a vontade, de Schopenhauer, filósofo muito influenciado pelo budismo. Nós não somos uma substância imutável, mas tudo se modifica o tempo inteiro, e não existe um eu constituído, mas uma intersubjetividade.

Numa sociedade narcisista, em que vejo psicólogos dizendo para sempre olharmos pra dentro de nós, penso que os valores orientais são mais interessantes nesse sentido. Anatta, ou, a ausência de um "eu". Se percebêssemos que somos anatta, lutaríamos mais por justiça, quando não estaríamos procurando apenas nosso bem estar.

O budismo fala também em samsara, ou os mundos criados por nós. Costumamos cambalear pelo tempo e pelo espaço, regressando ao passado, e projetando futuros. Algumas lembranças que voltam para nos angustiar, ou medo de sair do lugar que parece seguro. Segundo a filosofia budista, nós devemos viver o presente, e extinguir o samsara.

Algo que me intriga é o nirvana. Para o budismo, diferente da filosofia espírita, não há uma alma migrando de um corpo para o outro, afinal, não há um "eu", mas o que permanece é o impulso kármico, a vontade de vida. Esse impulso seria extinto quando não houvesse o desejo, e então viria o estado de paz eterna, além do tempo e do espaço, uma espécie de não-ser.

No budismo, o tempo é concebido enquanto um ciclo. Não houve começo nem haverá fim. Mas o que seria esse nirvana? Parece-me a morte propriamente dita.

Não acredito em vida pós-morte. Se eu morrer não serei mais eu, que vivo numa determinada época e com determinadas pessoas que fazem parte de mim. Então seria outra.

Há muitas idéias que me agradam no budismo, mas não tenho religião. Prefiro não explicar as coisas, nem entender. Gosto de Alberto Caeiro. É apenas a Natureza.

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...

Trecho de O meu olhar, Alberto Caeiro

Um comentário:

Interaubis disse...

dunya, parece que você entendeu tudo!
agora faz o seguinte: esquece isso e começa de novo...
:))))
beijo grande!