terça-feira, outubro 09, 2007

Homens de preto


Muito ouvir falar no curso de inglês, no trabalho, na faculdade sobre o aclamado Tropa de elite, que apesar de ainda nem ter estreado no cinema, já foi visto por muita, mas muita gente. Tanto falaram, mas tanto falaram, que acabei vendo o filme por acaso na casa de uma amiga, quando eu ia apenas visitá-la e falar um pouco da vida. Mas foi uma boa surpresa: um filme é fantástico, certamente um dos melhores filmes brasileiros que já vi, junto com Amarelo Manga e O cheiro do ralo. Aliás, esses filmes estão incluídos na minha lista de filmes favoritos, mas vamos à Tropa de elite.

O que mais me chamou a atenção no filme foi a forma como ele fala do tráfico. Esse foi o grande mérito. Se os filmes costumam sempre mostrar os traficantes que eram meninos pobres versus os policiais filhos da puta que entram na favela atirando, dessa vez a perspectiva mostrada é a do policial fudido, que tem medo de morrer, que tem família, e tem que subir num morro correndo risco de vida e ainda ganha um salário de fome no fim do mês.

Resultado: toda obra é pemeada pela perspectiva do policial, e ouvimos pérolas do tipo Ricos com consciência social não conseguem entender que guerra é guerra, Homem de preto qual é sua missão? Entrar pela favela e deixar corpo no chão!, ainda assitimos a uma cena em que um policial mata um traficante, para então perguntar ao estudante maconheiro:

- Quem foi que matou ele? Me diga, quem matou esse cara?

- Eu não sei, eu não vi...

- Me diga, porra, quem matou ele?

- Você.

- Eu? Eu? Quem matou foi VOCÊ. Seu maconheiro, viado, maconheiro, viado!!!!

É. De cara, eu achei o filme reacionário, afinal, parece que a violência na favela não tem jeito, e estamos numa guerra e acabou-se, e a culpa do mundo ser uma merda é de quem fuma um baseado. Mas pense bem: o filme é na perspectiva de um policial. E se você fosse um policial fudido que tem família, tem medo de morrer, e sobe num morro correndo risco de vida para ainda ganhar um salário de fome no fim do mês, certamente você pensaria numa coisa: traficante é bandido e merece morrer, e estudante maconheiro é filhinho de papai filho da puta que merece tomar uma surra.
Pra mim foi justamente por Tropa de elite não tentar ensinar o politicamente correto, mas sim mostrar o olhar do policial que entre "ser negligente, corrupto ou ir pra guerra, escolheu ir pra guerra". O filme conta uma história em que Capitão Nascimento, Mathias e Neto tentam lutar contra a corrupção da Polícia, e não conseguem porque há toda uma estrutra enraizada na falta de ética e nas relações de poder. Tropa de elite, ao invés de achar culpados e falar de bandidos e mocinhos, faz a gente pensar sobre as regras do jogo. E elas precisam ser modificadas.

Um comentário:

Adelvan Kenobi disse...

pow, parab�ns por ser uma das pessoas mais sensatas a comentar o Tropa de Elite. Nada a ver dizer que o filme � "fascistizante", essas pessoas parecem que queriam ver na tela mais uma novelinha preto no branco politicamente correta da globo.