Eu costumava dizer que "de graça, topo até injeção na testa". Acho que foi por isso que aceitei o convite da minha tia para viajar à praia do Conde, na Bahia, com tudo pago por ela. Está certo que as intenções dela foram boas (eu não pagaria 180 reais por más intenções), mas há um conflito gritante entre o que eu penso sobre diversão e o que ela imagina que isso seja.
Tudo começou quando, ainda no ônibus, o líder da excursão se mostrou quando falou ao microfone e, em seguida, percebi que aquele era um grupo da igreja do Grageru ao ver o microfone ser entregue nas mãos do padre Raimundo. Lembro muito bem daquele padre, ele foi responsável por um trauma de infância.
Todo santo ano novo, minha avó me obrigava a passar a virada numa missa dele, e recordo que o tal padre (espero sinceramente que ele não leia esse blog) além de cantar MUITO mal, GOSTAVA de cantar, e demorava HORAS discursando. A frase da minha avó, que fingia amar o discurso dele enquanto dava capengadas na cabeça como quem quer dormir, cai como uma luva neste momento: no discurso de um padre, nos primeiros 10 minutos quem fala é Deus. Após meia hora, quem fala é o homem. Depois de uma hora, quem tagarela é o diabo, que afasta o fiel da igreja. -Amém-
Quando o padre começou a discursar no ônibus, eu fiquei ansiosíssima torcendo para que ele não ficasse rezando uma missa ali mesmo. Sorte a nossa que ele só proferiu algumas poucas palavras desejando boa viagem a todos, e rezou um pai nosso e uma ave maria.
Está bem. Ajeito a cadeira para me deitar, na esperança de dormir durante toda a viagem, afinal, havia acordado muito cedo e dormido apenas três horas. Daí que ligam o bendito DVD. Quem inventou o uso de DVDs em ônibus? Quem disse que isso é legal? Num ônibus existem diversas pessoas com diversos gostos - digo, ou será que eu era a única ali que não estava nem um pouco a fim de ouvir o Belo numa telona cantando com o Padre Marcelo para uma multidão?
Isso mesmo: o BELO. Mal pude acreditar. Ao ver o padre Marcelo num show olhando com cara de santidade para o telão com a imagem do cantor Belo, eu fiz instantaneamente a seguinte observação: O BELO NÃO É TRAFICANTE? Ok. Pára o mundo que eu quero descer! Quase solto esse comentário aos ouvidos de uma católica que estava ao meu lado, até ver que ela estava adorando o showzinho do Belo. Aí o padre Marcelo disse para não sei quantas milhares de pessoas do espetáculo: Meus queridos, quem gosta do Belo? Então batam palmas para o Belo!
Como se não bastasse o Belo, depois vieram os cantores sertanejos Daniel e Leonardo. E ainda teve Paulo Ricardo cantando Deus é dez num ritmo que só me fazia crer que ele havia feito uma versão religiosa para Olhar 43.
Chegando ao hotel, os companheiros de excursão viraram pessoas normais - ou seja, pediram cerveja e mandaram o garçon aumentar o som. E, claro, reclamaram que a cerveja estava quente. Só que existe um limite na minha cabecinha com relação a aceitar a normalidade da minha tia. Explico. Havia um brinquedo lá chamado tirolesa, que consiste num banquinho em que a pessoa se senta para então colocar as mãos numa barra fixada a uma corda, e em seguida a pessoa desce a toda velocidade a alguns metros de altura sobre um rio. Pois então. Meu primo (de uns 13 anos), filho da tia em questão, decidiu brincar na tirolesa, mas não estava acertando subir no banquinho de madeira. Toquem os tambores para o comentário da minha tia.
- Filho, senta nesse pau direito! - e depois solta uma gaitada.
Atenção para o meu semblante de "q!". Para completar, a católica fervorosa que estava ao meu lado diz "É pra aprender desde pequeno né?", e dá boas risadas em uníssono com minha tia, o que comprovava aos meus olhos pasmos que minha tia não havia dito "senta nesse pau direito!" por inocência.
Na volta, alguns passageiros proferiram um "woo-hoo" ao ouvir soar no ônibus uma cantora que cantava algo como Quem for mulher bate no litro, quem for mulher levante o litro e dá uma golada. Essa cena era pura contradição para mim, que a montava na minha mente junto ao piti que minha tia deu por eu ter tomado caipirinha.
- Caipirinha? Quem foi que tomou isso? Isso faz mal!
- Faz é bem, minha senhora - interveio o recepcionista.
E olha que nem dei bafón, ao contrário de certos senhores que estavam lá, mas enfim... Não demorou muito para a oposição (da mesma religião) tirar o DVD da banda que falava do tal litro e substitui-lo por um video de uma missa do Padre Zezinho - que era até melhor do que aquela música horrível de banda de forró eletrônico.
Agora que já estou em casa só penso que nunca mais tomarei um gole de álcool na frente de familiares, nem nunca mais quero ouvir piadas da minha tia. Talvez sejamos todos conservadores, cada um a seu modo. Ela não quer me ver tomando caipirinha, e eu não quero ouvir suas piadinhas. Saldo positivo: pelo menos estive numa praia linda e deserta, e me banhei numa lagoa de águas gostosas e azuladas.
9 comentários:
Sempre repeti para meus amigos que quando vou para viagens em família procuro saber logo quem vai, pq vão, qual o motivo, razão ou circunstâncias porque me chamaram...
Sempre que me chamam para fazer passeios com os familiares de Alagoas já fico preocupado. Todos eles são caretões e passaram a vida me criticando qdo eu tive cabelos grandes e usava brincos... ah! e ouvia "rock da pesada". Era sempre isso... mas ninguém prestava atenção que eu me isolava disso tudo e ia ler um livro do Drummond ou Pessoa. E eles, os caretões, todos bebados e falando mal dos outros.
Eu? eu estava lendo Drummond ou Pessoa lamuriando a vida tal como eu naquele momento. Era de fato uma conversar para bois dormirem...
Uma hora a gente acerta, noutra...
Qdo a família era do lado dos baianos ficava mais fácil pq boa parte tinha certos modos de vida próximos ao meu. Então facilitava pelo menos enquanto o axé não tocava..
porra, seus familiares estavam certos! "rock da pesada"? kkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Essa história merece um filme!!
Agora vou ficar muito esperto quando minha tia me chamar p viajar!
"Sinto cheiro de Canção Nova, Bataman!"
kkkkkkkkkk
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Canção Nova?
JESUS, APAGUE A LUZ!
:p
vai ver na religião de sua tia, sentar no pau é santo. mas beber é coisa do capeta.
minha fia, aquilo ali é só brinks mesmo!
ai se meu primo resolvesse virar gay... hum... quero nem pensar!
A benção do pau santo!
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