segunda-feira, maio 04, 2009

Elephant (1986), Alan Clarke


Elephant (1986), de Alan Clarke, representa diversos assassinatos que não têm uma ligação lógica de maneira a estruturar uma narrativa. A câmera segue os personagens através de travellings, às vezes pára e deixa o personagem seguir em frente, percorre espaços de corredores, ruas, faz-nos andar junto com a vítima ou com o assassino (às vezes não sabemos se estamos atrás da vítima ou do algoz), de forma a nos lembrar Elephant (2003), de Gus Van Sant. Elephant, de Alan Clarke, de fato influenciou o filme de Van Sant, uma ficção sobre o famoso massacre na escola americana de Columbine, episódio que também deu origem ao documentário Tiros em Columbine (2002), de Michael Moore.

Como um filme sem música, Elephant traz o silêncio das ruas e dos cômodos onde ressoam os passos dos personagens, até os tiros ecoarem violentamente contra o silêncio. A câmera nos coloca em posição de distanciamento em relação às vítimas e aos algozes, com planos abertos e pouco vemos dos seus rostos (em apenas dois assassinatos vemos o primeiro plano do semblante do assassino). Nos diversos assassinatos representados, há close sobre a arma no momento do tiro. Esse close evoca o poder que a arma proporciona aos assassinos, que diante da vida alheia comportam-se com uma indiferença e uma sensação de poder assustadoras.

Algo que se repete em todos os assassinatos do filme é que vemos o cadáver da vítima em plano geral com câmera fixa. Há um respeito na representação da violência, o próprio filme não banaliza a morte, ao contrário dos algozes. Ao optar por apelar ao espectador para que observe o cadáver, todavia utilizando o plano geral com câmera fixa, a câmera não espetaculariza a violência, mantendo uma postura respeitosa diante do corpo estendido ao chão.

Algumas cenas que me marcaram: o travelling para frente em plano geral segue duas pessoas fazendo caminhada pela manhã ainda cedo, rodeadas pela bela paisagem verde e o céu com neblina. A imagem bela contrasta com a violência que se segue, quando vemos um homem vindo na direção contrária ao fundo do quadro que atira em uma das pessoas, enquanto a outra corre e termina não sendo morta pelo assassino, que segue caminhando tranquilamente. Outra cena: a câmera faz um movimento de travelling para trás e acompanha homem andando por uma rua. O trabalho da profundidade de campo provoca suspense, pois ao fundo está um homem seguindo-o. O personagem adentra na sua casa e a câmera o segue em travelling para frente, até parar diante da porta da sala, quando o assassino adentra o quadro e atira no homem que seguia e num garoto que jogava videogame.

O filme termina seguindo dois homens vestidos com sobretudo preto, que depois encontram outro rapaz usando a mesma roupa, até pararem no que parecia ser um estacionamento. Um deles vira para a parede e é morto a tiros. O último plano do filme é do seu sangue escorrendo na parede. Fica a pergunta: será que os homens de preto da última cena faziam parte de algum grupo de serial killers que depois resolvem matar uns aos outros?

Nenhum dos crimes tem explicação. Todos os assassinos pegam as pessoas desprevenidas, tirando-nos da segurança dos crimes com motivos. Sabemos que em boa parte dos filmes de serial killers no final ele pára e explica para algum personagem e para nós espectadores o porquê de seus crimes. Elephant constrói um universo onde uma vítima da violência é vítima de um crime banal, é vítima do acaso. Tais quais os estudantes da Escola de Columbine.

2 comentários:

Débora disse...

tem um outro que eu assisti, que é parecidissimo com elephant, só que muito mais bem feito. eu acho que é o ultima parada 174. achei fantástico o filme.

Débora disse...

pere.. ultima parada 174 né aquele filme brasileiro do cara do onibus?

O.o

velho, embolei as coisas aqui, nd a ver do chicote.. ._.

a peste agora é que eu não vou lembrar nem a pau do nome do filme só por causa dessa confusão non sense que eu fiz agora.. HAHAHA