sábado, fevereiro 25, 2006

Fausto e a felicidade


Doutor Fausto é um homem que depois de adquirir um vasto conhecimento entrega-se aos prazeres e à irracionalidade. Ele fica tão atormentado ao ponto de quase se envenenar. Deus permite a Mefistófeles tentar Fausto, contanto que não leve a sua alma. Fausto promete entregar sua alma a Mefistófeles caso ele lhe proporcione a felicidade. O que nunca acontece.

A felicidade não existe. É um mito. O que existe são variações de bons e maus momentos, nada mais. A euforia plena nunca é alcançada, e há um limite indeterminado de satisfação. Mas por que o homem nunca é feliz?

Schopenhauer falava que os animais irracionais são movidos unicamente por instintos, e sua memória é instantânea. As necessidades dos animais irracionais se restringem à sobrevivência. Um cão quer comida, ele tem comida, pronto, está satisfeito.

Já os homens são impelidos por desejos, e têm noção de passado, presente e futuro, assim como conhecem a morte. Isso os faz ter medo do futuro, saudade do passado, e se angustiar com o presente. Devido a tanta aflição, suas alegrias são efêmeras. Após a conquista, o tédio e o medo da perda. E o temor da morte é não querer vir a não-ser. Assim fantasiam com um tempo póstumo onde se terá tudo o que não se tem agora, como o descanso eterno depois do mundo do trabalho.

Mefistófeles é a própria serpente. Adão e Eva se encontravam no paraíso, e quando seduzidos pela serpente, acabam provando da Árvore do Conhecimento que os tira para sempre do Paraíso. Lá não havia felicidade, havia paz. Adão e Eva não sabiam, eles só viviam como animais irracionais.

A dialética entre razão e irracionalidade se forma. À medida que o homem conhece, assim como Doutor Fausto, ele tem necessidade de “um algo mais”. Ele inventa e se perde nos vícios, na irracionalidade. Veja as sociedades modernas, tão desenvolvidas cientificamente. A razão e o cientificismo sustentam essas sociedades, mas olhe para os produtos de consumo e observe as pessoas procurando saciar a ansiedade em vestidos, carros, álcool... A felicidade que Fausto nunca alcançou.

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