domingo, setembro 07, 2008

Estive na última semana em Natal para apresentar um artigo no Intercom (e farrear um pouquinho, porque ninguém é de ferro hehehe). Daí, como pessoa observadora que sou, fiquei reparando na postura, nos hábitos desses seres estranhos que são os pesquisadores.

Algo que me chamou a atenção foi a diferença gritante entre as discussões realizadas no congresso de iniciação científica, o Intercom Júnior, e os debates nos núcleos de pesquisa, que abarcam de mestrandos pra cima.

Primeiramente, é incômoda a maneira como o núcleo de semiótica discute. Explico: a elite intelectual da PUC e da USP se reúne numa sala e fica falando um lero lero para só eles entenderem. Houve uma apresentação em que eu não entendia absolutamente nada do que a congressista falava, mas compreendia o texto dela, que estava em grande parte nos slides. Uma fala que seria para simplificar e sintetizar, só complicava. Depois de duas palestras seguidas em que eu entendia muito pouco do que os especialistas falavam, eu comecei a entender o porquê de a moça da organização, que pedia para assinar a lista de inscritos na porta da sala, ter olhado para mim bastante surpresa com o meu interesse em ver as discussões sobre semiótica.

- Olha, aqui é o núcleo de semiótica - disse como quem pergunta "mas você, assim tão novinha, realmente quer participar?".

Fui embora do núcleo. Eles, que são semioticistas, que se entendam. Talvez não por pedantismo ou coisa do tipo, mas porque realmente é muito difícil falar de conceitos tão complexos em apenas 20 minutos no máximo.

Em outros NPs as discussões foram bem compreensíveis, ao contrário do NP de Semiótica. Os NPs de Audiovisual e de Teoria da Comunicação trouxeram discussões bem interessantes. Agora, uma coisa os diversos NPs têm em comum: o fato de os pesquisadores se digladiarem no congresso.

Diferente do que ocorre no Intercom Júnior, onde os estudantes só intervêm para demonstrar interesse pelo trabalho do outro, os NPs são verdadeiros campos de luta. Não sei até que ponto certos debates são embates teóricos ou de egos. Sei que você chega lá e vê um doutor apresentar a sua tese em 15 minutos, e depois aparece não sei quem para dizer que o conceito que ele utilizou é "vago", ou Fulana falar sobre sua dissertação em andamento e Cicrano dizer que, ao contrário do que ela afirma, o cineasta X é realista e recomenda um livro tal. Aí depois a Fulana diz que se ele ler a edição tal de uma determinada revista de crítica de cinema, ele vai ver que o tal cineasta declarou em entrevista que está muito equivocado quem diz que ele é realista. E etc etc etc.

Apesar do embate de teorias (ou egos, quem sabe) ser meio hostil às vezes, é até divertido ver o povo debatendo. É que no Intercom Júnior muito pouca gente se interessa por discutir o que um estudante fala. Fica aquele olhar compreensivo, aquela coisa "mas que bonitinho o Fulaninho ali apresentando". Já no NP, se por um lado há muita vaidade intelectual, por outro há mais questionamento, mais crítica, e crítica, quando feita de maneira saudável, é uma coisa essencial em pesquisa. Mas, ao que parece, nos próximos anos o Intercom vai misturar os pesquisadores dos mais diversos níveis. Não sei se é uma boa. Vamos ver se os estudantes terão de exercitar mais o lado crítico e os especialistas sairão da torre de marfim, ou se os estudantes serão escrachados, ou as duas coisas.

Um comentário:

Álvaro Müller disse...

Eu dou é risada com a maioria desses doutores da Comunicação. Em se tratando de jornalismo, muitos jamais pisaram numa redação. E, pelo menos para mim, quem nunca pisou em uma redação não é jornalista. Digo isso em qualquer fala minha para estudante. Disse isso em sala de aula, enquanto professor de Jornalismo. Direi tantas outras vezes mais, sempre que julgar necessário. E mais, professores sem experiência prática são um câncer em qualquer curso que se preze. Isso porque teorizar é fácil demais, agora, na hora de entrevistar um homicida, de se deparar com uma família com fome, de ouvir uma mãe que perdeu um filho assassinado, de entrar em bocada, de ficar em meio a tiroteio – como eu já fiquei –, de sair escarafunchando vidas, revirando lugares e documentos em busca da melhor informação, aí eu quero ver quem é quem.

Quase sempre os teóricos do Jornalismo se debruçam sobre o que não conhecem. E tenho dito.