Paterson é
o nome do protagonista do último filme de Jim Jarmusch, um introspectivo poeta
e motorista de ônibus, e é também o nome da cidade onde ele vive, no estado de
Nova Jersey. Paterson é a cidade e a cidade é Paterson, um lugar onde ele vive, e o lugar que vive nele. O filme acompanha a rotina de Paterson
durante uma semana, e a montagem elabora uma narrativa banal e repetitiva, tal
como o caminho que uma linha de ônibus faz todos os dias, tal como a vida.
De manhã cedo ele troca afagos com sua esposa, segue para o
trabalho, ouve as reclamações de um colega no início do dia, dirige o ônibus,
escreve poemas à beira de uma bela cachoeira por onde passa uma ponte, leva o
cão para passear, bebe alguns corpos de cerveja no bar. No ônibus, as imagens
se dividem entre o que ele observa atravessando a cidade e o que os passageiros
conversam dentro do veículo (e ele os olha vez ou outra através de um espelho).
Paterson parece estar sempre catando histórias por onde passa, e contempla as
paisagens como belos quadros móveis criados pela janela do ônibus. A sua voz em off, relutante, pausada,
letárgica, recita os versos e letras se inscrevem nas imagens de quedas d´água que
brilham sob o sol.
Depois
de ficar consternado após seu cão despedaçar o seu “caderno secreto”, Paterson
ganha um caderno em branco de outro poeta que conhece de frente para a
cachoeira. E ele volta a escrever. Os poemas não se perderam. A partir dessa
comunicação entre o espaço do corpo do personagem e o espaço da cidade, o filme
cria a sua própria poesia. Não é à toa que dizem que “o tempo passa”, como se
houve uma passagem, um lugar que o tempo percorre. Essas passagens, Paterson
transforma em palavras, e Jarmusch transforma em imagens.
Num dos poemas que ele escreve no seu “caderno secreto”,
Paterson diz: “When you’re a child you learn there
are three dimensions/ Height, width and depth/ Like a shoebox/ Then later you
hear there’s a fourth dimension/ Time/ Then some say there can be five, six,
seven…” (“quando você é criança,
aprende que há três dimensões: altura, largura e profundidade/ como uma caixa
de sapatos/ então depois você ouve dizer que há uma quarta dimensão/ Tempo/
Então dizem que pode haver cinco, seis, sete...”). Uma quarta dimensão, o
tempo, desestabiliza as dimensões unicamente espaciais e traz à tona o
cruzamento entre o tempo e o espaço. E é sobre essa matéria que o filme de
Jarmusch trabalha, a partir de um espaço feito de memórias, perambulações e do
encontro entre a cidade e o homem que nela vive. De um espaço feito de tempo,
enfim.
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