quarta-feira, outubro 22, 2008
Então ele posiciona as mãos de modo a formar um quadro através do qual ele me observa por trás de uma câmera imaginária. Situa-me no centro desse quadro. Dirige o olhar fixamente para os meus olhos, como uma espécie de voyeur contemplativo. É alguém que me espia, que está à espreita. O jogo entre o olhar do voyeur e aquele que está sendo observado, o objeto que se torna consciente da sua condição. Todo o lirismo da sedução e do desejo tendo como foco o olhar... Ao fim, tudo se torna pura imagem, e o olhar se confunde num ponto sem extensão entre o observador e o observado. O personagem que olha diretamente para a câmera. O espectador através da câmera. Cópula visual entre o que é visto e o sujeito do olhar, invertendo seus papéis ao infinito. Meus olhos resistem, eles perdem o foco, mesmo mantendo-se na mesma direção. Percebo que ele havia deslocado brevemente o olhar, para depois regressar a mim, mas seus olhos, assim como os meus, haviam perdido o foco. Nossos olhos, então, se separam, e eu sinto a quebra de um encanto; parecia que um filme havia terminado, e tinham acendido as luzes do cinema - cinema de nós dois. Os outros teriam notado aquele jogo de olhares? O jogo havia realmente acontecido?
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Um comentário:
gosto desse tipo de texto.
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