Então estava eu no supermercado fazendo comprinhas de véspera de feriado à noite, quando me deparo com a revista VEJA e, sem conter meu espanto, berro: VEJA QUE ABSURDO!
A capa da Veja é simplesmente a foto de um Serra com cara de intelectual competente e meigo - o fato de ser da elite não tirou de seu semblante a doçura - e a legenda é: Serra e o Brasil pós-Lula. Pós-Lula, Lula lembra Dilma, Brasil pós-PT, país livre de petistas. Trocando em miúdos, segundo a Veja, Serra já ganhou as eleições!!!
Como se não bastasse, ainda consta na capa uma declaração do tucano que fecha com chave de ouro a propaganda eleitoral antecipada: "Me preparei a vida toda para ser presidente".
Depois a oposição reclama dos discursos eleitoreiros e promotores da Dilma em inaugurações de obras do PAC e dá-lhe processos do Tribunal Superior Eleitoral. Políticos!!!
Só digo uma coisa: minha gente, não que algum dia eu tenha acreditado em imparcialidade no jornalismo. Mas pelo amor de todos os deuses não sejam TÃO BREGAS!!!!
sexta-feira, abril 23, 2010
sexta-feira, abril 02, 2010
L'hypothèse du tableau volé (1979), Raoul Ruiz
Ver filme em feriado que apresenta céu nublado é algo que afaga muito a alma. Hoje assisti a L'hypothèse du tableau volé (1979), de Raoul Ruiz. Filme que se inicia com uma frase de Victor Hugo: A consciência humana está morta. Lançado justamente nos primórdios do que seria a tão falada pós-modernidade: para alguns, época do fim das ideologias, das metanarrativas, da História.
Fredric Jameson comenta a respeito desse filme em seu estudo As transformações da imagem na pós-modernidade. O filme de Ruiz, segundo Jameson, estaria entre tantos outros que propõem, diante da imensa quantidade de imagens publicitárias presentes na cultura midiática, o retorno ao Belo. A beleza aí é concebida em termos kantianos, que propõe a beleza em si, o estético como aquilo que está distante do cotidiano. A arte pela arte.
O filme de Ruiz apresenta um narrador inusitado que apresenta histórias sobre quadros que haviam sido furtados. Os quadros viram verdadeiros quadros vivos encenados pelos atores. Logo no início, ele retira bonecos da gaveta - que estavam sobre um mapa do corpo humano - e os dispõe sobre e sobre a mesa. Os atores se comportam como bonecos: são modelos e seus semblantes não nos dizem nada além do fato de que são fantoches.
Se o narrador transforma os quadros em narrativas, ele também se questiona sobre a recusa da história. E esse elemento caracteriza o filme como exemplar pós-moderno, como afirma Jameson. Podemos recorrer a Alberto Manguel para refletir sobre uma relação entre cinema e pintura, narrativa e espaço. Segundo Manguel, a pintura seria a arte do espaço, enquanto o cinema, a arte do tempo. O fato de o cinema ser uma arte do tempo o coloca em estreita relação com o romance, e assim os filmes apresentam narrativas. Só que as próprias pinturas na Idade Média apresentavam uma tentativa de continuidade de uma história dentro do espaço de um quadro. E mesmo que no quadro caiba apenas o espaço e o instante, o espectador comum atribui à imagem uma narrativa.
Só que o narrador declara no filme: por que devemos chegar ao tema? O tema não importa, o que importa é a forma!
Mas não seria o elogio à forma, à arte pela arte, uma maneira de elitizar arte? Ou mesmo afastá-la de seu contexto sócio-histórico?
Esta obra que me parece um lamento em relação à indústria cultural nada me diz, por exemplo, sobre o Chile, país de origem do diretor que fez o filme falado em francês.
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