sexta-feira, janeiro 19, 2007

Esquecer de amar

Depois que você passa muito tempo sem amar
Esquece do que seja amor
E até duvida da sua existência
E nem sabe se um dia mesmo amou

O mundo de quem ama
É diferente do mundo de quem não ama
Posso dizer que o mundo de quem ama é bem maior

No mundo de quem ama
Todas as palavras foram tiradas do seu sentido original
E viraram metáforas
Todos os acontecimentos saíram dos jornais
E viraram poesias

Há momentos que só quem ama pode ter
Só quem ama pode saber
Porque alguém que jamais amou

Nunca vai saber
De tudo que está guardado naquele pote com folhas de rosa secas
Pois ela não queria que as flores fossem descartáveis, fossem só para enfeitar a sala por uns dias, e as guardou porque eram dele, eram tudo o que eles haviam passado juntos

Nunca vai saber
De tudo que havia
Num retrato tirado naquele dia em que tomaram banho de rio, num rio de águas geladas e limpas em terras de longe, onde se podia viver em paz, mas onde só passaram uma semana, porque tinham deveres

Nunca vai saber
De tudo que havia
Numa folha de papel em que ela lhe dizia coisas banais
De tudo que estava guardado embaixo dos lençóis
Quando conheceram o corpo e um do outro
E se conheceram muito mais
Foram homem e mulher

Não, Quem nunca amou não vai entender do que estou falando
Mas quem se esquece do que seja amar começa também a não entender
Pode sentir saudade de tudo
Dos pequenos gestos que amou
Do aconchego do abraço que amou
Do beijo que depois os deixavam com vergonha, da timidez de quem está começando a gostar e não sabe o que faz com tanta coisa

Sente saudade até de ter chorado de amor e de ter encontrado em todas as músicas
uma voz que compartilhava do seu sofrimento
De ter achado em todas os poemas o sentido da sua dor

Mas não tinha saudade, disto não tinha saudade
De ter um dia ouvido as palavras que tocavam no seu ponto fraco
Quando mexeram com sua maior angústia como se aquilo fosse banal
De ter um dia cometido com alguém
O erro que sempre cometera consigo
Disso não tinha saudade

Mas de uma coisa tinha certeza
Que amar valia a pena
Valia sim!
Só que já tinha esquecido de amar...
E até queria amar, mas só quando fosse preciso!
Talvez não tivesse se esquecido do que era amar
Afinal, se assim fosse não teria feito esse poema.

6 comentários:

Danilo disse...

Pô, antes de amar a vida passada é só a vida passada: simbôlica e distante.

"Todas as palavras foram tiradas do seu sentido original"

e nem só as palavras, mas a vida toda é novamente roterizada.

Danilo disse...

*simbolica

Anônimo disse...

Eu não tenho o menor tato para falar desse assunto, dessa poesia, e outra, tenho menos ainda experiência. E fico, no momento, triste por isto. Por lembrar-me disto. Mas deixa para lá.

tatiana hora disse...

oowwnn

eu não esperava receber um comentário desse!

agora não sei o que dizer!

bjos, seth

:*****

Tudo disse...

sinto saudades de amar, mas não esqueço o gosto, a dor, a delícia, a emoçao ... e quero poder repetir muitas vezes ainda tudo isto, e se desse com pouca dor .. prá que rimar amor e dor??
beijo
(adorei o post!)
:)

Ela disse...

Vale a pena...sempre vale...mas as vezes a gente se esquece, ou se deixa apenas esquecer...
Lindo texto querida...Parabens! ;)