sábado, outubro 22, 2005


Não sonho ao lado teu


Nesta noite as minhas angústias me impedem de dormir ao teu lado. O corpo junto a outro corpo, a alma repartida em tristezas mil, eu fico a contemplar tua sandália, que guarda o teu pé aonde vais, e largas quando te abandonas no leito para não ter sonho nem porvir. Meu corpo está nu, a alma desprotegida, a tua nudez me incomoda, e não quero estar ao teu lado na hora de dormir.

Queria o lençol inteiro para mim, queria ser só eu nesta cama, sem tua respiração que exala esta alma lânguida. Eu sinto frio e ouço os passos de ninguém. Eu não consigo, eu já tentei, me entregar ao sono ao lado do teu corpo nu, da tua alma lânguida.

O teu abraço distraído enquanto sonhas o que vais esquecer, me faz ter medo como uma criança procurando a mãe perdida no parque. Já desisti, já nem quero compartilhar o sono, o lençol, a cama contigo. E quem és tu que não conheço, não sei de onde vens, sei que não tens para onde ir.

Eu fito as tuas sandálias, as tuas coisas todas tão parecidas contigo, e então percebo que meu lugar não é aqui. Não sou de ninguém, nem de lugar algum.

A luz do sol aos poucos vai clareando o quarto, é o fim da noite vã, mas ainda há restos de noite deixados pelas cortinas fechadas. Está na hora de partir sem dizer adeus.

Agora sim, caminhando sozinha por entre a neblina, eu me vejo num sonho, eu fico a sorrir, um sorriso calmo, ingênuo, sem jeito. Bem-vinda ao acaso, o dia amanheceu e estou livre para voltar para casa, onde estarei em paz, eu sei.

Um comentário:

mauro disse...

romântica...