terça-feira, julho 31, 2007

Saudades do tempo em que minha única preocupação era passar de ano.

Chegou a época da disputa pelos títulos, grandes cargos, altos salários...

Tempos em que você precisa ser alguém! Você já cresceu!

Ah, mas é tão gostoso ser ninguém, quando tudo é uma grande brincadeira!

Se eu não quiser um trono, vão dizer que sou infeliz ou incompetente

Mas se eu chegar a um trono, não quero ser igual a vocês

Saudades do trono

Trono que é pra cagar, e não pra ser rei

segunda-feira, julho 30, 2007

Já fiz as malas

É, tenho que confessar: se tem uma coisa que me dá um medo tremendo é o tal do sentimento de perda. Sim, é verdade, eu não consigo me desapegar das pessoas, e me renuncio a perdê-las. Prefiro antes partir ou dispensá-las a vê-las ir embora.

Pode chamar isso de orgulho, quem sabe. Ou talvez o medo da dor da perda seja muito forte. Quando você perde algo ou alguém a escolha não foi sua. Você tem que aceitar a perda do objeto de desejo. Já quando você renuncia ao que está apegado, a sensação é de que você não precisa daquilo de que é tão dependente.

Ainda arrisco dizer, pensei agora, que isso, na verdade, não é medo da perda, mas sim da rejeição. Afinal, abandonando ou não o objeto de desejo, nós sofremos a perda. Mas quando somos nós que abandonamos nos livramos de uma coisa: a rejeição.

Ah, as pessoas que temem a rejeição são controladoras! Elas o são no sentido mais vulnerável do termo! Controlam tudo pelo sentimento de que todas as cosias escorrem pelas suas mãos. Querem ditar o começo e o fim. Terminam um relacionamento como aqueles que merecem um relacionamento melhor, demitem-se de um emprego como aqueles que devem ser melhor pagos. Não admitem serem rejeitados e invertem o jogo. Dessa forma, despedem-se com sentimento de superioridade.

Será que o temor da rejeição não é nada além de orgulho?

quarta-feira, julho 18, 2007

Wellcome to the jungle


Então eu saio de uma prova em que acabara de escrever sobe maioridade penal, e no ponto de ônibus um guri me chega, oscilando entre os papéis de coitado miserável pedinte e de pequeno malaca.

- Ô moça, me dê dois reais aí pra eu comprar uma passagem pra ir embora, eu tô com uma faca, me dê dois reais aí, eu tô com uma faca, eu só quero ir pra casa, eu tô com uma faca...

Era bem assim mesmo. Depois de cada lamentação era proferida a ameaça. Ok. Não tive medo do guri, apenas não assimilava bem a situação, e vi duas moças que estavam no ponto se afastarem. Logo pensei na ironia do ocorrido, e me lembrei que tinha acabado de fazer uma prova em que eu contestava duramente a redução da maioridade penal.

- Pô, cara, eu não tenho dinheiro não, quer um passe?- e lhe estendi o passe que já estava em minhas mãos enquanto aguardava o ônibus.

- Não, eu quero dinheiro. Cadê? Eu tenho uma faca...

- Hum, apois, tô falando sério. Eu não tenho um tostão furado aqui.

- Ah, então tá bom.

Exatamente no momento em que lhe entreguei o passe, meu tão esperado ônibus chegou.

- Moça- gritou o guri- tchau! - e moveu a mão enquanto sorria.

Tá, era um menino. Não é porque ele ameaçou me cortar que vou começar a ser a favor da redução da maioridade penal. Ele e tantos outros garotos estão mergulhados na merda desde que nasceram, e quando me coloco no lugar de um deles, eu penso: se eu vivesse na rua sendo chamado de trombadinha, apanhando, sendo desrespeitado, vendo aquele povo por trás do vidro do carro me olhar com cara de nojinho, eu teria sangue no olho, eu cheiraria cola, porque a cola seria o único sentido da minha vida.

Aí quando foi um dia desses, estava em outro ponto de ônibus e o mesmo menino veio me pedir dinheiro dizendo que tinha uma faca. Ele pensa que eu sou cheia de dinheiro? Gente, quantas e quantas vezes eu saio na rua com dois passes! Não tenho grana não, caralho! Mas aí lá vem o guri de novo com a mesma conversa fiada, e num ponto próximo àquele onde antes ele já tinha me ameaçado.

Só que dessa vez eu estava com meu namorado. E tipo, num primeiro momento ele apenas disse que não tinha dinheiro, mas quando entendeu que o pirralho dizia ter uma faca, deu a peste nele. Não tem coisa que afete mais o ego masculino do que ver sua namorada ser ameaçada bem na sua frente. Deu no que deu: ele gritou e se aproximou furioso do guri, e então o menino foi parar no meio da pista. Depois, o garoto voltou para a calçada e sumiu pelas ruas após chamar meu namorado de viado umas 10 vezes.
- Ele podia ter se fudido. Podia ter sido atropelado, você viu que ele foi parar no meio da pista?- observou meu namorado, entre a preocupação e a raiva.
- Vi. E um dia ele pode se bater com um cara que lhe dê uma baita surra ou coisa pior.

Antes do menino, meu namorado e eu já havíamos sido abordados por crianças logo na semana anterior. Dessa vez eram três meninos indefesos que estavam vendendo adesivos na 13 de julho tarde da noite, e que pediram nossa ajuda.

- Tem dois guris com pedaço de pau atrás da gente, eles tentaram roubar o dinheiro que a gente juntou dos adesivos- disse o menino que depois descobri ser o mais escolarizado, e que tinha algo de mais polido do que os outros- quer um adesivo?

Vimos que, de fato, havia dois garotos com pedaços de pau escondidos no outro lado da avenida. Meu namorado botou os três meninos no seu carro, e os levamos até o Centro, onde eles disseram que iam pegar um táxi lotação pra ir pra casa, no Bairro Coqueiral. Eram três crianças no centro da cidade repleto de putas, travestis, moradores de rua deitados sob o teto de lojas e bancos, homens misteriosos encostados nas paredes ou andando sozinhos em ruas desertas. Nada contra putas, travestis, nem moradores de rua, só que esse, definitivamente, não é um ambiente para crianças.

Agora eu me pergunto se os meninos indefesos não se tornarão um dia um daqueles que correm atrás dos indefesos com pedaços de pau. Ou serão como o guri que me ameaçou com uma suposta faca que o fazia se sentir o dono da rua. Lembro que tanto os meninos amendrontados quanto o garoto hostil queriam voltar pra casa. Pra que casa? Eles precisam voltar pra casa... Um deles já parecia indeciso entre o papel de pobre vítima miserável e o de vilão. Mas nessa história toda eles aprendem desde cedo que o que vale é a lei do mais forte.


Imagem do filme Cidade de Deus

You lose

Às vezes eu me fodo e fico tentando achar alguma justificativa para o que aconteceu. Nãaao, aquilo não pode ter sido de todo ruim, deve ser bom para eu aprender alguma coisa, ou me levar para uma oportunidade melhor. Difícil é encarar que você pode ter se fudido MESMO, e ter perdido algo muito bacana.

É, como diria Lourenço... Avida é dura!

sábado, julho 07, 2007

Submisso como em todos os casais felizes

João, e aqui minto o nome do personagem para resguardar sua identidade, disse-me que estava com medo de se tornar vassalo em mais um de seus relacionamentos. Segundo ele, em sua trajetória de casos amorosos, as mulheres o trataram com desprezo depois que ele se tornou submisso. Ele disse que os dóceis costumam se foder, pois as pessoas, inconscientemente, não valorizam quem não se dá valor, nem respeitam que não exige respeito. Respeito seria uma coisa conquistada.

- Mas aí tem um porém... o que é ser submisso? Ser submisso pode ser bom. Eu sou e estou feliz assim.- disse um grande amigo meu- Nos casais felizes é a mulher quem manda. Repare que quando é o homem quem manda, os relacionamentos são infelizes.

Fiquei intrigada. Não vou defender algum tipo de femismo, não vou dizer que as mulheres devem inverter papéis e mandar nos homens. Nunca fui a favor disso. Acho que, homens ou mulheres, acima de tudo somos humanos. Só que essa afirmação do meu amigo me pareceu, de certa forma, verdadeira.

Ele não falava sobre não ter personalidade ou obedecer a todas as ordens de uma mulher autoritária. Falava antes daqueles casais em que o homem mima a mulher, faz suas vontades, bajula, esforça-se ao máximo para vê-la feliz. Os casais em que o homem fica encantado por sua mulher, e em que, inclusive, ele a ama mais.

Nos casais, há sempre alguém que ama com mais intensidade, mesmo que às vezes isso mude com o tempo, e ele fique mais apaixonado, depois ela, e por aí vai. Mas essa relação um tanto desigual só me parece ser harmônica quando é ele quem tem maior amor. Já vi casais em que, no começo, o rapaz era louco pela namorada, enquanto ela apenas tinha aprendido a amá-lo. Depois, quando ela começou a ser mais apaixonada do que ele, as coisas começaram a desandar, e ela chorava por falta de carinho.

Nunca vi, preciso que me apresentem, casais em que a mulher ama mais e eles são felizes. Nesses casos, a mulher fica carente, cobra mais atenção, tem ele no centro do seu mundo, se sujeita a algumas pequenas ou grandes humilhações, e sofre calada. Não sei, parece-me que a submissão da mulher é muito mais degradante, e certo tipo de servilismo do homem é muito mais doce.

Mas claro que há aqueles homens que são vassalos de forma mortificante. Esse é o tipo de submissão que não é saudável, segundo meu amigo. Eles também se calam e se humilham. Entretanto, segundo ele, isso nada tem a ver com aquele tipo de docilidade em que o homem dá todo tipo de regalias à sua amada. Ele a trata como um bom filho trata sua mãe.

Será que isso tem a ver com o tal de complexo de Édipo? Será que os homens precisam ser submissos a uma mulher como foram com sua querida mãe? Vejo que os bons filhos homens são aqueles que fazem as vontades da sua mãe, os filhos que às vezes deixam de sair para ela não dormir sozinha.

Talvez eu esteja enganada, mas antes quero que me apresentem um casal em que a mulher é submissa e os dois são felizes. Ainda acho que os homens procuram numa mulher um pouco de mãe, alguém que lhes dê aconchego, e também um rumo na vida.

segunda-feira, julho 02, 2007

Meninos não choram

Crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual são reféns do silêncio

Indignado, Ricardo de Souza Lima, coordenador do Programa Sentinela, abre a gaveta da sua mesa e retira uma pasta onde estão declarações de mais de 50 famílias que se negam a receber acompanhamento psicossocial. “Entre os meninos, a vergonha é ainda maior, já que, geralmente, eles são abusados por adultos do mesmo sexo. Além disso, na maioria das vezes, o agressor é da própria família ou alguém bem próximo”, declara Ricardo Lima.

De acordo com dados do Centro de Atendimento de Grupos Vulneráveis, no ano passado foram registrados 69 casos de abuso sexual cometidos contra crianças e adolescentes, dos quais 10 vítimas eram do sexo masculino. Em 2007, até o momento houve 23 ocorrências, das quais duas eram de abuso sexual contra meninos. “Não se sabe se esses números correspondem à realidade, já que os meninos têm muito mais vergonha de denunciar do que as meninas”, comenta a delegada Mariana Diniz.

O abuso e suas conseqüências- Segundo a psicóloga Aline Maciel, considera-se abuso sexual qualquer tipo de carícia feita em uma criança ou adolescente com o objetivo de obter satisfação sexual através de uma relação de poder. “O abuso causa uma excitação para a qual o menino ainda não está preparado, o que causa sérios problemas para seu desenvolvimento”, explica a psicóloga.

Segundo Aline Maciel, há casos em que o agressor seduz a criança com simpatia e carinho. “Algumas vezes a criança sofre ameaças do agressor, que a faz se sentir causadora da situação, e tem medo de contar a alguém. Em outros, ele convence a vítima de que o abuso representa amor, e ela é tão carente que não quer perder o ‘afeto’ recebido”, comenta.

De acordo com Aline Maciel, a criança ou adolescente que tem esse tipo de experiência precoce pode no futuro ter dificuldades de obter prazer em relações sexuais, ou até mesmo criar uma compulsão pela prática sexual. “O menino pode ainda vir a se tornar um agressor, dado que nós, seres humanos, temos o hábito de repetir experiências passadas”, afirma.

Ricardo Lima relata que já atendeu no Programa Sentinela meninos que abusaram da irmã ou do irmão. Em outros casos, os meninos vêm a se tornar garotos de programa. “Eles vendem seus corpos como objetos, pois foram como objetos que eles foram tratados”, declara a psicóloga Aline Maciel.

Além das conseqüências psicológicas, o abuso apresenta conseqüências físicas. A psicóloga Aline Maciel acompanhou o caso de Bruno*, de três anos. Bruno era muito apegado à babá e estava sempre em sua companhia. Até que um dia sua mãe descobriu que o filho contraiu gonorréia através de abuso sexual cometido pela babá.

De acordo com o conselheiro tutelar Jerônimo da Silva Sérgio, as vítimas são encaminhadas para a Maternidade Hildete Falcão para, depois de constatado o abuso, fazerem exames mais complexos e tomarem um coquetel Anti-AIDS que pode prevenir a doença até 72 horas depois do incidente.
Dilemas da legislação- Segundo Jerônimo da Silva, o único caso de suspeita de abuso sexual contra criança do sexo masculino registrado no ano passado na região do 3° Distrito, que abrange bairros como Grageru e 13 de Julho, não teve o processo levado adiante, pois a família retirou a queixa. “Depois o garoto, de apenas nove anos, veio a negar que havia sido abusado pelo tio. Entretanto, ele apresentava os sintomas, lavava-se frequentemente e seus desenhos se remetiam ao falo”, relata o conselheiro.

De acordo com o promotor Paulo Lima, há casos em que a família pode desistir do processo. “Na ação pública incondicionada, quando o acusado é pai ou responsável da vítima, a família não pode se retratar. Já na ação penal privada, em que a família faz a queixa e paga um advogado, a parte afetada pode retirar a queixa a qualquer momento, e termina o processo”, explica o promotor.

Programa Sentinela- Executado em Aracaju pela Secretaria Municipal da Assistência Social e Cidadania (Semasc), o Programa Sentinela funciona em Sergipe desde 2002, e ainda abarca apenas sete dos 75 municípios do estado, como Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora das Dores, Estância, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, além de Aracaju.

O objetivo do programa é realizar atendimento social e psicológico às crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. “O acompanhamento também deve envolver os familiares em conjunto e separadamente, para o sucesso do atendimento”, afirma o coordenador.

*O codinome foi utilizado com o intuito de preservar a identidade da criança.

Sintomas de abuso sexual

Agressividade
Agitação
Excesso de masturbação
Ansiedade
Queixa de dores nos órgãos sexuais
Falta de confiança em adultos
Mudança repentina de humor
Fala constante sobre temáticas sexuais

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