domingo, junho 18, 2006

Olando


O homem tem a mão livre para agarrar a espada; a mulher deve usá-la para impedir que as sedas escorreguem de seus ombros. O homem encara o mundo de frente como se ele fosse feito para seu uso e de acordo com o seu gosto. A mulher lança-lhe um olhar de esguelha, cheio de sutileza, e até de desconfiança. Se usassem as mesmas roupas, é possível que sua maneira de olhar tivesse vindo a ser a mesma.

Isso é a opinião de alguns filósofos e sábios, mas nós temos outra. A diferença entre os sexos tem, felizmente, um sentido mais profundo. As roupas são meros símbolos de alguma coisa profundamente oculta. Foi uma transformação do próprio Orlando que lhe ditou a escolha das roupas de mulher e do sexo feminino. E talvez nisso ela estivesse expressando apenas um pouco mais abertamente do que é usual- a franqueza, na verdade, era sua principal característica- algo que acontece a muita gente ser ser assim claramente expresso. Pois aqui de novo nos encontramos num dilema. Embora diferentes, os sexos se confundem. Em cada ser humano ocorre uma vacilação entre um sexo e outro; às vezes só as roupas conservam a aparência masculina ou feminina, quando, interiormente, o sexo está em completa oposição com o que se encontra à vista. Cada um sabe por experiência as confusões e complicações que disso resultam; mas deixemos aqui o problema geral, e observemos somente o seu singular efeito particular de Orlando.

Porque a mistura e alternada preponderância de homem e mulher é que frequentemente davam à sua conduta um giro inesperado. As mulheres curiosas perguntariam, por exemplo: se Orlando era mulher, como não levava mais de dez minutos a vestir-se? E não eram suas roupas escolhidas mais ou menos ao acaso, e às vezes estavam até um pouco gastas? E diriam ainda que lhe faltava um certo formalismo masculino e o amor que os homens têm ao poder. Seu coração era excessivamente terno. Não podia ver espancar um burro nem afogar um gatinho. Embora observassem ainda que detestava assuntos domésticos, levantava-se de madrugada e saía pelos campos, no verão, antes de raiar o sol. Nenhum fazendeiro conhecia melhor do que ela as coisas da colheita. Podia beber com os mais fortes e jogar jogos de azar. Montava bem, e era capaz de dirigir seis cavalos a galope pela Ponte de Londres. Embora ainda, apesar de audaciosa e ativa como homem, se notasse a vista de alguém em perigo lhe produzia palpitações das mais femininas. Rebentava em lágrimas à mais leve provocação. Não era versada em geografia, achava matemática intolerável, e sustentava certos caprichos mais comuns nas mulheres do que nos homens, como, por exemplo, que viajar para o sul é descer uma encosta. No entanto, se Orlando era mais homem ou mulher, é coisa difícil de dizer e não pode ser resolvida agora.

Virginia Woolf

Sobre o nobre Orlando, que se transforma em mulher. Sobre nós, que homens ou mulheres, acima de tudo somos humanos.

7 comentários:

Anônimo disse...

Pode ser que se aproxime um pouco do patético - que remédio! - mas, acho que lhe vi. Somente acho porque não sei de fato quem vc é. Vá lá que achei hilário e depois muito patético. Agora voltei a acha hilário...kkkkkkkkkkkkkkkkkk

tatiana hora disse...

kkkkkkkkkkkkk
isso é tosco mesmo. já aconteceu esse tipo de coisa comigo.

c "me" viu onde?

Anônimo disse...

No terminal. "Vc" Tava indo pra faculdade. Porra eu ia falar "contigo", mas fiquei com uma puta preguiça, entende, ia ser muito cerimonioso, tipo "Oi vc não é a menina do blog... Blablabla. Depois aquele velho questionário do IBGE: Nome, profissão, idade... achei melhor deixar quieto... talvez fosse melhor eu falar... não sei... não sei...

tatiana hora disse...

se a pessoa que você acha que sou for eu, bem, eu sou uma pessoa muito educada, pode falar comigo :P

Anônimo disse...

Não,não, não acho que vc deve ser bastante educada...que conversa maluca... pena que eu não tenho seu msn...

tatiana hora disse...

ah, é tati_hora@hotmail.com

Ela disse...

Opa...foram pro msn agora ficamos de fora da conversa...rsrsrsrsrs
Sacanagem!!!! rsrsrsrs