Ontem minha mãe me falava de um conhecido seu casado com uma mulher acometida pelo Alzheimer. Mamãe disse que o homem ainda amava a esposa, e cuidava dela com todo esmero. Mas ele sentia necessidade de sair, ir ao cinema, a um barzinho, e para isso tinha uma espécie de amante, com quem fazia sexo e outras coisas agradáveis.
A amante sabe que ele ainda ama a esposa. Entretanto, ela não a odeia por isso. Muito pelo contrário, na verdade, a amante até ajuda nos cuidados com a esposa adoentada. Cuida dos dois, marido e esposa, dedicando ao primeiro seu corpo, seu carinho e seus risos, e à segunda, o seu zelo.
Minha mãe achava estranha aquela situação. Contou que o homem às vezes se sentia culpado por achar que estava traindo sua amada esposa, mas precisava se dar o direito de viver a vida. Toda a sua vontade de viver deveria ser castigada? Deveria ele se retirar na dor e se empenhar apenas em cuidar de sua mulher, até que a morte os separe?
Mamãe, apesar de compreender as vontades do homem, de certa forma o repreendia. Já minha avó achava o segundo relacionamento que ele tinha totalmente ofensivo. Até questionava se acaso a enferma não poderia saber, de alguma forma, tudo o que se passava, e não tinha como reagir, o que seria deveras angustiante.
Vovó e mamãe se escandalizaram quando eu disse que aquele era um dos relacionamentos mais harmônicos de que eu já tinha ouvido falar. O marido não tinha nada que se castigar com tanta culpa. Ora, ele não havia abandonado sua esposa, ele cuidava dela com todo carinho e, portanto, era fiel sim a ela.
Por que haveria ele de ser infeliz? Ele deveria se vestir de preto, chorar ao lado de sua esposa enquanto recebe visitas? Por que, se há tanta vida por aí? A sua amante, certamente, não era apenas um corpo para ele. Claro que tinha por ela afeto, amor quem sabe. É provável que ele ame as duas. E a amante me parece muito feliz por cuidar dos dois.
Acho que essa história daria um belo filme de Almodóvar. Ele sabe como ninguém tratar de temas polêmicos no que refere ao amor. Lembro que em Fale com ela Benigno dedica a sua vida para cuidar de uma mulher em coma, até o dia em que, apaixonado por ela, faz amor com a mulher e a engravida. Muitos disseram que ele era um psicopata, e que havia estuprado a moça. Não obstante, a mulher sai do coma e volta a dançar balé. É, mas nesse outro filme, nosso Benigno, ao invés de viver em função de uma mulher adoentada, amaria outra, amaria as duas. E num Almodóvar, a esposa sairia de seu estado debilitado e de repente teria ataques histéricos ao ver seu marido com outra. Quem sabe até mataria os dois. Ou faria um menage.
sexta-feira, abril 27, 2007
quinta-feira, abril 26, 2007
Mensagem
Amor!
Posso te chamar de amor?
Se eu não puder, corra logo, que eu só quero ficar do lado de quem eu possa chamar de amor.
Posso te chamar de amor?
Se eu não puder, corra logo, que eu só quero ficar do lado de quem eu possa chamar de amor.
segunda-feira, abril 23, 2007
Estou desorganizada porque perdi o que não precisava? Nesta minha nova covardia - a covardia é o que de mais novo já me aconteceu, é a minha maior aventura, essa minha covardia é um campo tão amplo que só a grande coragem me leva a aceitá-la -, na minha nova covardia, que é como acordar de manhã na casa de um estrangeiro, não sei se terei coragem de simplesmente ir. É difícil perder-se. É tão difícil que provavelmente arrumarei depressa um modo de me achar, mesmo que achar-me seja de novo a mentira de que vivo. Até agora achar-me era já ter uma idéia de pessoa e nela me engastar: nessa pessoa organizada eu me encarnava, e nem mesmo sentia o grande esforço de construção que era viver. A idéia que eu fazia de pessoa vinha de minha terceira perna, daquela que me plantava no chão. Mas e agora? estarei mais livre?
Trecho de A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector.
Trecho de A paixão segundo G.H., de Clarice Lispector.
sábado, abril 21, 2007
Canção amiga
Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Carlos Drummond de Andrade
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.
Carlos Drummond de Andrade
sexta-feira, abril 20, 2007
Bilhete embaixo da porta
André,
Eu só queria que você soubesse que eu sempre te amei, mas nunca me apaixonei por você nem quis você só pra mim.
Luana.
Eu só queria que você soubesse que eu sempre te amei, mas nunca me apaixonei por você nem quis você só pra mim.
Luana.
Dos amores que nunca quis
Vejo no espelho a mulher exausta
O que foi do amor que tive?
Tantos e tantos amores
Mas eram eles apenas a falta
Fora sempre uma dor a mais
Uma angústia, uma espera
Mas nunca um conforto que ficasse
Nunca uma saudade sincera
Apenas a perda
E a perda dói,
Não tanto por ainda querer o objeto amado
Mas por querer, através da dor, manter aqui o que já não está mais
Nunca o aconchego, o afeto, a proteção
Nunca a descoberta de uma mulher muito mais bonita no espelho
Nunca alguém que visse o que tantas vezes ela teimava em esconder
E não havia vergonha alguma, se era tão bonita!
Saudades, saudades infindas do amor que nunca havia tido
Saudades, como quem parte
Mas parte só por medo de ver o outro partir.
O que foi do amor que tive?
Tantos e tantos amores
Mas eram eles apenas a falta
Fora sempre uma dor a mais
Uma angústia, uma espera
Mas nunca um conforto que ficasse
Nunca uma saudade sincera
Apenas a perda
E a perda dói,
Não tanto por ainda querer o objeto amado
Mas por querer, através da dor, manter aqui o que já não está mais
Nunca o aconchego, o afeto, a proteção
Nunca a descoberta de uma mulher muito mais bonita no espelho
Nunca alguém que visse o que tantas vezes ela teimava em esconder
E não havia vergonha alguma, se era tão bonita!
Saudades, saudades infindas do amor que nunca havia tido
Saudades, como quem parte
Mas parte só por medo de ver o outro partir.
quinta-feira, abril 19, 2007
Essa tal liberdade
A maioria absoluta dos casais pula a cerca em seus casamentos de 10, 20 anos. Uma escapadinha ali não faz mal, contanto que o outro não saiba, dizem. Mas agora no meio universitário está se difundindo o que chamam de "amor livre", e algumas pessoas acreditam que o amor pode superar as barreiras do ciúme e da possessividade, e inclusive ser um amor muito mais honesto.
Sabemos que todo mundo sente atração por outras pessoas, e isso não tem nada a ver com amor. Ninguém venha me dizer que quando ama deixa de achar a bundinha de Fulano uma gostosura, que eu tô ligada na hipocrisia já. Agora você imagine não precisar reprimir os seus instintos, não se castrar no seu dia-a-dia, e ainda assim ter um relacionamento extremamente saudável e construtivo com alguém. Um sonho.
Tem gente que consegue, eu conheço casos em que o relacionamento aberto funciona sim. Claro que nesses namoros as pessoas passam por muita dificuldade para superar a moral, os valores que aprendemos desde pequenos. Afinal, na novela a gente já via a mocinha chorar porque seu namorado ficou com outra. No família a gente já aprendeu que quem comete adultério (com toda a carga negativa da palavra) é canalha. Nossos valores parecem tão naturais, que tudo que esteja fora disso é perversão e quem ousar questioná-los deve ser queimado na fogueira. Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni!
Ok. Os hippies que vivam na natureza e procuravam novas formas de relações sociais, que propunham uma vida libertária podiam estar certos. Entretanto, grande parte deles virou yuppie e vestiu seu belo colarinho branco. Regressemos ao conservadorismo, sejamos reacionários.
O fato é que ser o que Dostoiéviski chamaria de extraordinário, ou seja, desafiar a moral dos ordinários, ou das pessoas comuns, sempre custa muito caro. Quantos outsiders não tiveram suas cabeças numa bandeja, ou quantas mulheres divorciadas não foram chamadas de putas? Ou simplesmente quantas mulheres no Afeganistão não foram apedrejadas por mostrarem o tornozelo?
É verdade. Mudar é difícil, bem difícil. Só que essas mudanças, essas revoluções podem caminhar pro lado oposto, e acabam se revestindo do mesmo teor de hipocrisia dos valores contestados.
É quando, por exemplo, um cara ou uma garota diz que é amor livre porque tá na moda. É quando as pessoas que acreditam no amor livre acham que o amor das pessoas monogâmicas não é verdadeiro. É quando, novamente, se estabelecem formas de se comportar e valores dogmáticos. É quando somos tão intolerantes quanto qualquer xiita.
Fora isso, em muitos relacionamentos abertos predominam a superficialidade, a falta de envolvimento. Pessoas que se frustraram em amores do passado e decidem adeirir a novas formas de convívio. Só que muitas vezes o que chamam de amor livre na verdade é falta de amor.
Sabemos que todo mundo sente atração por outras pessoas, e isso não tem nada a ver com amor. Ninguém venha me dizer que quando ama deixa de achar a bundinha de Fulano uma gostosura, que eu tô ligada na hipocrisia já. Agora você imagine não precisar reprimir os seus instintos, não se castrar no seu dia-a-dia, e ainda assim ter um relacionamento extremamente saudável e construtivo com alguém. Um sonho.
Tem gente que consegue, eu conheço casos em que o relacionamento aberto funciona sim. Claro que nesses namoros as pessoas passam por muita dificuldade para superar a moral, os valores que aprendemos desde pequenos. Afinal, na novela a gente já via a mocinha chorar porque seu namorado ficou com outra. No família a gente já aprendeu que quem comete adultério (com toda a carga negativa da palavra) é canalha. Nossos valores parecem tão naturais, que tudo que esteja fora disso é perversão e quem ousar questioná-los deve ser queimado na fogueira. Joga pedra na Geni! Joga pedra na Geni!
Ok. Os hippies que vivam na natureza e procuravam novas formas de relações sociais, que propunham uma vida libertária podiam estar certos. Entretanto, grande parte deles virou yuppie e vestiu seu belo colarinho branco. Regressemos ao conservadorismo, sejamos reacionários.
O fato é que ser o que Dostoiéviski chamaria de extraordinário, ou seja, desafiar a moral dos ordinários, ou das pessoas comuns, sempre custa muito caro. Quantos outsiders não tiveram suas cabeças numa bandeja, ou quantas mulheres divorciadas não foram chamadas de putas? Ou simplesmente quantas mulheres no Afeganistão não foram apedrejadas por mostrarem o tornozelo?
É verdade. Mudar é difícil, bem difícil. Só que essas mudanças, essas revoluções podem caminhar pro lado oposto, e acabam se revestindo do mesmo teor de hipocrisia dos valores contestados.
É quando, por exemplo, um cara ou uma garota diz que é amor livre porque tá na moda. É quando as pessoas que acreditam no amor livre acham que o amor das pessoas monogâmicas não é verdadeiro. É quando, novamente, se estabelecem formas de se comportar e valores dogmáticos. É quando somos tão intolerantes quanto qualquer xiita.
Fora isso, em muitos relacionamentos abertos predominam a superficialidade, a falta de envolvimento. Pessoas que se frustraram em amores do passado e decidem adeirir a novas formas de convívio. Só que muitas vezes o que chamam de amor livre na verdade é falta de amor.
Existe a possibilidade alguém não querer se envolver, alguém não se apaixonar e dizer que quer o amor livre, só pra não assumir um relacionamento sólido, como se relacionamento aberto fosse alguma brincadeira. Aí, de repente, quando se apaixona se torna uma pessoa ciumenta e possessiva como qualquer outra. Alguém pode morrer de medo de ser traído e por isso diz que acredita no amor livre. Assim o perigo de uma iminente "traição" é eliminado. Um mecanismo de defesa para tornar algo que incomoda bastate numa coisa banal.
Estamos diante dos jogos de amor. Para completar, no tal amor livre as pessoas têm preferidos. Ou seja, eu sou o número um e que ninguém me tire desse posto. Pode ficar com quem você quiser, mas no dia em que alguém representar uma ameaça de me tirar do primeiro lugar, eu choro, faço escândalo, esperneio. Aí eu me pergunto se uma pessoa dessas não é possessiva.
Há pessoas que, no entanto, acham que nem deve existir essa história de número um. Acreditam que pode haver um relacionamento não entre duas pessoas, mas entre três, quatro, ou mais. E que nesses casos não seria o tipo "Fulana ama Cicrano e pega todo mundo, mas ama somente a ele", porém sim Fulana ama Cicrano, Cicrano ama Beltrano, Beltrano ama Fulana, e por aí vai. Um verdadeiro desafio para um modelo de relacionamento amoroso baseado na posse.
Nossa relação com as pessoas se parece com nossa relação com as coisas. E no modo de produção capitalista uma valor salutar é a defesa da propriedade privada. Então nosso amante é também nosso bem, bem no sentido de bens. Sabe, aquela história de amor é latifúndio. Mas há aqueles que defendam que o amor seja ocupado, seja libertário, seja comunitário, seja de todos. Só não sabemos até que ponto essas pessoas procuram relacionamentos superficiais ou querem mesmo se envolver com muitas pessoas.
Pois é. Acredito que o amor livre é lindo, e elimina uma série de hipocrisias. Faz quanto tempo que você não vê sua mãe beijar o seu pai? Com quantas pessoas você queria ficar, mas não pode por causa do seu namorado? Se você ficasse com alguém seu sentimento diminuiria? Pode ser que sim, pode ser que não, mas a verdade é que as pessoas, em geral, são muito inseguras. E podemos falar de revoluções sexuais, porém não esqueçamos que na hora de mexer com nossos medos a coisa complica.
O amor livre pode ser lindo, quando vivido sem medos e com muita sinceridade. É tão lindo quanto um relacionamento monogâmico vivido sem medos e com muita sinceridade. Não há forma de se relacionar mais nobre, elevada, superior. Agora, se você se mete numa dessas porque não ama alguém o suficiente para abrir mão de trepar com outras pessoas, se você não quer se apegar a ninguém, se você quer seguir uma tendência pós-moderna, você definitivamente tá se metendo em terreno perigoso e poderá acabar ferindo a si mesmo, a outra pessoa, ou aos dois.
Estamos diante dos jogos de amor. Para completar, no tal amor livre as pessoas têm preferidos. Ou seja, eu sou o número um e que ninguém me tire desse posto. Pode ficar com quem você quiser, mas no dia em que alguém representar uma ameaça de me tirar do primeiro lugar, eu choro, faço escândalo, esperneio. Aí eu me pergunto se uma pessoa dessas não é possessiva.
Há pessoas que, no entanto, acham que nem deve existir essa história de número um. Acreditam que pode haver um relacionamento não entre duas pessoas, mas entre três, quatro, ou mais. E que nesses casos não seria o tipo "Fulana ama Cicrano e pega todo mundo, mas ama somente a ele", porém sim Fulana ama Cicrano, Cicrano ama Beltrano, Beltrano ama Fulana, e por aí vai. Um verdadeiro desafio para um modelo de relacionamento amoroso baseado na posse.
Nossa relação com as pessoas se parece com nossa relação com as coisas. E no modo de produção capitalista uma valor salutar é a defesa da propriedade privada. Então nosso amante é também nosso bem, bem no sentido de bens. Sabe, aquela história de amor é latifúndio. Mas há aqueles que defendam que o amor seja ocupado, seja libertário, seja comunitário, seja de todos. Só não sabemos até que ponto essas pessoas procuram relacionamentos superficiais ou querem mesmo se envolver com muitas pessoas.
Pois é. Acredito que o amor livre é lindo, e elimina uma série de hipocrisias. Faz quanto tempo que você não vê sua mãe beijar o seu pai? Com quantas pessoas você queria ficar, mas não pode por causa do seu namorado? Se você ficasse com alguém seu sentimento diminuiria? Pode ser que sim, pode ser que não, mas a verdade é que as pessoas, em geral, são muito inseguras. E podemos falar de revoluções sexuais, porém não esqueçamos que na hora de mexer com nossos medos a coisa complica.
O amor livre pode ser lindo, quando vivido sem medos e com muita sinceridade. É tão lindo quanto um relacionamento monogâmico vivido sem medos e com muita sinceridade. Não há forma de se relacionar mais nobre, elevada, superior. Agora, se você se mete numa dessas porque não ama alguém o suficiente para abrir mão de trepar com outras pessoas, se você não quer se apegar a ninguém, se você quer seguir uma tendência pós-moderna, você definitivamente tá se metendo em terreno perigoso e poderá acabar ferindo a si mesmo, a outra pessoa, ou aos dois.
segunda-feira, abril 16, 2007
We are the champions, my friend
Sempre tive uma relação estranha com os esportes. Fã das Olímpiadas, encantada pelo que chamam de espírito olímpico, emocionava-me ao ver as belas histórias de mocinhas da ginástica olímpica que quebram a perna e continuam sua apresentação, bem como imitava aquele célebre golpe de Daniel Sam em Karatê kid. Mas a verdade é que quando começo a praticar alguma modalidade, me empolgo, me dedico pra valer, até o belo dia em que enjôo e passo meses e meses praticando a arte de dormir e passar horas diante do computador. Acho que esse negócio de atleta não é pra mim.
Tudo começou na quarta série, quando eu fugia das aulas de educação física. Quando ia por pura obrigação era um tremendo desastre. Meus colegas ficavam putos, me botavam no time reserva, e nas poucas vezes em que eu participava de um jogo de futebol, ficava parada e deixava as pessoas com seus chutes na perna, faltas violentas, broncas da professora gorda que ironicamente dava aulas de educação física.
Nunca vou me esquecer do dia em que não chutei pra dentro do gol uma maldita bola que graça aos deuses do inferno veio parar bem no meu pé, pé esse que estava logo em frente ao gol, gol esse que estava sem goleiro. A bola foi ignorada, e rolou tranquilamente para fora da quadra, quase como se zombasse dos "atletas". E um grupo enorme de pessoas ficou ao meu redor me xingando e me fazendo ameaças. Por que as pessoas levam o futebol tão a sério? Tsc tsc.
Bem, minha segunda experiência com esportes foi na quinta série. Entrei no GRD, o esporte das patricinhas que se vestiam como barbies e moravam na 13. Aquilo não era lugar pra mim, eu não tinha uma mãe rica que vinha me buscar na escola com o carro do ano e que falava com a diretora balançando a pulseira de ouro. Mas eu adorava o GRD e vivia dando cambalhotas dentro de casa. Gostava do GRD, mesmo com uma professora carrasca que empurrava a gente até nossas pernas estalarem na hora de escalar, mesmo sem pesar 40 quilos, mesmo com uma platéia de meninos punheteiros na quadra.
Um dia eu simplesmente enjoei do GRD. Aí então passei uns cinco anos sem praticar nenhum esporte. Até que descobri o universo das academias. Em outra experiência traumática, achava extremamente divertido aumentar a cada semana a quantidade de pesos que levantava, adorava ganhar do meu irmão na queda de braço, me regozijava ao ver que levantava mais peso do que alguns homens. Era bom ser forte e correr por meia hora na velocidade de 8,2 km/h. Imaginava até que podia ser bombeira, policial, que eu era foda, enfim. Até o dia em que enjoei de ser forte, e virei uma pessoa normal que dorme e passa horas na frente do PC.
Já caminhei, já caminhei muito e era feliz por fazer caminhadas na 13 e tomar água de coco ao final do percurso. Uma coisa bem light, sabe. Mas a poluição da cidade, dos carros que passam espalhando seu monóxido de carbono pelo ar, me trouxeram ao mundo real. Eu só queria caminhar no meio da natureza e ser hippie, mas preciso ganhar dinheiro.
Hoje eu sou uma pessoa normal que passa horas na frente do computador e dorme. Minha próxima tentativa é fazer yoga. Já estou vendo eu me achando o máximo, me contorcendo, falando pros meus amigos das maravilhas da yoga, porque a gente procura o equilíbrio, porque é uma atividade que educa nosso corpo e nosso espírito. Até eu voltar a ser uma pessoa normal que passa horas na frente do computador, e se estressa no dia-a-dia, e que ao chegar em casa quer mais é saber de dormir e tá pouco se fudendo pra esse papo de educar o corpo e o espírito.
terça-feira, abril 03, 2007
O pudor é a forma mais inteligente de perversão
Era mais um dia morgado, com mais um professor que não vem dar aula na já segunda semana de aulas da universidade, veja só. Aliás, quem diabos inventou de começar as aulas antes da semana santa? Foi a coisa mais inútil que já vi, uma total perda de tempo. Pois bem. Então eu vejo um cara e uma menina conversarem bem na minha frente, ali na pracinha da Didática I.
- Quando vejo tanta desgraça no mundo logo percebo que Deus não existe. Como pode haver um ser supremo e perfeito, quando existe tanta desgraça no mundo?!
Não! Diga que não é verdade, Pluc. Sim, era verdade, eles estavam falando de Deus, o assunto mais chato que existe. Olhei bem pra menina e vi que ela parecia alguma crente de Malhação. Prisilhinha de borboleta no cabelo, saia no joelho, rosto meiguinho e sorridente o tempo todo.
O cara tinha o cabelo pintado de verde, um rapaz jeitoso até, apesar do cabelo verde. Via-se perfeitamente que ele era o cara doidão, o pimba que leu Nietzsche e acha que a vida não faz sentido, e odeia religião, mas no fim das contas ele queria mesmo era comer a menina. Sempre todo prosa, aproximava pouco a pouco a sua boca da boca dela. E ela não tinha problema nenhum com isso.
Não pude deixar de ver alguma volúpia na santinha. Toda aquela meiguice, aquele papinho de Jesus me ama pra lá, Jesus te ama pra cá, não me convenciam. E ela parecia encantada pelo menino que leu Nietzsche. Ao mesmo tempo em que tentava convencê-lo da existência de Deus, derretia-se com aquele papo filosófico-crítico-iluminado-pseudo-intelectual.
Eu só me lembrava de uma coisa: Amarelo Manga. Nesse filme, o diretor passa rapidamente na cena como figurante e balbucia ao pé do ouvido de algum personagem: "O pudor é a forma mais inteligente de perversão".
Logo, não pude deixar de associar a imagem da garota à da moça do filme Amarelo Manga a quem essa frase é dedicada. Então a vi por um instante de ousada imaginação a menina pudica enfiar uma escova no cu do rapaz que leu Nietzsche, assim como em Amarelo Manga.
- Quando vejo tanta desgraça no mundo logo percebo que Deus não existe. Como pode haver um ser supremo e perfeito, quando existe tanta desgraça no mundo?!
Não! Diga que não é verdade, Pluc. Sim, era verdade, eles estavam falando de Deus, o assunto mais chato que existe. Olhei bem pra menina e vi que ela parecia alguma crente de Malhação. Prisilhinha de borboleta no cabelo, saia no joelho, rosto meiguinho e sorridente o tempo todo.
O cara tinha o cabelo pintado de verde, um rapaz jeitoso até, apesar do cabelo verde. Via-se perfeitamente que ele era o cara doidão, o pimba que leu Nietzsche e acha que a vida não faz sentido, e odeia religião, mas no fim das contas ele queria mesmo era comer a menina. Sempre todo prosa, aproximava pouco a pouco a sua boca da boca dela. E ela não tinha problema nenhum com isso.
Não pude deixar de ver alguma volúpia na santinha. Toda aquela meiguice, aquele papinho de Jesus me ama pra lá, Jesus te ama pra cá, não me convenciam. E ela parecia encantada pelo menino que leu Nietzsche. Ao mesmo tempo em que tentava convencê-lo da existência de Deus, derretia-se com aquele papo filosófico-crítico-iluminado-pseudo-intelectual.
Eu só me lembrava de uma coisa: Amarelo Manga. Nesse filme, o diretor passa rapidamente na cena como figurante e balbucia ao pé do ouvido de algum personagem: "O pudor é a forma mais inteligente de perversão".
Logo, não pude deixar de associar a imagem da garota à da moça do filme Amarelo Manga a quem essa frase é dedicada. Então a vi por um instante de ousada imaginação a menina pudica enfiar uma escova no cu do rapaz que leu Nietzsche, assim como em Amarelo Manga.
domingo, abril 01, 2007
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