sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Solaris


Hoje vi Solaris, de Tarkovsky, pela terceira vez. E essa foi a vez mais bonita. É daqueles filmes que nos surpreendem sempre, porque não se trata de imagens que contam uma narrativa em prosa, mas de uma poesia espectral que figura um pensamento, e com ela criamos, sempre mais e mais.

A estação espacial Solaris foi enviada ao planeta Oceano. E um cientista volta à terra contando sobre coisas impressionantes que viu. Uma neblina cobriu toda a estação, até surgir um jardim, e das nuvens sair um menino.

O mar no inconsciente coletivo está relacionado às profundezas do pensamento. E nessa obra, é na estação Solaris, no planeta Oceano, que os personagens vão mergulhar em si mesmos, trazendo à tona lembranças e fantasias. Eles partem da Terra, o planeta dominado pela civilização, para no Oceano, quando procuravam o progresso da humanidade, descobrirem a si mesmos.

Ao chegar a Solaris, o psicólogo Kris Kelvin encontra dois cientistas transtornados, e um deles já havia cometido suicídio. Sua ex-esposa Hary, que tinha se suicidado por envenenamento, lhe surge na estação. Hary pergunta quem é a mulher do retrato guardado na mala de Kelvin, e ao se contemplar diante do espelho descobre que é ela mesma.

Kelvin percorre os escombros da sua alma, onde havia deixado algo que o padecia tanto, a morte de sua ex-esposa. Hary fala aos integrantes da estação que as visitas que recebiam eram produtos de suas próprias mentes. Mas Hary não aparece só a Kelvin, ela surge aos outros cientistas, palpável, ela não era uma mera alucinação, a dicotomia entre realidade e fantasia é quebrada por Tarkovsky na sua crítica à racionalidade.

Quando Kelvin pisa no planeta Oceano, ele encontra dentro de uma bucólica casa o seu pai. Na última cena do filme, Kelvin o abraça num grande encontro, assim como o de Odisseu e Telêmaco. Kelvin, Telêmaco, havia partido da sua terra natal, e não o Odisseu, o pai de Kelvin. Kelvin por fim volta à sua Ítaca, que em Solaris é distante da terra natal, para reencontrar o pai. E os sonhos.

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