A admiração de Ricardo pelas coisas do Rio lhe provocava no peito uma cadência inebriante, a contemplação do artista perante o mundo, o mundo que é a sua própria arte. A arte pela arte, o mundo pelo mundo.
Ricardo morava no Edifício Ulisses, no Leblon, um enorme e suntuoso prédio que ostentava luxo em meio a favelas onde o caos se pronunciava por tiroteios na calada da noite. Quando visitas vindas de outras cidades perguntavam o motivo de tantos fogos de artifício, Ricardo explicava de maneira plácida e tom afetado que na verdade eram tiros. Os visitantes disfarçavam o espanto por pura polidez.
Ele, como bom anfitrião, para tirá-los de tamanho desconforto, não deixava de mostrar os seus quadros espalhados por toda a casa, lado a lado de fotos tiradas na Europa. A obra de que ele mais gostava e tinha imenso orgulho, ou talvez soberba, chamava-se “A pomba”.
Certa vez estava ele na sacada do apartamento, bem diante do imenso morro onde nas entranhas havia uma guerra entre policiais e traficantes. Ali atiraram por engano numa mulher que estava parindo no meio da rua. O pai de Ricardo, o juiz Fernando, perguntou o que tanto entretinha o filho por horas na sacada, às vezes hipnotizado com o pincel na mão e a tela na frente como se não existisse. Ricardo pediu para não ser incomodado, pois aquele era um momento sublime de transe artístico, e era um pecado invadir o templo da sua criação.
Estava Fernando na sala de estar fumando um charuto cubano, quando seu filho veio com os olhos reluzentes e o ar altivo lhe mostrar sua obra-prima. Ele não pôde conter uma enorme vaidade ao contemplar a arte do filho. Ricardo havia pintado uma belíssima pomba branca voando pelo céu azul do Rio de Janeiro.
3 comentários:
também queria que minha orba de arte so mostrasse arte pra muitas obras..
mas arte é arte dependendo de quem vê
belo texto.. divulga seu fotolog, menina pop!
;**
pop, eu????
é, ricardo é um burguês incapaz de faz uma arte autêntica... tem diante dele uma favela onde está havendo um tiroteio e acaba pintando uma pomba...
valeu pelo elogio, amiga, apesar de vc ser suspeita pra falar, né?
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