Sempre que ele come meu cu, logo se levanta para ir ao banheiro e me deixa largado no colchão cheio de afetos negados. Ouço a água do chuveiro. Ele se lava, se lava, se lava pra tirar toda a sujeira de bicha que ele pegou de mim. Mas não é porque eu sou bicha que eu mereço ser tratado desse jeito. Meu bem, não são apenas as mulheres que precisam de um abraço após a foda.
Ele diz que só come, não me deixa penetrá-lo. Mas diabos, em nenhum sentido ele me deixa penetrá-lo. Ele está sempre lá com suas poucas palavras, suas baforadas de cigarro, seu olhar que não diz (quer apenas descobrir), sua impaciência diante da minha tagarelice inoportuna e o seu cinto de grande fivela que coloca na calça com a força de homem matuto. Tenho sempre medo do cinto, de um dia ele ter raiva do meu cu e me machucar com o cinto, mas ele de uma forma ou de outra não já está me machucando?
Eu queria muito que ele me deixasse comer o cu dele. Nunca fui bicha passiva, sempre preferi comer a dar. É que às vezes, por paixão, a gente se vira - literalmente. E não lembro de ter tido nojo desse amor que mistura suor e merda. Talvez um pouquito de culpa, mas minha safadeza sempre superou tudo isso.
Na verdade, quando bebê, certa vez minha mãe me encontrou me lambuzando com minha própria merda. Ela contava a todo mundo essa história dando muitas risadas, que havia ido em busca de uma fralda e quando voltou lá estava eu, com um sorriso maroto de dentes defecados e bosta nas pequeninas mãos. Até que eu "virei gay" e ela parou de comentar sobre esse dia.
Ele desliga o chuveiro. Agora que se banhou nas águas do Rio Nilo deixou de ser viado. Haha! E me olha como se não cagasse, como se fosse um ser supremo em sua conduta misteriosa, e eu o ÓBVIO, o sincero demais, o emotivo demais, o que de tão evidente provoca desprezo.
Eu sei que eu não posso dormir aqui, que eu tenho que ir embora logo porque dormir juntos é coisas de viado (trepar não). Mas não trepamos - ele trepa sozinho. E se faz de educado oferecendo o dinheiro do táxi. Eu aceito. E me sinto a grande puta barata. Eu não mereço o cheiro dele, seus lençóis, o seu corpo nu adormecido, a sua distração de quando está sonhando. Eu mereço algumas lapadas de pica e o dinheiro do táxi. Uma vez ele me disse a mesma coisa que um amigo viado também falou.
- Dois homens não se amam... isso não existe. É muito estranho.
Passo pelo porteiro e eu sei que ele sabe, porteiros sabem da vida de todo mundo. Nesta noite, o taxista é o mesmo de ontem. E novamente ele pergunta se estou achando ruim aquela música do Reginaldo Rossi, e eu digo de novo que não, pode ouvir.
- O senhor é corno? - pergunto.
- Sim.
O taxista virou-se para o banco de trás e deu gaitadas. Depois mexeu no crucifixo sobre o espelho do carro e, olhando para mim através do espelho, disse:
- Sou corno sim e o senhor é viado.
Rimos.
- Eu sou corno e viado.
5 comentários:
aaaaaaaaaaaa, da cú por paixão........
beijos
Tati, esse texto é seu?
responda logo!
é meuuu
quando é de outra pessoa eu cito o autor... aprendi com a ABNT kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Do caralho, Tatete.
xeru, véia!
Menina, ADOREI.
Adoro textos tão reais
que quase sentimos o cheiro.
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