quinta-feira, março 09, 2006

Cortinas vermelhas


O sorriso esvoaçante, cabelos, vestido ao vento. Meus pais são tão lindos! Eles se amam tanto, sabe. Acredita que até hoje meu pai sente ciúme da minha mãe, e ela às vezes pergunta se ele o ama? Depois de tantos anos...

Ainda me lembro daquela noite. Viemos de mãos dadas rezando no carro, e ele correndo o carro, porque era tanto ódio que o carro precisava voar. Ela chorava com a boca, com as rugas, menos com os olhos. Não quero que eles se assustem, não, não, nada de choro.

Logo ao descer do carro, minha mãe recebe um tapa bem de junto do portão verde. Seus cabelos brancos esconderam a vergonha. Ela nunca pintou os cabelos, ele não queria que ela parecesse mais jovem. Os cacos de vidro misturados com whisky e a porta do banheiro quebrada. De nada adiantou se esconder no banheiro.

Ah, eles são lindos. É tão romântico. Minha irmã e seus dentes e bochechas sorridentes. Não acredito que ela está dizendo isso para essas pessoas. Não é, Aline? Sim, sim, respondo.

Minha irmã, a mulher forte, joga baldes de água no meu pai. Seu alcoólatra. E provocava com o cigarro no canto da boca aos 13 anos. Você não fuma? Então posso fumar também. Meu pai é todo beijos e lágrimas de junto da cama, envolto pelo cortinado e pela luz lânguida do quarto.

Ela diz que quer tomar banho de chuva, porque ama a chuva, a natureza, e gira no meio do mundo. Seus gestos são expansivos, sua voz quer falar para o público.

A chuva cai para ela como no cinema.

Nenhum comentário: