sexta-feira, setembro 01, 2006

Características do mercado cinematográfico estadunidense e do latino-americano

“A criação de um mercado comum de imagens é um dos desafios da busca de uma cultura dita global” (Mattelart, 2002)

Costumamos ir ao cinema no shopping e assistir a filmes estadunidenses. Por trás dos cartazes e das grandes telas existe um imenso mercado cinematográfico em que são vendidos cerca de 10 bilhões de ingressos por ano.

Na indústria cinematográfica, normalmente as produções estadunidenses correspondem a 85% do público de cinema no mundo. Na América Latina não é diferente, e por volta de 85% dos filmes exibidos nos cinemas na região são produções vindas dos EUA. Em países como Costa Rica e Chile a dominação do cinema estadunidense no mercado é ainda maior, e as películas provenientes de Hollywood representam 95% do mercado.

A indústria cinematográfica faz parte dos intercâmbios de bens culturais. Três quintos dos fluxos de bens culturais provém de 13 países, sendo que 87% dos lucros produzidos através de bens culturais e meios de comunicação de massa se concentram na comunidade européia, no Japão, e nos EUA. Apenas 13% dos lucros pertencem aos demais países do mundo.

A atividade cinematográfica apresenta três fases: produção, distribuição, e exibição. Os estúdios são responsáveis pela produção do filme. As empresas distribuidoras promovem a publicização e comercialização das produções. As exibidoras projetam os filmes nas salas de cinema.

Os Estados Unidos dominam as três fases do mercado cinematográfico. Quanto à produção, os grandes estúdios se localizam em Los Angeles, e conhecemos os letreiros de Hollywood. Atualmente, existem sete grandes estúdios de produção: Disney, Warner Bros, MGM-UA, Sony Pictures, Paramount, Universal 20th Century Fox. Desses, Sony, Universal e Fox são propriedades, respectivamente, de companhias originárias do Japão, Canadá e Austrália. Segundo o inglês David Puttnam, antigo chefe da Columbia Pictures, pertencente à Sony, hoje em dia nenhuma companhia de entretenimento fora dos Estados Unidos é capaz de distribuir uma película em todas as nações da Europa.

As empresas que dominam a distribuição são as majors, ou distribuidoras filiadas aos estúdios estadunidenses que distribuem os seus produtos em todo o mundo. As maiores empresas do setor formam grandes conglomerados através da integração vertical entre produção, distribuição e exibição. Octavio Getino faz a seguinte classificação com relação às distribuidoras latino-americanas:

Distribuidoras estrangeiras: seriam filiais das majors e responsáveis pela comercialização apenas dos filmes dos estúdios a que estariam vinculadas. Algumas delas seriam UIP, Buena Vista, Columbia Tristar.

Distribuidoras locais de filmes estrangeiros: seriam conhecidas como “independentes” e, segundo a definição de Getino, são formadas por capital local e não teriam vínculo com nenhum estúdio, mas selecionariam os filmes a serem comercializados em festivais, como por exemplo, Lumière, Art films, Europa filmes.

Distribuidoras nacionais: são formadas por capital local e a maior parte dos filmes que comercializam é nacional. No Brasil, um exemplo desse tipo de distribuidora foi a Embrafilme, criada durante o governo militar.

As empresas exibidoras estrangeiras são donas das multiplex, ou salas múltiplas que ficam em shoppings e se localizam em centros urbanos. Elas costumam apresentar filmes blockbuster, que estream simultaneamente em centenas de cidades nos cinco continentes. O grande número de filmes blockbuster nas salas de cinema tem relação também com as estratégias de distribuição, pois 95% dos filmes comercializados pelas majors são dessa categoria.

Os números de salas e de espectadores vinham caindo vertiginosamente na América Latina, até que com a chegada das multiplex voltaram a crescer. Entretanto, as salas de cinema ficam concentradas nas grandes cidades, pois as grandes empresas exibidoras só se interessam pelas cidades com mais de 400 mil habitantes.

É importante salientar que a dominação dos Estados Unidos no mercado cinematográfico não é produto de forças do mercado que operam a favor de Hollywood. A atividade cinematográfica estadunidense nasceu com forte impulso estatal, dado que se mostrava um mercado promissor. O governo dos Estados Unidos apoiou o desenvolvimento de sua cinematografia nos mercados externos, especialmente através dos Departamentos de Comércio e de Estado.

Se em qualquer país latino-americano os filmes hollywoodianos representam de 70% a 100% das produções exibidas, nos Estados Unidos 93,9% dos filmes exibidos em 2002 eram daquele país.

O mercado doméstico de cinema dos EUA é o maior do mundo. Os Estados Unidos têm o maior número de salas por habitante, e há 26 mil salas e cerca de 1,2 bilhões de espectadores, sendo que 98% dos longas comercializados nesse país são ali produzidos . O preço do bilhete custava aproximadamente 6,03 dólares em 2004, e a arrecadação foi em média 9,491 bilhões de dólares nesse mesmo ano.

Em 2003, os EUA tinham por volta de 12,3 salas para cada 100 mil habitantes, e a freqüência dos espectadores era de em média 5,39 vezes ao ano . A arrecadação do mercado cinematográfico estadunidense em 2004 foi superior em 92% à arrecadação da União Européia, conjunto de países que ocupa o segundo lugar em ingressos em bilheterias de cinema.

Um dos elementos da concorrência desleal nos mercados cinematográficos na América Latina é o fato de que as empresas produtoras estadunidenses pagam os custos de seus filmes já no seu país, que apresenta um amplo mercado doméstico, enquanto que as latino-americanas terão ainda de conquistar seu mercado interno para obter algum lucro. O lucro das empresas produtoras estadunidenses nos países da América Latina é neto, menos os custos com publicidade e cópias.

A atividade cinematográfica no mundo apresenta grandes desigualdades quando, por exemplo, os Estados Unidos detém com a ajuda de diversos subsídios 10% da produção mundial, e 90% do mercado de distribuição . Dentro da América Latina também existem grandes desigualdades.

“Mas se a linha divisória Norte/Sul já não basta para definir o atual estado do planeta, as desigualdades estruturais das décadas anteriores não sumiram assim. O que perturbou a representação maniqueísta do mundo foi que o Norte descobriu seu próprio território dos Suis e que, no coração mesmo do Sul, emergiram Nortes que trazem consigo seus Suis” (Mattelart, 2002)

Num país como a Argentina, com 38,6 milhões de habitantes, e PIB de 249,9 bilhões de dólares, são feitos em média 90 filmes por ano com a ajuda de 25 milhões de dólares em subsídios estatais, enquanto que no Uruguai, com 3,4 milhões de habitantes, e PIB de 12 bilhões de dólares, a média é de 3 filmes por ano, e há escassos investimentos públicos.

Considerando que os filmes latino-americanos têm pouca aceitação no exterior e devem reverter os custos no mercado interno, enquanto que os EUA têm um amplo mercado interno e a produção cinematográfica estadunidense tem respaldo em todo o mundo, fica difícil para um país como o Uruguai ter atividade cinematográfica sem políticas públicas de incentivo à produção audiovisual. Sem incentivo, nem Brasil, Argentina, ou qualquer país latino-americano teria cinema.

A formação de leis audiovisuais nos países latino-americanos, além das iniciativas de co-produção são essenciais para o desenvolvimento da cinematografia da região.

Bibliografia:

MATTELART, Armand. A globalização da comunicação. Bauru: EDUSC, 2002. Cap. VI.

GETINO, Octavio. El cine en el Mercosur y países asociados.

MORAES, Denis. A hegemonia das corporações de mídia no capitalismo global.

ARAÚJO, Taíssa Helena de Barros e CHAUVEL, Marie Agnes. Estratégias de promoção no lançamento de filmes norte-americanos no mercado brasileiro: um estudo de caso.

ARIAS, Fernando. Diversidad cultural en la exhibición cinematográfica en la Argentina.

RUIZ, Enrique E. Sánchez. El empequeñecido cine latinoamericano e la integración audiovisual.

PERELMAN, Pablo e SEIVACH, Paulina. La industria cinematográfica en la Argentina: entre los limites del mercado y el fomento estatal.

ROVITO, Pablo. Reflexiones sobre la exhibición cinematográfica en la Argentina.


Tatiana Hora

Parte do meu relatório.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom! Foi bem esclarecedor quanto aos porquês do sucesso Hollywoodiano. Parece que investir na produção filmes por conta do óbvio benefício cultural, não é suficiente aos Estados latino-americanos. Eu apoiaria, já que detesto boa parte dos filmes 'blockbuster'. Não por ideologia, mas pq acho-os muito xoxos, muito mais-ou-menos.

Só achei seu texto um pouco pesado ao público leigo - no qual me incluo. É uma pancada na cara, toda essa tijolada de dados. Enfim, eu até compreendo, porque é parte de um relatório... kkkkk!

tatiana hora disse...

pô, eu não curto muito dados também não, viu? mas nessa pesquisa eles eram essenciais. gostei de ter pesquisado sobre o assunto, apesar de não curtir números e tal.

tatiana hora disse...

ah sim, e obrigada por ter elogiado essa parte do meu trabalho. eu me fudi tanto pra fazer esse bendito relatório!

Anônimo disse...

Eu também gostei das matérias anteriores: sobre o cinema em Sergipe, sobre doação de leite. É que não costumo comentar que só "gostei". Me parece um tanto superficial, ambíguo até. =)

Anônimo disse...

eu acho que vc deveria publicar isso no overmundo. já está virando febre aquele troço lá. e diga-se de passagem, tem umas pessoas que adorariam comentar coisas do tipo: "é, mas como podemos constatar no livro 'A gênese do mundo capitalista na rota do cinema hollywoodianos na mente de kafka e james joyce' que a vida é uma caixinha de surpresas"
adoro o overmundo, pqp!

tá, nada a ver com o texto, so to tentando te incentivar :P

sim, sexta eu já chamei thiago e vou falar com debora e lu pra gente ir tomar umas no acapulco. bora?

Anônimo disse...

ah. esqueci de dizer, mas ainda dá tempo: se achou, hein nega?
texto maravilhoso. vc se daria bem escrevendo artigos. e livros. ainda quero aquele "A soluçao do mundo é a putaria" autografado

:*

Anônimo disse...

ah. esqueci de dizer, mas ainda dá tempo: se achou, hein nega?
texto maravilhoso. vc se daria bem escrevendo artigos. e livros. ainda quero aquele "A soluçao do mundo é a putaria" autografado

:*

tatiana hora disse...

kkkkkkkkkkkkk
essa débora...
oxe, minha fia, tá marcado!
agora, eu apareço depois da minha aula de psicologia, que vou apresentar um trabalho na sexta.
tô com saudades de vocês #)