Um serial killer (um
homem? Uma mulher? apenas uma pessoa?) mata mulheres com golpes de faca e
canivete. A sua primeira vítima teria sido atacada logo após vender um quadro
que representava um homem vestindo uma capa preta e esfaqueando uma mulher numa
praça. Essa imagem é a obsessão do assassino. E se torna também a obsessão de
um jornalista americano, Sam Dalmas, que, numa viagem à Itália, acaba sendo
surpreendido ao ver um homem vestindo capa preta golpear uma mulher numa
galeria – o cenário é composto por esculturas monstruosas, a trilha apresenta
uivos de lobos, variações do ponto de escuta entre o interior da galeria e o
exterior, onde Sam observa tudo através do vidro e preso entre dois portões,
tornam a cena angustiante. No decorrer da investigação, o inspetor pede para
que Sam rememore a cena. Ele diz que não consegue se lembrar de mais nada. No entanto,
a cena se repete em vários momentos do filme sob o ponto de vista de Sam,
trazendo novos enquadramentos, zooms, congelamento da imagem, como se as
imagens fossem a expressão do inconsciente de Sam (agora consciente), como se
fossem o exercício da busca por um inconsciente óptico do narrador numa
temporalidade da cena estendida (quem sabe infinita). O pássaro das plumas de
cristal (1970), de Dario Argento – que tem esse nome numa alusão ao ruído das
plumas de cristal de um pássaro típico da Sibéria que aparecia nas gravações com
ameaças às vítimas- joga com a identificação com a vítima e o algoz de modo
bastante ambíguo, e transforma a imagem da cena do trauma que se repete
infinitamente no próprio centro da narrativa e do estilo.
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