sexta-feira, setembro 17, 2010

Eleições: escândalo x escândalo

O período de eleições é o momento em que fica mais evidente a falácia dos princípios do jornalismo: objetividade, neutralidade e imparcialidade. Eu sempre achei a discussão sobre objetividade no jornalismo uma perda de tempo. Acredito que seja muito mais frutífero um aluno estudar, por exemplo, análise do discurso e adotar uma postura crítica diante do uso da linguagem, do que ficar discutindo se o jornalismo tem ou não que ser objetivo. E acho também muito mais enriquecedor do que debater a imparcialidade jornalísitica é a discussão acerca a democratização dos meios de comunicação de massa. Não importa se o jornal é imparcial, isso para mim não é possível, interessa sim haver uma pluralidade de veículos, com suas diversas visões de mundo.

Então... Depois de dizer logo o que é que eu penso em termos gerais sobre jornalismo, vamos à cobertura das eleições deste ano. É uma farra, minha gente. Nesse momento, as posições político-partidárias dos veículos de comunicação ficam mais evidentes, o que me diverte, de certa forma. Mas é revoltante como jornais têm um debate tão raso acerca da política. Afinal, muito pouco se fala sobre os programas de governo dos candidatos e também sobre a atuação de seus respectivos partidos quando estiveram no poder.

Em vez disso, um festival de disse-me-disse. Um escândalo por dia. E um escândalo publicado numa revista como a Veja, a exemplo do caso da denúncia de quebra de sigilo fiscal da filha de Serra, Verônica Serra, supostamente realizado pelo PT, é alardeado pela mídia televisiva. Outro bafafá, ridículo por sinal, foi a matéria de capa da Folha de São Paulo, que afirmava que um erro de Dilma Rousseff havia incorrido num desperdício de dinheiro público estimado em mais de um bilhão de reais.

Tratava-se da mal pensada tarifa social de energia. O governo deveria compensar as companhias de energia elétrica com uma tarifa, baseado na hipótese de que as residências que gastam pouca energia são as mais pobres. No entanto, casas de veraneio de ricos não gastam muita energia. A Folha então acusou a Dilma, que já foi ministra de Minas e Energia, de atrasar a resolução para acabar com essa lei. Só que a bendita lei foi criada quando? Justamente no governo de Fernando Henrique Cardoso, quando houve a privatização das companhias de energia elétrica. Ao acusar Dilma, tentava-se manchar uma das suas qualidades mais exaltadas pela sua campanha: a sua competência técnica. Na minha humilde opinião, errado o PSDB com uma lei tão estúpida, errado o PT em demorar tanto para resolver o problema.

Agora o escândalo da vez envolve Erenice Guerra, ex-secretária de Dilma, que exercia a função de ministra-chefe da Casa Civil e foi afastada do cargo. A revista Veja publicou uma matéria afirmando que o filho de Erenice Guerra teria recebido propina para mediar um contrato entre a empresa MTA linhas aéreas e os Correios.

Após a denúncia, Erenice Guerra foi afastada do cargo, ocupado atualmente por Carlos Eduardo Esteves Lima. Diante das acusações, o que fazem os veículos jornalísticos? Do lado dos que defendem a candidatura petista, fala-se em manipulação, em complô eleitoreiro, e tudo não passa de mentira da direita fascista tupiniquim. Do lado dos que defendem PSDB/DEM, estamos perdidos nas mãos do governo petista, teremos uma presidente ex-terrorista liderando essa cambada de corruptos que, como afirma a Veja, financia movimentos "criminosos" como o MST.

A resposta: outro escândalo. Em contrapartida ao escândalo da quebra do sigilo fiscal da filha de Serra difundido pela imprensa tucana, a Carta Capital publicou matéria apontando que, durante o governo FHC, a empresa Decidir.com, da qual Verônica Serra era sócia, realizou sob a vista grossa do governo de então, a quebra do sigilo fiscal de cerca de 60 milhões de brasileiros, que tiveram seus dados expostos na internet.

Mas de escândalo em escândalo o que se vê são veículos que defendem com unhas e dentes os seus respectivos candidatos. O que me impressiona. Quase não há espaço para a crítica, nem problematizações, só extremos. Tudo muito vermelho ou azul. Alias, os outros candidatos, coitados, nem aparecem. Análises consistentes sobre política econômica, educação, saúde? Nada. Um marasmo total. No fim das contas, ficamos sem saber que diabos esses políticos estão fazendo e o que eles propõem. Temos sim uma vitrine de escândalos para escolher entre eles quem são os menos corruptos.

3 comentários:

Gomorra disse...

É realmemte revoltante...
De fato, este ano, mais do que mos anteriores, estou a perceber o quão "defensivos com unhas e dentes", como tu disseste, estão os veículos no que tange à defesa de seus candidatos... É impresionante! É nojento! E está sendo obviamente contraproducente...

Uma vergonha, por mais óbvia e repetente que se manifeste. Pôxa...

O que ainda mais se destaca para além do escãndalo de tantos escãndalos é o oportunismos como eles surgem todos numa mesma época, no extao mês antecedente à eleição... É como se fossem casos arquivados de polícia aguaradando um momento vendável para serem divulgados...

Muito feliz de minha parte é te ter como conselheira profisisonal, visto que te formaste antes e segue à risca teus preceitos éticos, os pessoais, os clarificados diariamente neste 'blog' tão personalíssimo...

Obrigado!

De coração em pé, digo-te: OBRIGADO!

Beijo...

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tatiana hora disse...

eu sinto falta de ter estudado de verdade análise do discurso no curso de Jornalismo.. é algo tão difícil de entender e importante..
um professor passou por cima do tema.. disse assim: "análise do discurso não é importante. pra que entender o que o cara estava pensando quando escreveu o texto?"
e assim ele definiu o que era...

ele preferia debater objetividade jornalísitica.
acho que você sabe de quem estou falando.

Pseudokane3 disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

Pensei "nele" na primeira linha...
Incrível (no pior sentido do termo)

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