quarta-feira, junho 07, 2006

Mestre Tom Zé


Oh senhor cidadão,
eu quero saber, eu quero saber
com quantos quilos de medo,
com quantos quilos de medo
se faz uma tradição?
*
De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão,
esperando e querendo
que eu seja um herói,
que eu seja um herói.

Mas eu sou inocente,
eu sou inocente,
eu sou inocente.

De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo
que eu saiba.

Mas eu não sei de nada,
eu não sei de nada,
eu não sei de nada.

De vez em quando
todos os olhos se voltam pra mim,
de lá do fundo da escuridão
esperando e querendo apanhar,
querendo que eu bata,
querendo que eu seja um Deus.
Mas eu não tenho chicote,
eu não tenho chicote,
eu não tenho chicote.

Mas eu sou até fraco,
eu sou até fraco,
eu sou até fraco.
*
Sobe no palco o cantor engajado Tom Zé,
que vai defender a classe operária,
salvar a classe operária
e cantar o que é bom para a classe operária.

Nenhum operário foi consultado
não há nenhum operário no palco
talvez nem mesmo na platéia,
mas Tom Zé sabe o que é bom para os operários.

Os operários que se calem,
que procurem seu lugar, com sua ignorância,
porque Tom Zé e seus amigos
estão falando do dia que virá
e na felicidade dos operários.
*
Na vida, quem perde o telhado
Em troca recebe as estrelas
*
Em muitos países do mundo a garota
Também não tem o direito de ser.
Alguns até costumam fazer
Aquela cruel clitorectomia.

Mas no Brasil ocidental civilizado
Não extraímos uma unha sequer
Porém na psique da mulher
Destruímos a mulher.
*
Filha da prática
Filha da tática
Filha da máquina
Essa gruta sem-vergonha
Na entranha
Não estranha nada

Meta sua grandeza
No Banco da esquina
Vá tomar no Verbo
Seu filho da letra

Meta sua usura
Na multinacional
Vá tomar na virgem
Seu filho da cruz.

Meta sua moral
Regras e regulamentos
Escritórios e gravatas
Sua sessão solene.

Pegue, junte tudo
Passe vaselina
Enfie, soque, meta
No tanque de gasolina.
*
O amor é velho, velho, velho
e menina.
O amor é trilha
de lençóis e culpa
medo e maravilha.

O tempo a vida lida
andam pelo chão,
o amor aeroplanos
O amor zomba dos anos,
o amor anda nos tangos,
no rastro dos ciganos,
no vão dos oceanos.

O amor é poço
onde se despejam
lixo e brilhantes:
orações, sacrifícios, traições.
*
Esta noite não quero saber de conselho
esqueça, deixe pra lá
me arranja um pecado
quente pra me consolar
pense bem que depois
tem o ano inteiro pra gente pagar

Cinqüenta gramas de amor
veja lá, é um bocadinho
vinte gramas até,
venha cá, é tão pouquinho.
Eu vou morrer se você
não quiser
me arranjar um pecadinho.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tava sem fazer nada - nem dormi inclusive - passei aqui... Tu tá com priguiça né não? diz ai? vai postar mais nunca não? rsrsrsr.

tatiana hora disse...

óia
tô fazendo um monte de coisa.
vo postar sim, não sei qnd, talvez hj.
bjo