quinta-feira, março 01, 2007

O trabalho e os dias


Universitários gastam boa parte do seu tempo em filas para tirar xérox. São pilhas e pilhas de apostilas acumuladas durante um período, e uma grana considerável gasta com esse material. O fato é que eu estava numa dessas filas infernais numa copiadora logo em frente ao terminal, quando comecei a pensar no lado de quem está atrás do balcão, certamente bem pior do que o meu. Passo alguns minutos puta da vida num cubículo que mais parece um forno, agora você imagine um cara que trabalha o dia inteiro naquela merda.

Na televisão, Zezé di Camargo e Luciano. É pra dar o último toque de desconforto e mal-estar. Pra mim, claro, porque talvez para o pessoal da copiadora o dvd daquela duplinha sertaneja ridícula seja a salvação para um dia duro de labuta. Não vou entrar aqui no mérito da dupla, mas no de quem passa horas a fio a trabalhar com papéis numa máquina com movimentos que descaracterizam qualquer humanidade.

Não fosse suficiente, há os estudantes que reclamam o tempo todo da folha que saiu assim assado, de não sei quem que furou a fila, e etc e tal. Céus, se existe inferno, ele é trabalhar numa copiadora.

Isso me faz lembrar uma série de trabalhos escrotos. Recordo que num programa de televisão americano exibido no Multishow foram mostrados alguns trabalhos árduos. Entre eles, estava a atividade de segurar uma bacia para receber a bosta liberada pelos lutadores de sumo, pois eles costumam eliminar fezes durante a luta. Ai!

Havia também um cara que masturbava perus para fazer inseminação artificial desse animal e, assim, aumentar consideravelmente os lucros da empresa. Imagine só você passar o dia todo masturbando perus! Ninguém merece!

E há também as putas. Dizem que puta tem a vida fácil. Nunca achei isso. Pra mim puta tem uma das vidas mais difíceis de todas. Quantas taras malucas elas não têm de realizar para aquele cara que não consegue mostrar seu lado mais bizarro pra esposa? Pois é, nada contra taras, mas há certas taras que devem ser muito humilhantes para algumas pessoas. Fora isso, ainda há a feiúra de muitos homens, o preconceito, os maus-tratos, o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, e também de ter um filho não se sabe de quem.

É, mas agora levando pro lado mais sério da coisa, me lembrei dos cortadores de cana. Aquilo sim é um trabalho desgraçado. Através de uma reportagem do Fantástico, soube que muitos deles sucumbem debaixo do sol e morrem de fadiga. Até que alguém acha o corpo estendido no meio da vasta plantação. Eles são explorados, duramente explorados, e ainda assim muitas vezes ninguém é punido por isso.

É, como diz o meu caro amigo Henrique, trabalho não foi feito para dar prazer, se desse, não era trabalho. Só que é cruel alguém passar o dia todo se movendo como uma máquina ou morrer de cansaço. Se Marx diz que a história da humanidade é a história da luta de classes, e Freud que a história da civilização é a história da repressão, vemos uma história que é construída sobre a exploração e sobre a fadiga no lugar do prazer.

3 comentários:

Anônimo disse...

rapaz, uma vez, uvi alguém falando que a teoria para o descaso com os cortadores de cana é de que dejetos humanos são bons fertilizantes.. huauhaahuauhhuahua
é piada de mal gosto, porém, eu ri muito..
:~

e é o que eu sempre digo: pra que vida se a gente tem um trabalho?

Lory Ribeiro disse...

lembro do meu pai... "a gente deve trabalhar pra viver e não viver pra trabalhar" Só que ele não seguiu muito bem as próprias palavras... e de fato. As pessoas acabam trabalhando muito mais do que deveriam precisar, mas o suficiente pra movimentar o sistema em que vivemos... Queria ser uma índia de uma tribo bacana e antes do descobrimento...

Interaubis disse...

é isso aí!

liberte-se!

mas se não conseguir ao menos dê um jeito de pegar sua mais-valia de volta.
sempre dá pra fazer isso...

e principalmente: stress alheio é, como o nome diz, alheio.
resista ao chamado da auto-comiseração (uau, essa palavra...) e não pegue pra você.
:)