Desde pequenina, eu, assim como todas as crianças do mundo, escutava essa frase: Estude para ser alguém na vida. Quando eu era guria, a frase nunca teve nenhum significado. Hoje em dia ela faz todo o sentido pra mim.
Essa frase começou a fazer sentido pra mim mais especificamente quando comecei a procurar pelo meu primeiro estágio. Levei muito tempo até conseguir um e descobri que não era nada fácil. E eu entendi realmente o significado dessa frase depois que recebi o meu diploma.
Quando você se forma, muita pressão cai em cima de você. Se quando você estava na graduação rolavam perguntinhas como "está gostando do curso?" ou "já começou a estagiar na área?", após a formatura você tem que dar um rumo a sua vida muito sério.
Foi quando o Poema em linha reta, do heterônimo Álvaro de Campos, traduziu o meu estado de espírito. Só havia semideuses ao meu redor. Todo mundo abafando trabalhando não sei onde e me perguntando o que eu estava fazendo, e eu merda nenhuma, e eu tinha que encarar o semblante de nojinho de familiares, ex-colegas de faculdade, etc.
Não foram poucos os comentários venenosos, gente me rotulando de incompetente, gente passando na cara que era o maioral, enfim, os semideuses...
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Não só eu, como outros colegas que não eram da turminha do governo, ou da turminha da imprensa, ou da turminha da academia, éramos os incompetentes e acabou-se. Hoje eu começo a achar o mundo meio escroto pelo fato de a gente ter que estudar pra ser alguém. A gente tem que saber pra ser alguém. Tem que ter dinheiro pra ser alguém. Tem que ter título, cargo, pra conseguir RESPEITO.
Muitas pessoas simplesmente não te respeitam quando você não é ninguém na concepção delas (que é ter o que eu falei antes). E daí eu fico imaginando o quanto pessoas que trabalham recolhendo lixo, por exemplo, são diariamente humilhadas porque, ora bolas, não estudaram, não são NINGUÉM. E quantas vezes eu vi um homem servindo cafezinho no trabalho, e as pessoas podiam até dar um boa tarde e serem simpáticas, mas elas se levantavam mesmo e faziam reverências para o dono da empresa...
Para todo lugar aonde você vai as pessoas perguntam o que você está fazendo e exigem que você esteja alavancando na sua carreira profissional. E boa parte dessas pessoas só te consideram inteligentes se você tiver o bendito cargo ou sei lá o quê da peste. Você tem que ter um carimbo na sua testa. É impressionante.
Quando eu entrei na faculdade, as pessoas valiam pelo que elas eram. Se eram engraçadas, se eram legais, se eram divetidas, se eram interessantes, se tinham um papo bacana. Depois elas começaram a valer pelo que elas tem. Pessoas, no fim de tudo, viram contatos. E se você não é um contato, você não é ninguém. Isso sua família não lhe ensinou quando criança.
Um comentário:
Acabo de ver um filme chamado MEU NOME É NINGUÉM (1973, de Tonino Valerii), produzido pelo Sergio Leone, genial em mais de um sentido, em esoecial pelo brilhantismo do personagem-título, que quer ser alguém na moita...
Eu estudo desde que me entendo por gente, por que gosto, não porque quisesse ser alguém... Será que me tornei? pelo sim, pelo não, belo desabafo!
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