terça-feira, maio 23, 2017

Um método perigoso (2011), David Cronenberg


Quando eu digo que o cinema é uma arte misógina não é por acaso (e feita em grande parte por homens). Na maioria das vezes, ver filmes me proporciona a percepção mais aguçada do quanto mulheres são odiadas. É o caso de Um método perigoso (2011), do David Cronenberg. A paciente de Jung encontra a cura para a histeria através de transas masoquistas com ele. Sabina, que era espancada pelo pai desde os quatro anos de idade nua num quartinho, se regozija tendo sexo violento com Jung. Ela, que estuda Medicina, chega até a escrever uma dissertação em que defende que morte e sexo são duas faces de uma mesma moeda, e que o exercício da sexualidade é intrínseco à destruição do ego, mas paradoxalmente também fonte de potência e criação. Numa cena, ela está de quatro sendo espancada por Jung, e a câmera mostra a cena num plano diante do espelho. Sabina olha com prazer para a própria submissão, ela goza com o ritual da repetição da cena do trauma. Nas cenas em que Sabina narra suas experiências, seus gestos são excessivos e descontrolados, e a câmera se mantém distanciada, fixa, com Jung ao fundo do quadro observando-a de forma calma e altiva (o olhar de Cronenberg diante da mulher?). Ela sempre faz questão de ressaltar que ele foi a sua cura. É isso, mulheres que sofreram violências precisam de uns tabefes para se libertarem. É com prazer que Cronenberg filma o sofrimento de Sabina. Ela sorri ao ver a veste manchada de sangue após perder a virgindade com Jung: A imagem que sintetiza a morte e o sexo. A mulher deseja ou deseja aniquilar-se? Sabina deseja ou deseja ver-se como objeto no espelho?

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