quinta-feira, outubro 08, 2009
Two and a half man
Muitas vezes gosto de assistir TV durante o almoço. É a única hora em que eu sinto vontade de ver televisão. E como gosto de seriados americanos, ligo logo na Warner Channel. Nesse horário, o seriado que é exibido é Two and a half man, divertidíssimo, por sinal. Entretanto, não deixo de observar a maneira bizarra como esse seriado ultrapassa o machismo e chega mesmo a ser misógino.
Tratam-se dois irmãos e o filho de um deles que vivem juntos num apartamento perto da praia. Charlie é o típico cafajeste que dorme com muitas mulheres, é bom de cama, e acaba deixando-as apaixonadas sem, no entanto, corresponder aos seus sentimentos. Charlie vive de fazer jingles para campanhas publicitárias, ganhando um bom dinheiro com pouco trabalho. Enquanto isso seu irmão, Alan, é um quiroprático que tem essa profissão porque não conseguiu passar no vestibular para Medicina, e que mora na casa de Charlie após sair de mãos vazias do divórcio, no qual sua ex-mulher, Julie, obteve tudo o que eles tinham e ainda uma pensão muito boa. Jake é filho de Alan, um gordinho que só pensa em comer, jogar videogame e ver televisão, representando um estereótipo das crianças americanas nos tempos atuais.
As personagens femininas são bastante problemáticas: a mãe de Charlie e Alan, Evelyn, foi uma péssima mãe que não só ignorava os filhos mandando-os para internatos, como ainda foi responsável pela morte do pai deles ao lhe dar um peixe estragado que lhe causou infecção intestinal, tendo após a sua morte diversos maridos que também faleceram, surgindo algumas hipóteses de que ela seria uma espécie de viúva negra. As consequências de ter uma mãe como Evelyn foi Charlie se tornar um "garanhão insensível" e Alan, um homem submisso que vive tentando agradar as mulheres querendo obter o amor que não teve da mãe. Não bastasse a mãe ser uma "bruxa", a ex-mulher de Alan, Judith, é uma mulher amargurada, frígida, interesseira, aproveitadora, e de sexualidade "confusa" - não que ela seja bissexual, mas o seriado a representa como se ela realmente não soubesse o que quer.
Para completar, Rose é uma mulher extremamente carente que, após ter uma noite de sexo com Charlie, gasta a sua vida perseguindo-o com o desejo de se casar com ele. Ela é o típico estereótipo da mulher que vive em função do amor,, que adora cafajeste e que se submete a qualquer coisa para conquistar o amado.
As mulheres com as quais Charlie sai são geralmente meninas novinhas de corpos esculturais que só têm dois neurônios: Tico e Teco. Como bom machista, Charlie tem um envolvimento maior com as mulheres que demoram um bocado para transar com ele: e geralmente não sabe lidar com mulheres inteligentes e maduras.
O próprio seriado certa vez fez uma brincadeira com a misoginia de Charlie. Depois de uma mulher chamá-lo de misógino, ele passou bastante tempo se questionando sobre o porquê de ele ser um garanhão que não consegue se envolver com nenhuma mulher e que fala frases do tipo "se eu tenho uma empregada pra limpar e cozinhar pra mim e mulheres para fazer sexo, pra quê eu vou querer uma esposa?". Nesse episódio, Rose, a mulher carente e apaixonada que também é psicóloga, diz que Charlie tem um complexo de Édipo mal resolvido com a mãe, que nunca foi boa com ele. Quando ele vai á casa da mãe, lá está ela fazendo exercícios em posições sensuais, de forma a deixar Charlie constrangido, e é aí que ele diz que ela o ensinou a ser um homem que não valoriza o amor e não confia em ninguém - até que ela diz estar orgulhosa por ele pensar assim e que a vida é isso mesmo.
A sensualidade da mãe de Charlie, Evelyn, é a sexualidade que ele e muitos homens não querem ver na mulher, especialmente a mãe. Evelyn é uma mulher que, desde jovem, sempre teve uma vida sexual bastante intensa, com parceiros diversos. Essa é a mulher que é a ameaça à sexualidade de um homem como Charlie. Eles a menosprezam e, em determinado episódio, lá está ela com a família que ela diz que é melhor do que a de sangue: um casal gay, constituído por um negro e um branco, que têm um filho adotivo chinês. E claro que Alan e Charlie os detestam. A ironia do seriado é que o filho chinês é uma criança prodígio de elevada cultura, enquanto Jake é um péssimo aluno e viciado em videogame. Mas não seriam as outras raças e as outras sexualidades incômodas inclusive na representação oferecida pelo próprio seriado? Na sala onde eles encontram Evelyn, o casal gay inter-racial e o menino chinês, lá estão as relações de gênero e de raça na sua forma conflituosa.
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