quinta-feira, fevereiro 16, 2006
A nave fantasma
Como termina um amor?- O quê? Termina? Em suma ninguém-exceto os outros- nunca sabe disso; uma espécie de inocência mascara o fim dessa coisa concebida, afirmada, vivida como se fosse eterna. O que quer que se torne objeto amado, quer ele desapareça ou passe à região da Amizade, de qualquer maneira, eu não o vejo nem mesmo se dissipar: o amor que termina se afasta para um outro mundo como uma nave espacial que deixa de piscar: o ser amado ressoava como um clamor, de repente ei-lo sem brilho (o outro nunca desaparece quando e como se esperava). Esse fenômeno resulta de uma imposição do discurso amoroso: eu mesmo (sujeito enamorado) não posso construir até o fim minha história de amor: sou poeta (o recitante) apenas do começo; o final dessa história, assim como a minha própria morte, pertence aos outros, eles que escrevam o romance, narrativa exterior, mítica.
Fragmentos de um discurso amoroso, Roland Barthes
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