terça-feira, agosto 22, 2006

Uma noite fora de casa

Um ambiente de penumbra, vodka, risos lascivamente debochados, música ordinária e gentes escondidas em algum canto onde se possa ser íntimo, ou sendo íntimo sob nossos olhos porque ali tudo pode ser. Às vezes é entediante tanta orgia de palavras, de gestos, de vez em quando um vômito, um choro, um escândalo. Profundamente entediante, mas já passa da meia noite, e não tenho dinheiro suficiente para o táxi.

Não dá pra conversar por mais de dez minutos com alguém que não consegue articular os vocábulos. Dou um riso qualquer, os risos são sempre bem-vindos.

- Mas você tá rindo de quê?

- Como?

- É, o que foi que eu disse?

De fato, os bêbados podem estar plenamente conscientes.

- Nada, eu ri apenas pra lhe agradar. As pessoas gostam de risadas, não?

Odeio bêbados que puxam pelo braço. Ainda vai chegar o dia em que os brasileiros serão como os franceses e mal irão se tocar. Então será um povo civilizado. Pior do que esses idiotas que insistem em me puxar são aqueles benditos ébrios que, repletos de sapiência, começam a discutir literatura, filosofia, sociologia, política, etc e tal.

- Meu bem, divagações têm de ser curtas.

Essa noite que não tem fim. Bebo mais e mais, porque há de saber que todo bêbado se diverte, indenpendente de onde ele está. Às vezes me levanto e faço um quatro, só para garantir que meu corpo não estará mais tarde à disposição de quem queira, pois não confio de jeito nenhum nessa gente.

De vez em quando alguém me pede licença, estou sentada bem na frente de um quarto com um copo na mão e olhando pro espelho. Fito o meu aspecto exausto de tédio. Tive um desejo infantil de ver minha imagem refletida se movendo num ritmo diferente do meu. Será que eles fazem uma orgia lá dentro?

Não sei o que levou tanta gente àquele quarto. A narradora aqui não é onipresente, veja bem. Sei que beijei um cara que não lembro o nome só pra passar o tempo, e merda, ele falava demais, e muita besteira. Ele queria trepar, eu disse que não fazia sexo com ninguém na primeira noite. Fora isso, uma menina usando meias vermelhas vomitou perto de mim, e algo que antes era vinho veio parar no meu pé.

É uma longa caminhada até o ponto de ônibus debaixo do sol sonolento, vou passando pelos feirantes que erguem suas barracas e arrumam suas frutas. Dá vergonha de ver gente trabalhando enquanto ainda sinto álcool na boca.

Eu me pergunto como porra deixei de cumprir meus deveres para ir àquela festa de pessoas sujas.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse é o tipo de festa que o tipo de gente que eu ando chamaria: Festa 'bonita'!! - ou até - Festa deprimente! (e 'deprimente' nos têm um certo tom agradável). E claro que depois de dito isso vêm as risadas.
Com certeza já estive em festas assim; na verdade, muitas festas são assim mesmo! kkkkk.

Li o que danilo comentou (e também a sua resposta) num post passado. Não sei... às vezes não é clara distinção entre um fato real, vivido por quem escreve, e a ficcção desse fato. Principalmente quando escrito num blog. De qualquer forma, eles demonstram seu posicionamento frente à realidade - e, neste caso, eu não saberia dizer se você seria uma pessoa moralista e eurocêntrica, ou simplismente não estaria para festas... =P

tatiana hora disse...

aí é que você se engana por achar que o que escrevi mostra meu posicionamento frente à realidade. é claro que em uma coisa ou outra, imperceptível para quem não me conhece, há coisas minhas no que escrevo. por exemplo, eu posso contar a história de um cara racista, e mesmo eu sendo completamente contra o racismo, possa crer que vai ter alguma coisa minha nele. eu acho engraçado isso, acontece demais de me perguntarem, ei, mas essa pessoa é você, né? mesmo que o texto não seja lido num blog, mesmo que eu já tenha dito que era uma historinha que escrevi pra passar o tempo, e que não é real.

Anônimo disse...

É ótimo saber disso! =D