terça-feira, junho 22, 2010

O show man do cinema


Aproveitei a tarde de hoje para assistir ao mais novo documentário do Michael Moore, Capitalism: a love story (2009). Não faço represálias com relação ao fato de ele fazer de seus filmes um verdadeiro espetáculo, acho até que ele consegue fazer espetáculos interessantes, como quando utiliza a linguagem televisiva de apresentadores de programas de auditório para encher a paciência de banqueiros. Também não vejo problema no modo como ele manipula o mundo histórico ao seu bel prazer em defesa de uma argumentação muito clara. Afinal, ele deixa evidente que se trata de um ponto de vista DELE, pois ELE MESMO surge no seu documentário, contando até histórias referentes ao seu pai e à sua infância, tornando-se também personagem do documentário, ao invés de se esconder por trás de uma voz over que ninguém sabe de onde vem (a voz de deus?), e que é toda poderosa e apresenta a verdade aos espectadores.

Inclusive eu concordo com a argumentação de Capitalism: a love story. Nas minhas discussões com pessoas que defendem o liberalismo, eu sempre apontei que o que eu acho pior no capitalismo é a reificação generalizada, pois tudo se torna mercadoria, até mesmo as pessoas. E é por isso que no filme de Moore nós vemos grandes empresas como Wall-Mart e Citibank lucrarem com a criação de seguros de vida para seus empregados e se tornando beneficiárias desses seguros. Elas contam com a morte de seus trabalhadores para angariarem milhares, milhões de dólares. É uma lógica cruel!

Outra coisa que acho absurda é alguém defender o estado mínimo e o livre mercado. Aí o Michael Moore contra-argumenta essa ideia quando mostra que, em tempos de crise financeira em Wall Street, o Estado se mobiliza para proteger os grandes empresários através da desregulamentação financeira. Pergunto: que estado mínimo é esse que protege os grandes empresários? É estado mínimo só na hora de investir em educação e saúde?

Só que eu ainda não comentei sobre as minhas ressalvas em relação a esse filme. Houve uma cena que eu simplesmente achei REVOLTANTE. Uma viúva chora a morte de seu marido que havia proporcionado lucros absurdos a um empresa através do golpe do seguro de vida. A câmera percorre a sua casa e se detém brevemente sobre uma foto do Bush. De repente uma mulher em um momento melancólico se torna uma alienada eleitora de Bush. Achei uma tremenda falta de respeito!

Outra coisa que não suporto no Michael Moore é a maneira como ele utiliza a música para criar situações melodramáticas que evidentemente querem emocionar o espectador. Não que provocar emoções e identificação no cinema seja uma espécie de pecado estético, mas considero um equívoco utilizar um recurso como esse para convencer de um argumento a respeito do mundo histórico.

Também não gostei da exaltação de Ronald Reagan, seguida por uma interpelação para os trabalhadores se juntarem em nome da social democracia. Michael Moore, que antes havia aclamado a vitória de Barack Obama, estava construindo uma reencarnação do projeto Reagan em Obama? Estava apontando um líder para essas mudanças sociais? Acho complicado esse tipo de defesa de heróis masculinos que trarão a redenção de uma Nação. É uma narrativa muito velha e presente em tantos livros de história antiquados...

Por mais que o modo videoclíptico de filmar e a estética de show de TV de Michael Moore tenham algo de pós-moderno, se há uma coisa que ninguém pode acusá-lo é de ser um pós-moderno. Afinal, em seu filme as lutas entre as classes sociais, bem como a sua concepção de história e de Nação são unívocas.

2 comentários:

Tiago de Oliveira disse...

vc tem esse doc é?

tatiana hora disse...

tenho sim! posso gravar pra você.
bjs