quarta-feira, janeiro 24, 2007

Senhorita Olívia

Era mais uma amiga da minha tia que só vive na igreja. Às vezes, quando vou à casa da minha tia, fico impaciente com a quantidade de padres, freiras e beatas que encontro por lá, e acabo me isolando em algum canto da casa para ouvir música ou ver filmes. Só que dessa vez essa amiga da minha tia, a quem darei o fantasioso nome de Olívia, demonstrou um particular interesse por mim e não me deixou em paz de jeito nenhum.

Assim que cheguei, ela segurou a minha blusa e leu os dizeres em inglês que havia nela. Eu disse que nunca tinha reparado no que estava escrito ali, e Olívia me aconselhou a sempre prestar atenção ao que estava escrito nas minhas roupas, pois eu poderia um dia passar alguma vergonha. Mas o que me intrigou foi a lentidão com que ela leu as palavras, e a forma como olhava atentamente com algum grau de lascívia não sei ao certo se para meus seios ou para as letras. De cara eu fiquei desconfiada.

Daí por diante, ela me seguia para onde quer que eu fosse e me contava algumas dezenas de histórias sobre seu trabalho, sua família. Eu, sempre muito educadinha e receptiva, acabei dando a entender que estava muitíssimo interessada no que ela tinha para me falar, quando na verdade, eu não via a hora de ela sumir da minha frente.

Estava com muito sono, e sentia minha cabeça zonza com tanta chateação, e tive a minha vontade tão típica de gritar. É que quando passo muito tempo escutando alguém por pura obrigação, sinto fortes impulsos de gritar e gritar como uma forma de vomitar todas aquelas palavras desinteressantes bem na cara de quem me incomoda. Isso acontece porque não sei dar fora em ninguém, então fico lá gritando dentro de mim, e explodindo a minha cara com tanto odioso tédio.

Continuamente, entre uma frase e outra, havia um gesto de aproximação, uma tentativa de aproveitar algo do meu corpo, com mãos sobre minha perna e uma volúpia disfarçada de amabilidade inocente. Então, houve um momento em que ela, depois de falar zilhões de coisas sobre si mesma, me perguntou sobre minha família.

- Você tem irmãs?

Intrigou-me o fato de ela me perguntar por irmãs, e não por irmãos, no masculino, como todo mundo faz, dado que se podem ter irmãos e irmãs e na nossa língua machista o plural é masculino, mesmo que haja dez mulheres e somente um homem.

- Não, tenho apenas irmãos.

- Ah, mas então eles devem morrer de ciúmes quando você arranja algum namorado, não é verdade?

De alguma forma, senti que o objetivo único da pergunta era saber de eu já tinha tido algum namorado na vida.

- Não, eles tinham ciúmes antigamente, mas hoje em dia acho que não, ou muito pouco.

Não pude deixar de perguntar se ela era casada.

- E a senhora? Tem marido, filhos?

- Não.

- Já foi casada?

- Também não, nunca casei.

Depois de algum silêncio, em que fiquei me perguntando se teria sido indelicada ao perguntar-lhe se nunca havia sido casada, dado que a resposta poderia lhe causar algum embaraço. Então ela pôs-se a me falar sobre sua fé, suas paixões no mundo.

- Ah, mas o que me encanta é o convento. Desde meus 12 anos que queria ser freira.

- A senhora é freira? – Perguntava-me se deveria chamá-la de senhorita, posto que não era casada, mas talvez não lhe soasse bem, e depois sempre imaginei senhorita como palavra usada em outros séculos e que cabia em moças debutantes.

- Não, não sou freira – e colocou, como tantas vezes o fez, a mão na minha perna, e me olhou, oras, com o mesmo sorriso de todas as lésbicas que já conheci, mas não me pergunte sobre esse sorriso – Mas me encanta, me encanta muito o convento. Gosto muito de ir lá.

Enquanto ela falava de Deus e distanciamento das coisas mundanas, eu só conjeturava em minha fértil e precisa imaginação, a respeito das carícias trocadas entre ela e outras freiras, sobre prováveis chupadas no convento ou quem sabe encontros sutilmente táteis, acanhados no meio de tantos orações sobre pecados e imagens sacras, mas que lhes proporcionavam imenso prazer.

Mas talvez fosse só leviandade minha, talvez! Entretanto, muito me convenci do fascínio de Olívia por mulheres ao vê-la também tão interessada em uma moça da minha idade, muito bonita e não sei se amiga da minha tia ou do namorado dela. Olívia lhe dava pequenas palmadas na perna, e uma dedicada atenção à sua blusa.

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