quinta-feira, janeiro 19, 2006

O pai, o pai, o padre, e o altar

Ela fica bem melhor com a saia verde, essa saia rosa a deixa vulgar, detesto quando vou com ela à padaria e os homens a olham de cima a baixo. Quem é esse amigo dela? Um rapaz tão bonito, o Bruno, deixe eu me inclinar, essa blusa tem um belo decote, o sutiã favorece meus seios, ele me chamou de tia. Maldito.

Procurei tanto no shopping uma saia rosa daquele mesmo modelo, só que mais decente, porque sou uma mulher honrada. Esses espelhos de loja me deixam menos bonita, eu pareço mais gorda, não, não vou levar.

O meu rosto tem marcas de tristeza. Eu olho pro espelho e me lembro do mar, aquele que se desfaz no horizonte onde a alma da gente se perde. Povos antigos diziam pra não navegar adiante porque num determinado momento o barco iria cair num abismo infinito. É lá onde a alma da gente cai quando fita o mar.

Como sentir nojo de um beijo nas costas? O frio que sobe sem seduzir, parece medo, acaso não é o desencontro de almas ausentes em corpos enjaulados na cama, aquela cama que eu tinha de dividir, todos os espaços deviam ser divididos, o anel brilha no dedo, somos um.

Foda-me. Uma foda tão típica, já fez a barba? Foda-me. Bruno, sim, sim, me coma como uma vadia. Eu sou uma safada que devora prazeres e te arranha com garras, lhe preparo um boquete para quando acordar. Imagine só, Bruno, você acordando, sentindo o gelo do prazer trespassar a pele e cortar os seus olhos para abrir um novo dia, ah, minha cabeça lá, no meio de suas pernas, chupando sua pica.

Eu fito o pau duro de Eduardo coberto pelo moletom enquanto o sol está nascendo. As mãos brincam com o cordão, boca, língua, pênis. Desisto. Ele não quer, não sei, pra quê, será, melhor não. Deixe assim.

Meu bem, eu já vou trabalhar, viu? Vê se você se não se atrasa pro seu trabalho hoje, ein? Um beijo na testa é o contato mais casto, e aquele que dá o beijo na testa está no comando. Estranha a nossa relação, eu não sou submissa a ele como mulher, mas ele tem poder sobre mim como um pai. Todo o seu excesso de cuidado dissimula a sua dominação.

Minha filha vestida com sua camisola transparente, onde suas curvas se desenham como sombras lascivas, recebe dele um beijo na testa. O mesmo beijo que eu recebi.

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