segunda-feira, junho 28, 2010

Viagem à Tóquio (1953), Yasujiro Ozu


Não faz muito tempo desde que eu comecei a achar a velhice uma bela fase da vida. Tempo de contemplar, de rememorar... Mas é claro que é também um período delicado, de lidar com a espera da morte, a solidão, as mudanças muito grandes no mundo à sua volta, além de uma certa condição de "inutilidade" ou até mesmo "fardo" para outras pessoas. E é sobre tudo isso o filme Viagem à Tóquio, do diretor japonês Yasujiro Ozu.

Filmes como Morangos silvestres (1957), de Ingmar Bergman, e Umberto D.(1952), de Luchino Visconti, abordam também o universo da velhice, só que eles se detém sobre a solidão de um personagem, enquanto o filme de Ozu é sobre a solidão de um casal de idosos. No filme de Ozu acompanhamos um casal que parte de uma cidade localizada próxima à Hiroshima e seguem à Tóquio para ver seus filhos.

Lá eles encontram filhos envolvidos em tantos afazeres, e terminam se sentindo como se fossem um incômodo. Eles ficam admirados com a grandiosidade e a vida atribulada em Tóquio. A viagem de um lugar tranquilo até uma capital é também uma viagem que eles fazem ao mundo conturbado que choca com a percepção deles. Só que o diretor está atento à visão de mundo do casal e a ação prossegue a passos lentos, com cenas que privilegiam uma temporalidade letárgica.

Esse universo de progresso que eles encontram na cidade de Tóquio nem por isso conseguiu apagar as marcas da Segunda Guerra Mundial, que findou oito anos antes do período da diegese do filme. Não é à toa que o casal de velhos residia próximo à Hiroshima, uma das cidades destruídas pela bomba atômica. E Noriko, viúva de Seiji, filho do casal de anciãos, é uma mulher que perdeu o amor de sua vida para a guerra.

E a relação do casal é muito mais afetuosa com Noriko do que com os filhos. Não por acaso, afinal, Noriko é uma mulher que, após ter perdido o marido, contempla a vida como se já fosse também uma idosa. Sua vida passou a ser, como a de uma anciã, feita de memórias.

Mas o casal de velhinhos é também separado pela morte. É emocionante a cena em que o velhinho observa o nascer do sol enquanto seus filhos choram a morte da sua esposa - como se ele acreditasse na eternidade da alma da amada. Alguns dias depois, uma mulher na janela pergunta a ele como está, e ele diz que agora que sua mulher havia morrido o tempo passava mais devagar. Assim como o tempo da viúva Noriko, a quem o velhinho havia dado o relógio de sua falecida esposa.

Nenhum comentário: