Ontem fui surpreendida pela minha mãe me chamando ao telefone com os olhos comovidos. Era minha avó de Porto da Folha, com a voz enferma e pausada, querendo saber mais sobre mim do que falar do seu sofrimento.
Maria é uma mulher sofrida, do sertão, onde nos olhos há sempre um brilho de quem vive na luta, e o rosto marcado pelo sol que a castiga no trabalho. Há quanto tempo que não vejo um gesto simples nas suas palavras serenas, e dói no peito sentir sua voz sofrida contendo a tristeza.
Vovó perguntou se eu ainda me lembrava dela, quanto tempo não vou lá no sertão, uma forma angustiada de saber se eu assim tão longe correspondia aos seus afetos. E ela ficou tão feliz quando lhe falei das minhas doces lembranças de quando eu corria por aquela terra ardente na minha infância.
Lembrei dos passeios a cavalo sem cela, as duas rumavam na noite, e da noite o que ficou foram as estrelas, que eu guardo num canto mágico da minha memória. E a foto dos pais de Dona Maria, os dois com o aspecto indígena, sempre me chamava a atenção. Ah, lá eu corria atrás de sapos, nos tempos em que de alguma forma eu me misturava com a naturerza.
Nunca vou me esquecer do carinho ingênuo que minha avó me dedicava. Do pirão que ela preparava pra mim, ah como era gostoso, da xícara pequenina enfeitada com florzinhas vermelhas e era só minha, de quando ela deixava eu comer o almoço com as mãos, ato que minha mãe jamais permitiria.
Vó Maria agora é uma recordação bonita e uma voz triste ao telefone. Espero viajar para Poto da Folha, ver como vai o vô, ele parece estar caminhando para uma outra forma de vida que eu não sei explicar. Queria poder botar minha avó no colo, e cantar canções do Luiz Gonzaga que a gente dançava nos bailes do sertão. Ela só quer, só pensa em namorar, ela só quer, só pensa em namorar...
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