sexta-feira, junho 25, 2010
Dilma: entre os papéis de militante e mãe
Recentemente li uma matéria na Caros Amigos que abordava o protesto de militantes feministas durante a Plenária Nacional das Mulheres do PT, na ocasião em que também foi homologada a candidatura de Dilma Rousseff. "Não basta ser mulher", bradaram as militantes. E elas aproveitaram a oportunidade para criticar o teor da campanha política da candidata petista.
Segundo as feministas do PT, a campanha de Dilma e também suas declarações em público reproduzem os valores mais arcaicos acerca do papel da mulher na sociedade. Frequentemente, Dilma tenta conquistar eleitores representando o papel da mãe, da mulher que cuida e protege, e pior: da mulher à sombra de um homem, Lula. E o papel de mulher dócil irá render muito mais votos a Dilma do que a personagem da mulher truculenta, mandona, que tantas vezes foi construída na mídia.
Não obstante, acho uma grande ilusão esperar de uma campanha política um teor diferente. As campanhas não são feitas de ideologias socialistas, comunistas, neoliberais... São amparadas na emoção, em sentimentos irracionais e não num discurso racional. Sabemos que a paixão na política vale muito mais do que as propostas de campanha. E as campanhas não são feitas de ideologias políticas, mas sim pelo mais puro marketing. São os marketeiros os donos dos gestos, da voz, até do discurso dos políticos.
Marketeiro nenhum aconselharia Dilma Rousseff a defender ideais feministas. Ora, isto é uma construção da própria sociedade brasileira. Sabemos que a condição de homens e mulheres está longe de ser igual. E que a nossa sociedade é extremamente machista. Mas esse machismo não tem origem apenas nos homens. Como diria Foucault, o poder não é feito apenas da negação, da probição, mas o poder é também produção de conhecimento e afirmação. O poder produz visão de mundo. E grande parte das mulheres concordam com a visão de mundo pautada nos valores machistas e são também elas reprodutoras da sua própria opressão.
Por isso que ninguém espere que o discurso de Dilma mude. Ela vai sim continuar batendo nesta mesma tecla de mulher=mãe e vinda da costela de Lula. Inclusive essa fórmula tem dado certo e ela tem crescido bastante nas pesquisas devido à associação da imagem dela à de Lula. Minha aposta é de que se ela viesse com papo de feminismo suas intenções de voto cairiam vertiginosamente.
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Um comentário:
Concordo com o que vc diz no texto. Para que uma candidata como Dilma conquistar uma boa parcela dos votos, deve-se apelar para as atitudes conservadoras, já que se está falando para uma sociedade machista e altamente conservadora como a brasileira.
Seria muita ingenuidade dela e, principalmente dos marqueteiros, apostar em um discurso dito libertário. Bom texto. :)
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