sábado, dezembro 03, 2005

Perigosamente apaixonados


Poesias, cartas, lágrimas por filmes, flores, sonhos, palavras insanas. O universo daqueles que se apaixonam fácil e exageradamente é tão belo e frágil como uma enorme casa de vidro a beira mar. Estar apaixonado para eles é um estado narcótico. É como andar na corda bamba e transformar a vida num mundo fantástico.

Aqueles que se apaixonam fácil são pessoas intensas, alcoólatras, fumantes, compulsivos das mais variadas formas, apaixonados... Eles estão sempre em busca do ópio que os libertará das amarras da realidade pusilânime. Só que o eterno dilema dos perigosamente apaixonados é que eles não se apaixonam pelo outro, mas pela própria paixão.

Então eles acabam não gostando de ninguém. E esse fogo todo que arde sem se ver nasce da ausência de si mesmo, do não se gostar e estar sempre em busca daquele que irá gostar em seu lugar. Aí está o grande problema. Ninguém veio ao mundo para salvar ninguém, e quando o indivíduo não gosta de si mesmo, não tem essa, fudeu. Vai se deparar com toda forma de humilhação, falta de respeito, descaso, e uma série de torturas que só vão fazer aquele que não se ama, amar-se menos ainda.

E por não se gostar e perceber a displicência do objeto amado, ele inconscientemente acha que só irá conseguir conviver consigo mesmo se o outro se unir a esse seu eu perdido no mundo. Na incrível maioria das vezes a paixão não correspondida resulta em desprezo, e esse desprezo é recebido pelo apaixonado como uma distância, uma forma de tornar o amor platônico, mesmo quando a relação carnal está envolvida.

Pessoas assim sofrem muito. Quando se deparam com um tipo igual ao seu, a intensidade dos dois tende a levar a uma relação explosiva, uma catástrofe eu diria. Quando conhecem alguém que leve mais tempo para se apaixonar, inquietam-se e ficam insaciáveis e inseguros.

É difícil encontrar alguém que veja beleza nas suas loucuras, e que acompanhe a sua cadência histérica formando um belo conjunto. Na maioria das vezes, o que acontece é só o desprezo, o descaso, a falta de carinho. E os perigosamente apaixonados descobrem que a fórmula para acabar com a solidão não era essa, que tantas vezes tinham alguém ao seu lado e estavam tão só, completamente só, com suas angústias, seus medos, e seus afetos não correspondidos.

Talvez um dia descubram a afável aventura de se apaixonar por si mesmos, e desvendem tantas outras incríveis paixões ao seu redor, outras formas de amor, arte... Não para poder encontrar alguém, mas para conseguirem conviver consigo mesmos. Aí eles não vão se sentir tão desconfortáveis com a solidão, e se tiverem alguém ao seu lado, não vai ser buscando o pedaço que falta, mas crescendo juntos e vivendo um simples e modesto bem estar, a calma.

3 comentários:

Anônimo disse...

"E os perigosamente apaixonados descobrem que a fórmula para acabar com a solidão não era essa..."

Então qual era? :(

tatiana hora disse...

oh, meu querido erick, não sou guru de auto-ajuda pra ter resposta simples pras coisas... só que no texto eu falo em se apaixonar por si mesmo, o que é bem complicado. já leu um texto do john lennon sobre isso? lindo! posso lhe mandar por email. beijos. :)

Anônimo disse...

Por favor ^^ kinho_ms@hotmail.com

Hmmm... "que alguma coisa a gente tem que amar, mas o quê, eu não sei". Acho que vivo atrás de paixões, sou apaixonado por paixões... Tem razão. Música, Cinema, arte em geral... é fácil lidar com essas paixões, mas gostar de outra pessoa é oooutra história. Idealiza-se demais... busca-se no outro o que não há em si. Eu preciso me apaixonar por mim. Hum...

Bem, espero o texto... Brigado =]