quinta-feira, dezembro 16, 2010

Quem precisa de Foucault?

Durante esta semana, acompanhei a Mostra Cinema e Direitos Humanos. E aconteceu o que eu esperava: filmes que abordam temas interessantíssimos, mas que no entanto não apresentam ousadia estética. Ontem eu morri de sono quando a segunda parte do documentário Claudia (2010), de Marcel Gonnet, mostrava um monte de entrevistas com pessoas que trabalham com o sistema penitenciário afirmando coisas muito clichês e citando Foucault. Nada contra Foucault, mas daí a citá-lo num documentário? Pelo amor de deus!!! E se no começo o filme parecia se aproximar de uma perspectiva mais pessoal da presa Claudia, logo depois virou uma espécie de mistura de documentário sociológico com reality show.

A casa dos mortos (2009), Débora Diniz, tinha a pretensão de ser algo mais poético (inclusive se baseia no poema de um ex-interno), e mesmo dialoga com a narrativa de ficção (dividindo o filme em cenas), porém se perde num modo de representar os doentes mentais que cometeram crimes através de uma perspectiva que enfatiza o bizarro. A casa dos mortos (2009) está muito longe de um O prisioneiro da grade de ferro (2003), de Paulo Sacramento, que consegue fugir dos clichês que rondam a elaboração de um filme numa prisão e recorre a procedimentos como produção de imagens feitas pelos próprios presos, imagens da solidão, do tédio, da passagem do tempo aflitiva, da tentativa de prosseguir a vida, e também da violência.

Não vi nenhum documentário a la o genial Serras da desordem (2006), do Andrea Tonacci, só clichê por cima de clichê. Documentários como A verdade soterrada (2009), de Miguel Vassy, Rosita não se desloca (2009), de Alessandro Acito e Leonardo Valderrama, Defensa 1404 (2010), de David Rubio, valeram a pena para mim no sentido de conhecer um pouco sobre a história e a atualidade de países como Uruguai, Argentina e Colômbia. Mas isso se resolve vendo reportagens. Ah! E achei bem bolado o Hércules 56 (2006), do Silvio-da-Rin, por colocar os ex-presos políticos envolvidos no sequestro do embaixador Charles Elbrick para confrontar suas memórias de modo descontraído sentados a uma mesa.

Na real, o documentário que mais me chamou a atenção mesmo foi o Bailão (2009), Marcelo Caetano. Trata-se de uma imersão no imaginário urbano dos homossexuais idosos acostumados a viverem na margem, na noite, na penumbra, nos esconderijos em esquinas escuras e cinemas pornôs. Um belo documentário que traz à tona os afetos dos personagens do documentário na sua relação com o espaço urbano. O filme tem algo da novela Pela noite, do Caio Fernando Abreu, que traz esse mesmo universo marginal dos homossexuais que perambulam noturnamente pela metrópole.

Dos filmes de ficção que eu vi, O filho da noiva (2001), Juan José Campanella, Abutres (2010), Pablo Trapero, Carreto (2009), Marília Hughes e Claudio Marques, e Eu não quero voltar sozinho (2010), Daniel Ribeiro, no fim das contas eu curti mais o último. Gostei de todos, mas pelo curta Eu não quero voltar sozinho eu tive um carinho especial. Por mais que para uns possa parecer um curta bobo e infantil, eu gostei justamente disso, do teor ingênuo do filme. O curta narra a história de Leo, um garoto cego que conta com a ajuda de uma colega de classe, a Gi, nas atividades e que o leva todos os dias até a sua casa, garota apaixonada por ele, mas cujo amor não é correspondido, dado que Leo se encanta por um novato na classe, Gabriel. Uma coisa interessante na exibição foi ver algumas pessoas se espantarem com o selinho de Gabriel e Leo e exclamarem algo como "oxeee", "que é isso?". Também vi um casal se retirar da sala de projeção logo após o selinho.

Enfim, mas eu curti mais o Eu não quero voltar sozinho pelo fato de ele ter trazido como nenhum outro filme dos que eu vi na mostra esse lado afetivo, emotivo, sentimental dos personagens, e de modo tão singelo. Mas, de um modo geral, acho que ainda falta a percepção de que um bom tema não faz um bom filme.

4 comentários:

Gomorra disse...

Queria muito ter visto este curta, mas meu tempo no DAA ocupou-me.

Gostei de ver crianças vendo o PRA FRENTE, BRASIL, ontem, muito bom mesmo!

Quanto ao teu parecer sobre a modorra causada por estes documentários convencionais, concordo sobremaneira.

WPC<

Rayza Sarmento disse...

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Tati, tô muito a fim de ver Bailão.
Não fui na mostra que rolou aqui em Belém. Onde será que conseguimos ver esses filmes,hein?
E olha, os leitores do Foucault mais os membros da Une querem te queimar na fogueira!
E eu vou junto, por concordar contigo!

beijo, querida!

tatiana hora disse...

ai que honra receber sua visita, Yza!
nós vamos arrasar em BH!
aquela Fafich ein?
kkkkkkkkkk
a UFMG que se segure!
beijos!

allysson thierry disse...

cult!!!!!kkkkkkkkkkkkkkkk