Mamãe, eu queria saber por que o tio está ficando cada dia mais magro, agora tem que tomar soro, e a senhora dá banho nele. Filha, isso passa, seu tio está doente, mas já já ele fica bom. Mãe, ouvi dizer que ele está com câncer, a senhora está escondendo de mim, não é? Não, minha filha, de jeito nenhum, fique calma, seu tio vai melhorar.
Música no quintal. Maria salta, canta em alguma língua ininteligível da sua fantástica imaginação uma canção dos Backstreet boys. A mãe grita da janela como se o que ela estivesse fazendo fosse uma espécie de crime, e a manda lavar os pratos.
Na cozinha, Maria canta suspirando outra música dos Backstreet boys. Dessa vez sua mãe aparece furiosa, puxa-a pelo braço que Maria balançava no ar de acordo com o ritmo, e fita-a com um ar violentamente repreensivo.
O seu tio está morrendo ein, ein, e você fica aí cantando, você não tem vergonha, tenha mais respeito, daqui a uns dias ele morre, sabia, e você aí cantando.
Maria desembesta a chorar, e passa a mão ensaboada na cara, soluçando a dor que não cabia no peito, a cara vermelha, o bico de criança. A mãe arrependida só fazia abraça-la e passar a mão na sua cabecinha, mainha você não me avisou, mainha. Eu sei, minha filha, eu sei, fique calma.
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