quinta-feira, março 22, 2007

Filhadaputagem

No mundo todo os filhos da puta se dão bem. Quem vê nas pessoas peças de um joguinho pra chegar até a vitória, quem valoriza interesses em lugar de afeto, é quem se dá bem. Afinal, dizem que você precisa conhecer as pessoas certas... Essa é a lei do mercado, oras!

É como meu amigo A., entre uma baforada e outra, com todo o seu charme de vilão segurando cigarro e de óculos escuros, me disse certa vez:

- Tati, eu também quero me dar bem. Quero ter meu trabalho reconhecido, quero ganhar dinheiro. Então eu também vou ser filho da puta!

Pois é. Lembro de outro amigo nada politicamente correto afirmar categoricamente: "afeto? afeto por quem? gostar de gente pra quê? melhor gostar de carro, de apartamento. um carro nunca vai botar pra fuder com você."

Será?

quarta-feira, março 21, 2007

Esfriar pra quê?


Quando eu era pequena, minha mãe dizia "Tatiana, não beba o café agora, ele ainda está muito quente, assim vai queimar a língua". Mas não adiantava. Eu queria beber o café naquela hora, e tá acabado! Então queimava a língua e ficava aos berros. Ela também dizia para eu não comer o bolo ainda quente, pois ficaria com dor de barriga. Mas eu queria comer o bolo logo, tanto que gostava mais quando saído do forno a poucos instantes.


Ainda hoje eu queima língua tomando café e tenho dores de barriga por degustar bolos quentes.

domingo, março 11, 2007

Amor divino

Não lhe guardo saudades
Acaso tivesse saudade
ia te querer por perto
mas é perto demais

Sinto antes imensa falta do que não vivi
E tudo está sendo vivido por mim
finalmente agora
pela primeira vez!
E na mais pura clarividência tranquila

Só no lugar seguro do passado
As coisas
todas as coisas
podem ser por mim vividas

Só na lembrança podemos ser felizes por completo
Na presente felicidade há sempre uma parte que quer fugir, que quer voltar, que se esconde e se apavora
Na memória as contingências já estão asseguradas

Amo o passado
Por alguma soberba de querer ser Deus
e construir no céu uma casa
Amar a todas as coisas
Só que de cima

Do alto Deus está isento dos erros
e certo do que virá
Desconhece presente, passado e futuro
e, portanto, desconhece o medo
O medo é a indecisão do tempo

- Os deuses amam lembranças.
A criação do mundo poderia ser a eterna atividade de rememorar -

quarta-feira, março 07, 2007

Copo vazio


Estávamos sentados à mesa em um salão onde acontecia uma festa do lado rico da família, quando o padre veio se juntar a nós. Em verdade vos digo que fico de certa maneira desconfortável na presença de padres, pois não me sinto à vontade para dizer gracinhas ou rir alto. Há de notar que os padres são sempre tão comedidos! Enfim, o fato é que uma senhora com seus cinqüenta anos veio dizer gracinhas e rir alto perto de nós, para minha felicidade.

Como se não bastasse o tom vulgar com que falava, ainda conversava sobre coisas bem mundanas. Vestia um jeans surrado e camisa de sindicalista no meio de todas aquelas mulheres tão... casadas! Ou por casar!

- Sabe padre, não tem coisa melhor do que o vício. O que seria da vida sem os vícios?! É como eu sempre digo: Deus deveria ter-me feito com três mãos, uma para segurar o cigarro, outra, a cerveja, e outra, o baralho.

Não podia me conter, e dava as maiores gargalhadas da audácia dela. Ao fitar o padre, percebi o seu olhar de desaprovação e seus lábios que levemente balbuciavam “meu Deus”. O seu semblante tinha algo de pai, perdoai-a, pois não sabe o que faz.

Agora deixando à parte a soberba do padre, eu me pergunto sobre os vícios. Não só o vício de quem joga, bebe excessivamente, fuma duas carteiras de cigarro por dia, mas também o de quem passa horas a fio na internet ou numa esteira da academia.

Lembro agora do filme Réquiem para um sonho, que trata com maestria sobre os nossos vícios ao abordar não somente o adolescente problemático que usa heroína, mas também sua mãe que assiste à televisão durante horas e horas todos os dias para preencher a falta que lhe fazia o filho e o falecido marido.

É aí em que a gente vê que, assim como aquela garota que se prostitui para comprar cocaína, a gente sente um vazio. No vício, a recompensa. O vício está no lugar de alguma coisa, que muitas vezes a gente nem sabe o que é. Mas está lá, televisão pra fazer a companhia de um filho, coca-cola com gosto de abraço, compras no lugar da coragem para enfrentar.

Todo vício é um medo ou uma saudade. Às vezes alguém tem medo de perder o emprego e fuma o dia todo. Situações tensas são comuns no trabalho, pois lidar com gente não é coisa fácil, ainda mais quando falamos de concorrência. Alguém também pode sentir falta de uma pessoa que já morreu, e comer doces. Assim como a garota obesa que vi um dia desses na Mtv. Todos escarneciam de seu excesso de peso, diziam que era sem vergonhice, que ela não passava de uma comilona preguiçosa. Num primeiro momento, ela ria e concordava. Até cair em prantos diante da câmera falando da fome insaciável que sentiu depois de seu pai falecer.

O que seria da vida sem vícios? Só que de repente a gente pode fitar a fumaça que sai do cigarro, o dinheiro ganho no jogo, a espuma que desliza no copo, e ver que de nada adiantaram três braços quando a gente só precisava de dois.

terça-feira, março 06, 2007

For sure!


Estava na sala de aula aguardando a professora de inglês, quando meus olhos caem sobre esse pôster fixado à parede, com essa engraçadíssima laranja sorridente.

Ok. Toda essa história de sinal pode ser uma grande bobagem, mas isso me caiu muito bem.

Hum, different can be good!

domingo, março 04, 2007

É meu!


Sabe, lembro que quando eu era guria uma vez meu irmão R. deixou um pedaço de pizza quase todo no prato, pois ele já tinha comido muito e só tinha colocado aquele porque seu olho é maior do que a barriga. Mesmo sem querer o tal pedaço, ao me ver pegá-lo para comer ele prontamente choramingou, esperneou e disse que o queria de volta. Comeu aquilo que havia recusado com a maior vontade do mundo, parecia que passava fome há três dias. Só porque outra pessoa iria ficar com o tal pedaço de pizza.


Tem gente que faz isso. Não só com pizza, mas com pessoas também.

quinta-feira, março 01, 2007

O trabalho e os dias


Universitários gastam boa parte do seu tempo em filas para tirar xérox. São pilhas e pilhas de apostilas acumuladas durante um período, e uma grana considerável gasta com esse material. O fato é que eu estava numa dessas filas infernais numa copiadora logo em frente ao terminal, quando comecei a pensar no lado de quem está atrás do balcão, certamente bem pior do que o meu. Passo alguns minutos puta da vida num cubículo que mais parece um forno, agora você imagine um cara que trabalha o dia inteiro naquela merda.

Na televisão, Zezé di Camargo e Luciano. É pra dar o último toque de desconforto e mal-estar. Pra mim, claro, porque talvez para o pessoal da copiadora o dvd daquela duplinha sertaneja ridícula seja a salvação para um dia duro de labuta. Não vou entrar aqui no mérito da dupla, mas no de quem passa horas a fio a trabalhar com papéis numa máquina com movimentos que descaracterizam qualquer humanidade.

Não fosse suficiente, há os estudantes que reclamam o tempo todo da folha que saiu assim assado, de não sei quem que furou a fila, e etc e tal. Céus, se existe inferno, ele é trabalhar numa copiadora.

Isso me faz lembrar uma série de trabalhos escrotos. Recordo que num programa de televisão americano exibido no Multishow foram mostrados alguns trabalhos árduos. Entre eles, estava a atividade de segurar uma bacia para receber a bosta liberada pelos lutadores de sumo, pois eles costumam eliminar fezes durante a luta. Ai!

Havia também um cara que masturbava perus para fazer inseminação artificial desse animal e, assim, aumentar consideravelmente os lucros da empresa. Imagine só você passar o dia todo masturbando perus! Ninguém merece!

E há também as putas. Dizem que puta tem a vida fácil. Nunca achei isso. Pra mim puta tem uma das vidas mais difíceis de todas. Quantas taras malucas elas não têm de realizar para aquele cara que não consegue mostrar seu lado mais bizarro pra esposa? Pois é, nada contra taras, mas há certas taras que devem ser muito humilhantes para algumas pessoas. Fora isso, ainda há a feiúra de muitos homens, o preconceito, os maus-tratos, o risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, e também de ter um filho não se sabe de quem.

É, mas agora levando pro lado mais sério da coisa, me lembrei dos cortadores de cana. Aquilo sim é um trabalho desgraçado. Através de uma reportagem do Fantástico, soube que muitos deles sucumbem debaixo do sol e morrem de fadiga. Até que alguém acha o corpo estendido no meio da vasta plantação. Eles são explorados, duramente explorados, e ainda assim muitas vezes ninguém é punido por isso.

É, como diz o meu caro amigo Henrique, trabalho não foi feito para dar prazer, se desse, não era trabalho. Só que é cruel alguém passar o dia todo se movendo como uma máquina ou morrer de cansaço. Se Marx diz que a história da humanidade é a história da luta de classes, e Freud que a história da civilização é a história da repressão, vemos uma história que é construída sobre a exploração e sobre a fadiga no lugar do prazer.