sexta-feira, maio 15, 2009
Divã (2009), José Alvarenga Jr.
Quando assisti a Divã, uma das primeiras impressões que tive é que minha mãe ia adorar. Sim, acredito que se trata de um filme dedicado às mulheres de meia-idade, especialmente as divorciadas.
Não por acaso Mercedes, nossa protagonista, tem um caso extraconjugal com Téo, interpretado por Reinaldo Gianechini. O romance dela com o ator global tem caráter totalmente evasivo – que coroa não ia querer namorar o Gianechini, aquele que namorava a Marília Gabriela? O filme também apresenta ingredientes como a figura da melhor amiga, do cabeleireiro gay, conversas sobre maquiagem, enfim, coisas que supõe-se que façam parte do chamado universo feminino.
Apesar de apresentar cenas bastante evasivas, Divã não oferece happy end. Aliás, esse é um filme que tem como tema a perda, a dor da separação das pessoas que amamos. Mercedes se divorcia do marido, Teo a abandona, sua melhor amiga morre, seus filhos crescidos se retiram aos poucos da sala de estar dizendo que vão sair e a deixam sozinha assistindo a Os cafajestes (1962), de Ruy Guerra. A cena de Os cafajestes é justamente o famoso longo plano em que a personagem de Norma Bengell fica nua numa praia enquanto dois playboys que haviam roubado sua roupa rodeiam-na num carro, momento em que a câmera é agressiva com a personagem. Mercedes tem algo de Norma Bengell em Os cafajestes? Quem sabe a nudez como se mostra para nós espectadores, que invadimos sua privacidade em pleno divã.
O psicanalista com quem Mercedes conversa não chega a aparecer na tela, e tudo o que vemos é a sua sombra. Enquanto Mercedes fala, a câmera nos coloca no ponto de vista do psicanalista, ou seja, essa é uma experiência metalingüística em que o filme fala da própria espectatorialidade e insere o espectador como voyeur na ação, um voyeur para quem a protagonista fala dos seus segredos mais profundos. Outro filme que faz uma reflexão sobre o voyeurismo no cinema é Kika (1993), de Pedro Almodóvar, no qual Almodóvar faz uma homenagem a Janela indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock, outra película cheia de metalinguagem. Em Kika, a protagonista que dá nome ao filme maquia um morto que ressuscita. Já em Divã, a melhor amiga de Mercedes pede para que ela a maquie, pois está pálida e não quer que seu marido a veja assim, mas acaba falecendo ainda enquanto Mercedes passa pó no seu rosto. Não, Mercedes não pode ressuscitar os mortos - têm de lidar com a sua partida.
Após tantas perdas, o último plano do filme é de Mercedes sorrindo como uma mulher forte, que conseguiu superar todo o sentimento de ausência, sorriso que depois é eternizado numa fotografia. Ela não está com nenhum bonitão nem casou de novo, mas algo nos diz que a vida é assim: a gente ama, ama, pra depois um dia a pessoa ter que partir, de uma forma ou de outra.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
eu ri e refleti bastante com esse filme!!! a globo filmes acertou!
hoho
Postar um comentário