Eu adoro chão de tacos, eles têm um brilho bonito demais, dá pra ver um pouco da cara da gente, e o cheiro de cera? Gosto. Mamãe inventou de tirar os tacos pra colocar lajotas brancas, disse que dava menos trabalho.
Carolina? Oi tia. Venha. Minha tia sempre teve esse rosto assim cheio de dureza. È daquelas amarguras que não são sofridas. São agressivas.
Essa blusa vai ficar curta, não é não? Não, tia, que é isso. As partituras de Raul Seixas, engraçado ela gostar tanto de Raul, o violão, faz quanto tempo que ela não toca? Eu já disse que não vou à missa mais, por que insiste em perguntar, as intrigas de sempre.
- Oi Carolina.
Eu não gosto do meu tio, sabe. Ele sempre me toca demais, odeio pessoas que ficam bulindo no meu corpo pra falar. Presto muita atenção nos caminhos das mãos, eu desconfio dele, ele tem um tato lascivo. Tudo na brincadeira, parece meu tio ingênuo e eu a menininha, mas ele é homem sem vergonha, e eu mulher com curvas. Eu não tenho culpa de ter seios, não mereço o olhar severo da tia. Ela se embrutece, mas finge que não vê, talvez ela nem saiba do ódio que sua pupilas chispam.
Tia Eduarda saiu pra fechar as janelas e a porta. Experimente, Carolina. Eu assim de peitos, ela ficava fitando as partituras com pudor. As rosas vermelhas, adoro, que blusa bonita de seda e rosas.
- Opa.
Não me caibo em vergonha, nem na blusa, fecha a blusa, fecha a janela.
- Eu não avisei a você que ela ia trocar de roupa?
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