sábado, outubro 31, 2009

Bye

Enjoei de Aracaju. O povo fala, mas ah, Aracaju é tranquila, e até tem coisas legais pra fazer ao contrário do que as pessoas falam lalalalalala.

Não importa. Enjoei. Talvez eu seja nômade!

quinta-feira, outubro 29, 2009

O que aconteceu com uma pessoa que não consegue mais escrever poesia? =/

quarta-feira, outubro 28, 2009

Saudade do tempo em que eu escrevia poesia (boa ou ruim).

Tô precisando de mais Manoel de Barros, mais Fernando Pessoa, Drummond, Vinicius de Moraes, Mário Quintana, Manoel Bandeira, tô precisando mais de todos eles na minha vida!

Música que ficou insistentemente na minha cabeça hoje: Somewhere only we know, Keane (a única música legal dessa banda).

Ah! E também Serra da Boa Esperança, de Lamartine Babo. Música pra quem sabe que está chegando a hora de partir...

O vento nos levará!


Ontem vi um filme fabuloso: O vento nos levará (1999), do diretor iraniano Abbas Kiarostami. O tema da dialética entre a morte e a vida, a reflexão sobre o dispositivo cinematográfico, as paisagens encantadoras permanecem nesse filme assim como ocorre em O gosto da cereja. Não estou num bom momento agora para organizar as minhas ideias. Sei que esse é um filme que me lembra o quanto a arte, especialmente o cinema, é importante na minha vida. Aquele filme que fica na cabeça da gente durante dias, que não se encerra quando o filme acaba, cujo tempo se dilata através da imaginação e da rememoração. É um filme que eu sinto, muito mais do que entendo - de maneira que o sentir se torna mais interessante do que compreender. A imagem fixa dos campos quando o herói passa na garupa da bicicleta do médico velhinho - é a imagem do próprio paraíso superando a morte que o cinema torna possível. Só me faz querer ver mais filmes do Kiarostami. Genial.

domingo, outubro 11, 2009

Bastardos inglórios (2009), Quentin Tarantino


A obra Guerra e cinema, de Paul Virilio, muito mais do que um livro sobre filmes que têm como temática a guerra, trata-se de um tese sobre a estreita relação entre o cinema e a guerra através de uma logística da percepção militar e a experiência cinematográfica. O autor fala da invenção de tecnologias como o fuzil cronotográfico por Étienne-Jules Marey, anterior ao cinematógrafo, e das estratégias de visão no campo de batalha, até o cinema de propaganda da guerra, como foi o cinema nazista, ou mesmo o cinema de Griffith e seu O nascimento de uma nação (1915), com sua defesa do Sul escravista da guerra civil americana, além de Rambo (1982), a vingança reaganista da Guerra do Vietnã, e a montagem de atrações do cinema de Eisenstein no clássico Outubro (1927), que apresenta a Revolução Russa de 1917. Cinema e guerra estiveram sempre muito próximos. E Tarantino tem consciência disso. E brinca com isso.

Quem estivesse esperando relatos verídicos sobre algum grupo que espalhava medo entre os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial certamente sairá decepcionado. Afinal, Tarantino faz questão de matar Hitler justo onde? No cinema!

Filme de pura metalinguagem, Bastardos inglórios fala sobre um grupo que queria dar fim ao alto escalão do Terceiro Reich durante a projeção do filme Orgulho da nação. O filme é sobre Frederick Zoller, herói de guerra que estrela seu próprio filme. Todo o encanto sobre a guerra, toda a áurea que envolve aqueles que morrem pela nação nos campos de batalha estão lá no filme do Tarantino, e nisso ele me lembra Tempo de guerra (1963), do Jean-Luc Godard. Nessa obra, Godard faz uma crítica feroz à ideologia divulgada pela propaganda de guerra, segundo a qual os vencedores serão todos os soldados que dão suas vidas por ela- mas que morrem em função dos interesses políticos e econômicos de outrem. Lembro-me de uma cena do clássico documentário de Leni Riefenstahl, O triunfo da vontade (1934), em que a cineasta apresenta um congresso do Partido Nacional Socialista, quando um soldado nazi grita diante da câmera com os olhos hipnoticamente esbugalhados, que, caso morresse, não estaria morto, mas vivo no futuro da pátria.

Mas muito mais do que morrer pela pátria, o coronel Hans Landa quer entrar para a história. É por isso que ele, conhecido como "O caçador de judeus", ao tomar consciência da Operação Niko, que daria fim ao Terceiro Reich numa sala de projeção, ao invés de acabar com a operação, decide entrar para a história como o homem que traiu os nazistas e foi responsável pelo término da Segunda Guerra Mundial. Só que além da operação, havia a judia, Shosanna Dreyfus, sob sua falsa identidade Emmanuelle Mimieux, que era dona do cinema onde seria exibido a estréia do filme de Goebbels, e que já havia armado um plano para incendiar o cinema usando nada menos do que filmes 35mm feitos de nitrato - altamente inflamáveis. É Marcel, seu amado companheiro negro, quem deveria lançar chamas aos rolos de filme. Marcel e Shosanna, o primeiro, representante dos povos colonizados, a segunda, do Holocausto.

A imagem extremamente metafórica de Shosanna na tela do cinema interrompendo a projeção do filme que estava divertindo Hitler e emocionando Gobbels diante dos elogios do füher, fala da voz dos que querem tomar de vez os rumos da história, e nenhum meio melhor do que o cinema para ser herói.

O novo filme do Tarantino é exemplar do chamado boom da memória na cultura contemporânea de que fala Andreas Huyssen, em que multiplicam-se museus, filmes e literatura de testemunho sobre o Holocausto, que levantam discussões sobre o porquê de nos voltarmos para um passado tão obscuro que parece nos falar sobre o fracasso do projeto iluminista da modernidade, no qual o desenvolvimento técnico findou não num progesso da "humanidade", mas em milhões e milhões de mortes. Alguns dos personagens de Bastardos inglórios, aliás, são representantes típicos dessa tal cultura contemporânea que desafia as fronteiras nacionais e a identidade nacional, com alemães que matam nazistas e fazem parte dos Bastardos inglórios. Mas não se enganem aqueles que ignoram a diferença cultural em nome de um tal descentramento do sujeito - vide a judia e o negro que incendiam o cinema cheio de nazistas pelo ódio àqueles que fizeram mal ao seu povo.

Hans pode até ter entrado para a história, mas o final dela não é nada ilustre, isso Tarantino faz questão de ressaltar. Na última cena, ele sofre nas mãos do bastardo inglório Aldo do mesmo jeito que todos os nazistas que passaram por ele - Aldo fixa o símbolo nazista em sua testa (haveria marca melhor de sua identidade?), e tira o seu escalpe. Esse fim inglório me lembra aquela historinha de que Dom Pedro I estava era montado num burro, com diarréia e foi cagar na moita no momento da nossa "independência". Porque a história, meus claros, a história é inglória.

sábado, outubro 10, 2009

Todo verbo que é forte
Se conjuga no tempo
Perto, longe o que for

quinta-feira, outubro 08, 2009

Two and a half man


Muitas vezes gosto de assistir TV durante o almoço. É a única hora em que eu sinto vontade de ver televisão. E como gosto de seriados americanos, ligo logo na Warner Channel. Nesse horário, o seriado que é exibido é Two and a half man, divertidíssimo, por sinal. Entretanto, não deixo de observar a maneira bizarra como esse seriado ultrapassa o machismo e chega mesmo a ser misógino.

Tratam-se dois irmãos e o filho de um deles que vivem juntos num apartamento perto da praia. Charlie é o típico cafajeste que dorme com muitas mulheres, é bom de cama, e acaba deixando-as apaixonadas sem, no entanto, corresponder aos seus sentimentos. Charlie vive de fazer jingles para campanhas publicitárias, ganhando um bom dinheiro com pouco trabalho. Enquanto isso seu irmão, Alan, é um quiroprático que tem essa profissão porque não conseguiu passar no vestibular para Medicina, e que mora na casa de Charlie após sair de mãos vazias do divórcio, no qual sua ex-mulher, Julie, obteve tudo o que eles tinham e ainda uma pensão muito boa. Jake é filho de Alan, um gordinho que só pensa em comer, jogar videogame e ver televisão, representando um estereótipo das crianças americanas nos tempos atuais.

As personagens femininas são bastante problemáticas: a mãe de Charlie e Alan, Evelyn, foi uma péssima mãe que não só ignorava os filhos mandando-os para internatos, como ainda foi responsável pela morte do pai deles ao lhe dar um peixe estragado que lhe causou infecção intestinal, tendo após a sua morte diversos maridos que também faleceram, surgindo algumas hipóteses de que ela seria uma espécie de viúva negra. As consequências de ter uma mãe como Evelyn foi Charlie se tornar um "garanhão insensível" e Alan, um homem submisso que vive tentando agradar as mulheres querendo obter o amor que não teve da mãe. Não bastasse a mãe ser uma "bruxa", a ex-mulher de Alan, Judith, é uma mulher amargurada, frígida, interesseira, aproveitadora, e de sexualidade "confusa" - não que ela seja bissexual, mas o seriado a representa como se ela realmente não soubesse o que quer.

Para completar, Rose é uma mulher extremamente carente que, após ter uma noite de sexo com Charlie, gasta a sua vida perseguindo-o com o desejo de se casar com ele. Ela é o típico estereótipo da mulher que vive em função do amor,, que adora cafajeste e que se submete a qualquer coisa para conquistar o amado.

As mulheres com as quais Charlie sai são geralmente meninas novinhas de corpos esculturais que só têm dois neurônios: Tico e Teco. Como bom machista, Charlie tem um envolvimento maior com as mulheres que demoram um bocado para transar com ele: e geralmente não sabe lidar com mulheres inteligentes e maduras.

O próprio seriado certa vez fez uma brincadeira com a misoginia de Charlie. Depois de uma mulher chamá-lo de misógino, ele passou bastante tempo se questionando sobre o porquê de ele ser um garanhão que não consegue se envolver com nenhuma mulher e que fala frases do tipo "se eu tenho uma empregada pra limpar e cozinhar pra mim e mulheres para fazer sexo, pra quê eu vou querer uma esposa?". Nesse episódio, Rose, a mulher carente e apaixonada que também é psicóloga, diz que Charlie tem um complexo de Édipo mal resolvido com a mãe, que nunca foi boa com ele. Quando ele vai á casa da mãe, lá está ela fazendo exercícios em posições sensuais, de forma a deixar Charlie constrangido, e é aí que ele diz que ela o ensinou a ser um homem que não valoriza o amor e não confia em ninguém - até que ela diz estar orgulhosa por ele pensar assim e que a vida é isso mesmo.

A sensualidade da mãe de Charlie, Evelyn, é a sexualidade que ele e muitos homens não querem ver na mulher, especialmente a mãe. Evelyn é uma mulher que, desde jovem, sempre teve uma vida sexual bastante intensa, com parceiros diversos. Essa é a mulher que é a ameaça à sexualidade de um homem como Charlie. Eles a menosprezam e, em determinado episódio, lá está ela com a família que ela diz que é melhor do que a de sangue: um casal gay, constituído por um negro e um branco, que têm um filho adotivo chinês. E claro que Alan e Charlie os detestam. A ironia do seriado é que o filho chinês é uma criança prodígio de elevada cultura, enquanto Jake é um péssimo aluno e viciado em videogame. Mas não seriam as outras raças e as outras sexualidades incômodas inclusive na representação oferecida pelo próprio seriado? Na sala onde eles encontram Evelyn, o casal gay inter-racial e o menino chinês, lá estão as relações de gênero e de raça na sua forma conflituosa.