Meu irmão costuma dizer que Fernando Pessoa era doido. Diz que o poeta tinha três personalidades: Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro. Doido ou não, sei que sinto como se eu fosse uma reencarnação de Álvaro de Campos. Não é brincadeira - sempre vejo a mim mesma falando através de Álvaro de Campos. Quando eu morrer, podem colocar na minha lápide: íssima, íssima, íssima...
O que há
O que há em mim é sobretudo cansaço — 
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço.
A sutileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas — 
Essas e o que falta nelas eternamente —; 
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada — 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser...
E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
Um supremíssimo cansaço, 
Íssimo, íssimo, íssimo, 
Cansaço...
2 comentários:
Fernando Pessoa é o grande gênio da literatura mundial. Só ele mesmo pra nos mostrar que "metafísica é uma consequência de estar mal disposto", que "toda despedida é uma morte", que "as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria" e tantas outras coisas.
P.S.: Eu, poeta? Tá de sacanagem, né??? rsrsrsrs
Em Lisboa, quando sentei ao lado do Pessoa, perguntei: Oi quem és?
Logo dei um trago num tabaco e logo entendi que ele olhava para a tabacaria..
Neste momento era ele...
Identifico-me com todos os Pessoas e pessoas. Através dele pude ver meu semblante mudar. Uma vez o Reis falou: Tão cedo passa tudo quanto passa... Tudo é tão pouco. nada se sabe, tudo se imagina... E cala. O mais é nada.
Noutro momento disse: - Quer pouco: terás tudo. Quer nada: serás livre!
Depois conheci o Álvaro, logo ele disse: Aproveitar o tempo! Mas o que é o tempo, que eu o aproveite?
Por fim, o mais é nada, e o nada é tudo...
Postar um comentário